terça-feira, julho 30, 2019

Diário de um peladeiro XXI


Pelada foi boa. Com muito dificuldade estou conseguindo segurar mais a bola para poder criar jogadas ao invés de ficar parado embaixo da trave esperando passes perfeitos. Algo me diz que, por causa da dor no púbis, eu não deveria estar jogando. Mas se eu parar, é pior.
Fiz um gol exatamente debaixo da trave depois de um passe perfeito. Achei engraçado que até gente do time adversário comemorou. Fiquei com a impressão que eles leem o meu diário e torcem por mim.

Saldo de 2019:
21 jogos
15 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

quarta-feira, julho 24, 2019

Morre Rutger Hauer


Um dos ícones dos anos 80, ator holandês morreu no dia 19 de julho


Morre um dos ícones dos anos 80. O ator Rutger Hauer estava com 75 anos e morreu em sua casa na Holanda. Sua morte foi comunicada pela família e pelo empresário como causada por uma “breve doença” não especificada.
Rutger Hauer era holandês e fez vários filmes marcantes, embora nenhum verdadeiro campeão de bilheteria. Foi o vilão de Falcões da Noite (1981), excelente triller policial com Silvester Stallone e Billy De Willians. O Casal Osterman (1983), baseado no livro de Robert Ludlum. Conquista Sangrenta (1985), A Morte Pede Carona (1986) e os mais conhecidos no Brasil: Blade Runner (1982) e O Feitiço de Aquila (1985). Uma curiosidade é que o belo filme de Richard Donner, o mesmo feliz criador de Máquina Mortífera, Goonies e do primeiro Superman, foi um fracasso de bilheteria mundial. Entretanto, no Brasil, o filme é cultuado, graças a Sessão da Tarde. Não é difícil encontrar no Brasil mulheres chamadas Ethienne em função do personagem interpretado por Hauer.
Seu talento foi reconhecido com o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante em filme para a tevê em 1987 pelo filme Fuga de Subibor.
Já na década de 90, Hauer continuou na ativa, mas sem papéis de destaque em filmes do primeiro escalão de Hollywood. Ainda assim, Hauer protagonizou um episódio marcante em 1993 quando se deu início à produção de Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan. Recheada de grandes astros da época como Tom Cruise, Brad Pitt e Antônio Banderas, a produção foi abalada por declarações de Anne Rice, autora do livro, que berrava aos quatro ventos que não concordava em ter Tom Cruise como o endiabrado vampiro Lestat.  Rice afirmava, para quem quisesse ouvir, que se inspirava na figura de Rutger Hauer para criar Lestat e ele é quem deveria viver o vampiro no cinema. Os produtores, infelizmente, não atenderam ao pedido da autora alegando que Hauer, na época com 49 anos, estaria velho demais para o papel.
No século XXI, o ator era figura presente como coadjuvante de luxo em filmes como Batman Begins e Sin City. Um sinal claro do reconhecimento do talento inegável deste ator.
Em 2007, o ator lançou sua autobiografia " All Those Moments: Stories of Heroes, Villains, Replicants, and Blade Runners". Em 2013 foi nomeado Cavaleiro da Ordem do Leão Neerlandês por serviços prestados à dramaturgia.
Ator e diretor, Rutger Hauer também era ambientalista, sendo um dos patrocinadores do Greenpeace e criador de uma ONG chamada Rutger Hauer Starfish Association, dedicada a esclarecer dúvidas e quebrar tabus sobre doenças sexualmente transmissíveis.
No clássico Blade Runner, ele interpreta Roy Batty, seu personagem mais emblemático. Um replicante, um androide que foge para procurar seu criador em busca da cura para uma doença chamada morte. Ele queria mais tempo de vida que os quatro anos padrão para os androides do filme.
Roy, assim como Rutger Hauer morreu em 2019. Suas últimas palavras foram improvisadas num monologo do ator e se tornou uma das cenas icônicas do cinema:

“Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.

sábado, julho 13, 2019

Diário de um peladeiro XX – O mico veio receber, mas não paguei




13 de julho de 2019. Veio a pelada de sábado e eu me excluí desde quinta porque estava gripado. Deixei de ir ao cinema porque estava até com dor nas costas, imagina jogar futebol com o pulmão virtualmente quebrado. Nada mais racional e coerente que esperar mais uma semana até estar recuperado, correto? Eu posso ser racional, mas coerente... Como diria meu amigo escritor, o Carlos Cardoso, o negócio é ser contraditório.
Como havia pouca gente e a opção era ficar em casa jogando “Alien – Isolation” no computador, resolvi, então, me aventurar apenas como goleiro; para ver se aguentava. Cheguei lá, arrisquei a ir na linha e, para surpresa geral, eu estava com um fôlego melhor que quando não estava doente. Não entendi nada. Parece que o mundo é assim, sem lógica, sem coerência, sem racionalidade. Quem sou eu para reclamar? Fui jogar e enquanto aguentava correr, corri. O fato é que acabou a pelada e eu ainda não estava cansado. Nem parece a pessoa que não aguentava falar na terça-feira.
Lógico que não forcei, não corri tanto. Na verdade não corri quase nada. Arrisquei poucos dribles. Errei um monte de passe. Mas se não tive a melhor atuação do ano foi mais por conta da coluna que pela gripe. Por falar em coluna, hoje ela me irritou. É como jogar futebol fantasiado com aquelas roupas de mascote. Medo absurdo de fazer qualquer movimento que lembrasse a famosa “ginga” do filme do Pelé. Medo de gingar e a coluna se partir. Acho que no fundo eu sei que isso vai acontecer cedo ou tarde e adeus futebol. Então, permaneço o verdadeiro homem de lata com a bola nos pés.
Arrisquei 4 chutes. Um foi gol, outro bateu na trave, outro foi uma bela jogada de troca de passes que o zagueiro bloqueou em cima e finalmente um o goleiro defendeu.
Saí feliz. O gol foi uma jogada linda do amigo Vitão que só tive o trabalho de chutar no canto longe do goleiro.
No final, fui recebido por dois macaquinhos da UFJF, os miquinhos, conhecidos por Callithrix penicillata, sagui-de-tufos-pretos, mico-estrela ou simplesmente sagui. Espécie que habita as matas que cercam Juiz de Fora e principalmente o Campus da UFJF. Os miquinhos estranhamente vieram para meu lado, como se cobrassem alguma coisa. Foi aí que percebi. Ao contrário do esperado, mesmo sem estar totalmente recuperado da gripe, eu não paguei nenhum mico. Melhor assim.

Saldo de 2019:
20 jogos
14 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

terça-feira, julho 02, 2019

Diário de um peladeiro – Parte XIX – Sobre foco, motivação e os cadáveres do Everest

