quinta-feira, março 26, 2009

Simone




Filme tira sarro com a fama e a ilusão de Hollywood

Direção e roteiro de Andrew Niccol
Elenco: Winona Ryder (Nicola Anders), Jay Mohr (Hal Sinclair), Catherine Keener (Elaine Christian), Al Pacino (Viktor Taransky), Evan Rachel Wood (Lainey Christian Taransky), Rachel Roberts (III) (Simone)

O diretor Viktor Taransky (Al Pacino) está à beira da derrocada. Seus últimos filmes foram um fiasco e a atriz principal do que seria sua próxima produção abandona o projeto depois de fazer gato e sapato da produção. Por sorte ele recebe de um cientista maluco um programa de computador capaz de simular digitalmente uma atriz. Batizada de Simone ou Simulation one, a nova atriz digital é um sucesso nunca antes visto em Hollywood, se tornando um mito de proporções estrondosas.
Viktor acaba se revoltando contra sua obra, tenta sabotá-la, difamá-la, destruí-la com um vírus e até contar a verdade. Ninguém acredita e o criador corre o risco de ser destruído por sua própria obra.
Escrito e dirigido pelo excelente Andrew Niccol de Gattaca, Simone aposta no absurdo para conseguir zombar da realidade. O nome Viktor não nega a comparação com o médico Viktor Frankenstein cuja obsessão de criar uma nova vida acaba se tornando sua maldição a medida em que toma ódio de sua própria criatura.
Da mesma forma que seu xará Frankenstein, Taransky não mostra muita lógica ao repudiar sua própria criação. Fica apenas nervosinho e enciumado. Algo meio sem lógica, já que teoricamente, ele é a própria criatura.
Enfim, o filme acerta ao debochar da idolatria e da ingenuidade de Hollywood em relação aos seus mitos, mas peca ao não conseguir mostrar de maneira convincente o que torna Simone tão maravilhosa assim. Ao invés de tentar criar cenas que mostrariam a tão falada interpretação de Simone, vemos partes claramente caricaturais. Uma opção da direção justificada até certo ponto: para que tentar mostrar uma super atuação se a idéia é ser irônico? Por outro lado, nunca somos convencidos a acreditar em Simone o que gera uma distância entre o expectador e o que se passa no filme. Em determinado momento, até as (muitas) celulites de Rachel Roberts, que interpreta Simone dão o ar de sua graça, algo meio estranho para um programa de computador que deveria criar a mulher perfeita.
Mas Simone vale justamente pela lógica absurda que nos obriga a enxergar o contra-senso que envolve a criação de determinadas celebridades. Basta lembrar da mídia brasileira que transforma em celebridades pessoas cujo grande mérito foi engravidar de alguém famoso, aparecer em algum Big Brother tão despido de caráter quanto de roupas, ou mesmo políticos que conseguem se reeleger após serem presos e terem sua culpa comprovada e estampada nos jornais.
Assim, Simone deixa uma pulga atrás da orelha do expectador: será que o filme realmente é caricato ou estamos em uma realidade tão absurda que não acreditamos quando ela nos é jogada na cara?

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