quinta-feira, dezembro 28, 2023

Ciência x Religião – fuja dos mortos da extrema direita, tema os vivos da extrema esquerda.

 

Existem similaridades irônicas entre o meio acadêmico e alguns princípios religiosos. Os evangélicos costumam usam a expressão “do mundo”, tipo, eu sou músico e já toquei música “do mundo” e agora só toco coisas da igreja.

No meio acadêmico também existe isso, só que, nas igrejas gostam de pensar que tem grandes respostas, além da salvação para a humanidade e devem compartilhar isso com o maior número de pessoas possível, incluindo muita cantoria nos ouvidos dos vizinhos, pregações na rua e por aí vai.



Na academia é o contrário, os eventos são para poucos, as respostas sempre questionadas, a divulgação é mínima e a interação e retenção de conhecimento só são rompidas em troca de muito dinheiro.

Os EUA encontraram uma solução bizarra e cômoda: mantém uma população com um nível educacional baixo e ainda difundem culturalmente que educação demais é exagerado, não é de bom tom. Aí, dão bolsas especiais para os gênios de diversos países para que levem suas pesquisas para a terra do Tio Sam. Assim, mantém uma população com um nível cultural que o governo considera mais dócil.

No Brasil é um pouco diferente. Quem se propõe a ser acadêmico tem alguns mimos e ainda tem a possibilidade de flertar com o grande pote de ouro da nossa sociedade há 300 anos que é os benefícios dos concursos públicos. Mas é importante frisar que uma coisa não é exatamente igual a outra. Quem realmente pode passar no concurso público são os concurseiros, um grupo oriundo da classe média alta que pode dedicar de dois a cinco anos de suas vidas para passar em um concurso e continuar fazendo parte da classe média alta.

A sociedade criou uma dependência dos avanços acadêmicos de forma mais efetiva do que um viciado depende de drogas fortes como a cocaína, o crack ou o Rivotril. E a academia ganha suas migalhas da indústria para produzir mais inovações como computadores mais rápidos, celulares melhores, drones, carros elétricos, etc. Mas eu confesso que preferia que essa relação fosse mais parecida com a das igrejas. Queria ver gente pobre lotando auditórios e pagando dízimo por aulas de biologia, física, ainda que aplicadas ao dia a dia. Já que falam tanto em matérias que sejam mais práticas nas rotinas diárias, que tal filosofia com ênfase na ética? Nada mais útil e transformador para a rotina do brasileiro.

Enfim, parafraseamos Carl Sagan que alertava 40 anos atrás que vivemos numa sociedade que é absolutamente dependente de tecnologia onde 90% das pessoas não entende nada de tecnologia.

Nunca um astronauta vai bater na sua porta perguntando se quer conhecer a palavra de Sir Isaac Newton, mas é bom avisar que já é de conhecimento público que os carros elétricos já vêm com aviso de que, quando apresentam defeitos, são jogados fora por falta de mecânicos que entendam aquela tecnologia.

Do outro lado as igrejas fazem parte dessa intrincada conspiração silenciosa, tentando transformar Darwin em uma espécie de demônio e apelidaram a ética de “ideologia”, um novo palavrão o qual não sabem explicar. Nem cogitam que a religião seja uma ideologia. Nos últimos anos flertaram abertamente e promiscuamente com o fascismo se negando a aceitar que o que faziam era fascismo, “apenas somos contra essas ideologias”, afirmam até hoje.

 Tudo isso se torna tão lamentável quanto desnecessário. Igreja, fé, religião não são elementos naturalmente antagônicos à ciência. Ao contrário, é comum que criações tecnológicas recentes sejam usadas rapidamente por religiosos e arrisco dizer: por que não usar esses elementos para combater o estresse, aumentar a interação presencial, a socialização, ou mesmo uma fuga da realidade necessária. Pois como diria a autora americana Shirley Jackson, “Nenhum organismo vivo pode existir muito tempo com sanidade sob condições de realidade absoluta; até cotovias e gafanhotos, supõem alguns, sonham. ”

O fato é que o meio acadêmico gosta do isolamento, rejeita os divulgadores científicos porque compactua com a exclusão. E assim caminhamos para uma distopia de um apocalipse zumbi como a série The Walking Dead, onde temos que fugir de zumbis que estão mortos, sem capacidade cognitiva, mas ao mesmo tempo temer os vivos, ávidos por neutralizar ou cancelar quem se atreve a expor questionamentos que fujam aos dogmas preestabelecidos. Enquanto isso, a grama está sempre cortada, as casas estão limpas, a gasolina, a comida e a munição nunca acabam, estamos sempre com roupas boas, os cabelos cortados, a barba aparada. E assim a vida segue, sem saber em qual notícia podemos confiar, mas sem perder a pose porque o Instagram tem que estar sempre com um conteúdo atrativo, não necessariamente verdadeiro.