Se não me engano, foi o cara do “Dicas do He-Man” que escreveu lá pelos idos de 2017: “Lembre-se. Todo cadáver no Everest já foi alguém extremamente motivado”. Este ano, alguém teve a sacada de colocar um adendo para dar uma alfinetada, talvez uma flechada, na modinha dos Coachs. Assim, ficou: “Dica anti-coach – Lembre-se que todo cadáver no Everest já foi uma pessoa extremamente motivada e fora da zona de conforto”.
Esse “espírito de coach” me acompanha desde meu primeiro emprego em Juiz de Fora, como vendedor de cursos de inglês. Estavam na moda alguns gurus do entusiasmo como Lair Ribeiro, Paulo Coelho, James Redfield e Richard Bach outros “trocentos” autores que se especializaram em criar maneiras mais coloridas de nos dizer que há esperança. Pessoalmente, nunca levei muito a sério estes autores, mas gosto de como abordam a questão da esperança. De quando afirmam que vivemos em um mundo onde ter esperança e ser otimista pode fazer a diferença para alcançar um resultado. Na prática, claro, a coisa não é bem assim. Nos acostumamos a ver casos de sucesso de um Neymar, Usain Bolt, Pelé, Mohammed Ali, como se fossem a regra quando, na verdade, são raras, muito raras exceções. Para cada Romário na Vila da Penha, tem mil moleques que morreram e não é figura de linguagem. Mas é justamente aí é que está a beleza dos livros de autoajuda. Quando nos fazem perceber que temos sempre uma escolha. Um dia, certamente, todos nós vamos morrer. Mas podemos ser aquele cadáver no Everest ou aquela pessoa que morreu com bala perdida dentro de casa. Se for para cair, escolho cair atirando. Simples assim. 
O grande erro destes entusiastas da autoajuda para mim está na simplificação. O mundo não é feito de vencedores e perdedores. Este conceito é subjetivo, pois a vitória pode estar apenas na persistência e grandes vitoriosos como Elvis Presley ou Michael Jackson me dão a impressão de uma vida terrivelmente infeliz, talvez eu trocasse minha conta bancária com a do Rei do Pop, mas não trocaria de vida com ele. Mas até nisso, os livros de autoajuda são úteis, pois foi o próprio Lair Ribeiro que definiu que há uma diferença grande entre sucesso e felicidade. Sucesso é conseguir o que você quer. Já a felicidade é um estado interno. Para ser feliz, basta gostar do que você tem. Quantos pobres miseráveis conhecemos e temos a impressão que são pessoas felizes? Enquanto há pessoas bem sucedidas que estão em estado contínuo de infelicidade. O contrário certamente também acontece. Mas este é o ponto. A felicidade não depende do sucesso, muito menos dos Coachs.
Enfim, a ideia deste blog não é contar uma história de sucesso normal, mas simplesmente de uma luta para não ficar parado. Dificilmente alguém no Fantástico vai querer entrevistar um blogleiro que sai feliz apenas por ter estado em mais uma pelada. Mesmo que não faça gols. Digo isso porque, eu também não saio feliz quando não faço gol. Acho que o gol carrega uma simbologia maravilhosa. Gol vem do inglês “goal”, ou seja “Objetivo”.
Dito isso, na 19ª pelada do ano, eu não fiz gol. Havia uns cinco jogos que isso não acontecia. Foi a chamada incompetência, sim, mas houve muitas chances. Apesar de estar bem mais gordo a cada semana, parece que meu corpo se acostumou. Chutei ao gol umas quatro vezes. Em duas o goleiro defendeu.
Também catei no gol. O povo elogiou e fiz boas defesas. Teria feito mais se não fosse o medo de saltar na bola e separar o tronco do resto do corpo. Fora isso, foi uma pelada legal. Com a galera nova que veio da pelada de segunda. Povo bom de bola e simpático. Deu um pouco de confusão por ter muita gente e fiquei com medo deles terem uma impressão ruim da pelada. Mas é um troço esquisito. Na última vez deu gente de menos. Agora, deu gente de mais. Para quem cresceu em times certos e escolinhas, acho que nunca vou acostumar com falta de gente para jogar futebol. Coisas de Minas Gerais que nós do Rio não entendemos.
Dei passes para uns 5 gols, coisa que não costuma acontecer. Pelé dizia que dar o passe, às vezes, é tão importante quanto fazer o gol em si. “Às vezes, só tem o trabalho de tocar na bola, entende?”. 
No final, fiquei feliz, mesmo, por estar ali, por ter vindo, por ter participado, por ter feito este movimento de resistir à inércia de ficar em casa. Mas o objetivo... Este não foi cumprido. Talvez tenha jogado até melhor. Mas na vida a gente tem que ter foco. Ano passado, neste mesmo dia, eu já estava com uns 9 gols a mais e uns 10 quilos a menos. Bora correr. Bora caminhar.
Para piorar, peguei uma gripe domingo e estou com ela até hoje, terça-feira. Por isso que o texto não saiu antes. Enfim, quando as coisas dão erradas também faz parte do jogo. Os cadáveres do Everest estão aí para provar. Eu sempre imagino que morreram felizes, porque morreram tentando. Porque caíram atirando.
Saldo de 2019:
19 jogos
13 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Ao contrário da maioria dos brasileiros, ele nunca foi a Harvard, mas publicou quatro livros, sendo um de futebol. É perna de pau assumido, mas não se importa com isso.



Diário de um peladeiro – Parte XVIII – Roberto Carlos e O Senhor dos Anéis

25 de junho de 2019
Composição de Roberto e Erasmo Carlos, Detalhes, enfatiza em seus versos que “detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes para esquecer”. Quem fez o link desta lição filosófica musical com o futebol foi meu amigo Marcelo Alvez Pereira. Nos distantes anos 80, ele me viu chutando a bola no campinho no Moinho de Vento, em Barra Mansa-RJ, e observou que eu não tinha o hábito de mirar. 
- Por que não chuta no gol? – perguntou. 
Respondi que tentava chutar o mais forte possível e não estava preocupado com para onde a bola ia. Tentava apenas imprimir força e acertar o muro. O gol era um detalhe.
- Mira no gol! – insistiu. – Assim, quando você estiver num jogo, vai ter mais chance de mirar corretamente.
- Mas isso é um mero detalhe – repliquei irritado.
Marcelinho cantou exatamente o trecho da música. “Detalhes tão pequenos de nós dois. São coisas muito grandes para esquecer”.
Eu ri daquilo, mas passei a mirar apenas porque ele estava enchendo o saco. Com o tempo, esse detalhe realmente fez a diferença na minha breve carreira futebolística.
Marcelo estava lá em casa quando eu e meu irmão tivemos nosso primeiro contato com o mundo mágico de J.R.R. Tolkien, vimos o trailer de O Senhor dos Anéis. Mas não era o de Peter Jackson. Isso aconteceu muito antes. Tratava-se da fantástica animação de Ralph Bakshi de 1978. Provavelmente assistimos em 1986. Tratava-se da mesma produção que apresentou Tolkien a Peter Jackson. Vimos o desenho em casa e depois disso eu procurei os livros para comprar. Das milhares de coisas que me saltaram os olhos naquela epopeia fantástica, estava as relações de amizade e lealdade entre os personagens. Nos apêndices da história, hobbit, Peregrin Took, batiza seu filho de Faramir, homenageando um humano, antigo companheiro de batalha.
Na pelada de hoje, 24 de junho, voltei a jogar futebol de salão depois de muitos anos. A última vez foi em setembro de 2013. Quase seis anos. Exatos 13 quilos atrás. Na época, fiz seis gols numa única partida. Até hoje, um dos gols mais bonitos. Uma bomba no ângulo do meio de campo da qual provavelmente voltarei a falar muito nesta coluna pseudofutebolística, pseudofilosófica e verdadeiramente autorreflexiva.
A noite não estava tão fria quanto nos outros dias. Joguei com uma turma do ICHL - Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFJF. O que me leva a automaticamente a simpatizar com todo mundo ali. Eram, afinal, companheiros de balbúrdia.
Fiz a coisa certinha de novo, subindo um morro a pé para aquecer antes. Falar que meu preparo físico melhorou, mas ainda está uma droga, virou lugar comum nesta coluna literária. A novidade é que, desta vez, a região lombar da coluna voltou a doer. Acho que foi a primeira vez no ano. O futebol de salão te cobra mais “ginga” aquela versão da “força” de Star Wars que, segundo o filme do Pelé, todo brasileiro tem. Sim, nós somos os Jedi do futebol. Claro, que, se você quebra sua coluna na sexta vértebra lombar, você perde a ginga. Então, estou há 12 anos tentando aprender o jeito alemão cintura dura de jogar. 
Até que não fui mal. O fôlego está voltando. O time estava com um problema sério de posicionamento, mas quem liga? A ideia é correr, chutar a bola, esquecer dos problemas e, no meu caso, entender como anda a minha ansiedade. E é aí que veio a melhor notícia. Só encontrei resquícios dela. Praticamente foi embora. Algo interessante de se perceber num grupo em que eu não sabia o nome de ninguém e vice-versa.
Fiz um gol, chutando de primeira no meio das pernas do goleiro e dei passe para outro. Devo ter dado uns cinco chutes. Me lembro que em um deles, eu estava livre, na meia direita. Deu tempo de escolher como iria chutar. Como era salão, escolhi de bico, forte. Tentei mirar como o Marcelo ensinou. Mas os detalhes, sempre os detalhes... o bico não pegou como deveria na bola e o chute saiu mascado. 
Em outro momento, na prova definitiva que minha ansiedade está de malas prontas para voltar para o inferno, é que me julguei digno de roubar uma bola no meio de campo, driblar dois adversários e o goleiro. O que dá 85% do time. No último drible, porém, veio o detalhe. A bola foi um pouquinho forte demais e eu rápido de menos. Perdi o ângulo e junto com ele o que seria meu gol mais bonito de 2019. Tudo por detalhes tão pequenos de nós dois: eu e a bola. 
Sério, me senti como o Gollum perdendo seu precioso anel nas cavernas. Pensei todos os “ses” que poderiam ter me levado a conseguir fazer aquele gol: “Se eu tivesse colocado um pouco menos de força ao driblar o goleiro”, “se eu tivesse um pouco mais de agilidade”, “se eu tivesse uns 20 anos a menos”, “se tivesse voltado para a academia”, “se minha coluna não estivesse se quebrado 16 anos atrás”.
O futebol é como a vida. Os erros e os acertos estão nos detalhes. Marcelo estava certo. Claro que estava. A gente segue nesta jornada tentando resgatar o futebol perdido depois de 12 anos parado. “Você pode encontrar as coisas que perdeu, mas nunca as que abandonou.”, escreveu Tolkien em O Senhor dos Anéis. Eu nunca abandonei o futebol. Apenas achei que havia perdido junto com a coluna em 2003.
Marcelo morreu em decorrência de um enfarte em 2005. Foi um dos grandes amigos e companheiros de batalha que encontrei na vida. Seguindo a tradição de O Senhor dos Anéis, botei o nome do meu filho de Marcelo. E eu sempre miro no gol quando vou chutar. Embora nem sempre a bola vai para onde a gente aponta.
Saldo de 2019:
18 jogos
13 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Ao contrário da maioria dos brasileiros, ele nunca foi a Harvard, mas publicou quatro livros, sendo um de futebol. É perna de pau assumido, mas não se importa com isso.


Diário de um peladeiro – Parte XVII – Vai Romário

21 de junho de 2019
O mundo é redondo, logo é uma bola. Tudo indica que o universo também. E determinadas pesquisas apontam que o universo não é apenas redondo, mas feito de gomos em forma de pentágonos como as bolas antigas. Mais que o jogo da vida, é o jogo do Cosmos.
Este sábado eu já estava com um fôlego melhor. Mas faltou gente para a pelada e foi aquela coisa de ficar em campo direto durante uma hora. Para quem jogava sábado de 8h às 22h quando era criança, não é nada. Mas a idade chega, a barriga cresce e o universo vai te avisando o seu tempo está passando.
O plano de subir a pé o morro entre o bairro Teixeiras, até a Faculdade de Educação Física da UFJF é ótimo para aquecer. São apenas três míseros quilômetros. Mas subimos 98 metros de altura. Se fosse da minha casa, seriam quatro quilômetros e 200 metros de altura para “escalar”. Ainda chego lá.
A pelada ocorreu sem maiores problemas. Ainda sem fôlego para pensar. Perdi novamente aquele montão de gol. Algumas oportunidades ótimas perdidas. Mas tentei fazer o “mais certo” possível. Digo entre aspas porque o futebol não tem certo. A gente tenta, faz o melhor que pode e espera que a bola entre no gol.
O meu gol foi bonito, peguei fora da área, na corrida e de esquerda. Sem olhar muito nem para a bola e nem para o goleiro. Peguei “gostoso” na bola e ela fez o resto. Um curva suave para longe do goleiro. Saí comemorando de braços abertos. Como Romário costumava fazer. Aquela sensação de estar voando. Como se estivesse em comunhão com o universo, com o Cosmos. Talvez essa seja a magia do futebol. Fazer um perna de pau ter 10 segundos a sensação de ser o Romário reencarnado. Não tem preço.
Um prêmio de persistência.
Chutei antes e depois de todas as maneiras possíveis e a bola não entrava. Ou ia para fora, ou o goleiro pegava.
Catei também no gol por um tempo, para recuperar o fôlego. Fiz algumas defesas legais, difíceis e tomei os devidos frangos. Enfim, foi um jogo normal, sujeito a altos e baixos. Bons momentos, maus momentos, momentos incríveis e medíocres. Assim é o futebol, assim é o Cosmos.
Saldo de 2019:
17 jogos
12 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Ao contrário da maioria dos brasileiros, ele nunca foi a Harvard, mas publicou quatro livros, sendo um de futebol.

Diário de um peladeiro – Parte XVI – Não é como andar de bicicleta


Dizem que certas coisas na vida são como andar de bicicleta: a gente aprende uma vez e não esquece mais. Nem sempre, porém, isso é verdade...
Uma vez no final da década de 80, mais precisamente novembro de 1988, vi um jogo entre Flamengo e Sport Recife. O jogo entre os Campeões Brasileiros de 1987. Vitória, claro, do Campeão legítimo, o Flamengo, com o time que seria a base - junto com o Vasco daquele ano - da Seleção Brasileira das próximas duas Copas do Mundo, inclusive a Campeã de 94.
O jogo terminou 2x1 para o Flamengo, que, aliás, não sei se já mencionei, foi o único e verdadeiro e legítimo Campeão Brasileiro de 1987. Título doado por caridade e compaixão ao Sport Recife. Quem dá aos pobres empresta a deus...
Mas como eu ia dizendo, um dos gols mais impressionantes que vi na vida, foi naquele ano, neste jogo. Mas não foi do Flamengo. Foi gol de empate de Robertinho, ex-Flamengo, que marcou pelo Sport. Ele, de costas para área, matou no peito e virou, chutando de primeira. Saiu um míssil que foi no ângulo do hoje saudoso Zé Carlos. Sem chances de defesa.
Aquela jogada me impressionou tanto que tratei de treinar aquilo por vários dias. Receber a bola de costas para o gol e chutar de virada. Treinava sozinho ou pedia para um amigo mandar a bola. Treinei matar no peito, matar na coxa, no chão... Mas sempre virando e chutando.
Acertei isso em várias peladas, mas queria fazer em jogo “oficial”. Finalmente, em dezembro de 1988, teve um jogo pelo time do Moinho de Vento. O adversário era o Colégio Volta Redonda. 
Criamos uma jogada em que eu saía da minha querida lateral direita e aparecia como homem surpresa, mas sempre de costas para a área. 
A primeira jogada já deu certo. A bola veio, mas não pelo alto, não como para Roberto Oliveira Gonçalves do Carmo. Para mim ela veio rápida e baixa. Quicando. Eu matei na mesma posição, na entrada da grande área, e girei. O chute saiu forte e no alto. Entrou no ângulo encobrindo o goleiro. Sim, tive o meu dia de Robertinho.
Lembrei disso na pelada de hoje porque, até pela falta de preparo físico, fico fazendo essa posição de pivô. Por três vezes hoje, eu recebi a bola de uma maneira que era só fazer aquele giro e chutar. Não fiz nenhuma das vezes. Afinal, pensei: “E se a coluna quebrar no meio do processo?”. Pois é, amarelei. Não é como andar de bicicleta.
Mas vocês vão ver. Vou treinar de novo esse movimento e voltarei a ter meu dia de Robertinho.
Perdi um monte de gol. Falta de frieza. Excesso de ansiedade. Todas as vezes que matei a bola, a marcação chegou. Na vez que resolvi chutar com mais agilidade... Bom, era a vez errada. 
Enfim, é para isso que o futebol serve para mim. Confesso que não é só para manter a forma. Mas para eu entender melhor minha ansiedade. Entender como ela se processa no meu belíssimo cérebro e, quem sabe, controlar e destruí-la um belo dia. Não existe nada mais perfeito para se testar a ansiedade do que ter uma bola nos pés e saber que tem poucos segundos para resolver o que fazer com ela. Futebol é o jogo da vida, amigos!
Acabei fazendo um gol no final. Um passe cirúrgico dentro da área. Consegui colocar a bola lá no canto, bem longe do goleiro de novo. O passe foi 90% do gol. Mas quem liga? Já são quatro peladas seguidas sem deixar de marcar. Eu agradeci e estou oficialmente autorizado a ficar otimista.
Saldo de 2019:
16 jogos
11 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Ao contrário da maioria dos brasileiros, ele nunca foi a Harvard, mas publicou quatro livros, inclusive a série de ficção científica Hegemonia que vai ser relançada em outubro de 2019.

Diário de um peladeiro – Parte XV – Juntos e shallow now


Chegamos à 15ª pelada de 2019 ainda com condições físicas questionáveis. É engraçado que o objetivo deste “blog” era mostrar minha evolução no futebol. E sim, estamos evoluindo.
Mas sempre caio na mesma coisa. Por mais que tenha caminhado desta vez, ainda morro de saudades da academia. Mas não dá para voltar ainda. Enfim, esse correr atrás do próprio rabo está me irritando. É como se soubesse o que precisa ser feito, mas não faço. Fica uma coisa incompleta, vazia, rasa (shallow). Então fica eu e a bola, juntos e shallow now...
Sobre a pelada, novamente no Aeroporto de Juiz de Fora. Desta vez foi uma pelada inteira. Aqueci antes e até fiz gol. 
Dei uns 5 chutes a gol. O goleiro fez três defesas, um foi gol e o último chutei para fora. Tentei fazer estilo Bebeto de voleio, mas a bola subiu demais. Ao menos eu tentei.
O gol foi num rebote do goleiro.
Saldo de 2019:
15 jogos
10 gols

Diário de um peladeiro – Parte XIV – Nada de pagar mico


Mais uma pelada no ano. Esta semana eu andei passando mal. Com a mudança brusca de temperatura, meu sistema imunológico fica bugado. Na terça-feira e na quarta-feira eu caí de cama. O corpo todo doendo. Quando foi na quinta-feira, já estava bem e resolvi tentar jogar. Foi um desastre. Eu puxava o ar e ele não vinha. O corpo todo duro, estranho. Não consegui passar da primeira pelada. Com 10 minutos, a coisa estava tão feia, mas tão feia, que meus braços começaram a formigar, como seu fosse ter um enfarto ou coisa parecida.
Pensei, olha que oportunidade de ouro! É só eu continuar correndo que vou realizar meu sonho de morrer jogando futebol. Mas este sonho era e continua sendo para daqui a uns 40 anos. Então, fiz como manda o Capitão Roberto Nascimento e pedi para sair. Nada de pelada na quinta. Deixa para próxima.
Hoje, sábado. Foi a próxima.
Fui de teimoso. Pensei, se estou dando piripaque, quero ter certeza. Porque, pouparia o tempo do médico e do meu. Subi na universidade e dei uma corrida para aquecer antes. No caminho, encontrei esses micos. Pensei, tomara que eu não pague mico hoje.
O resultado foi ótimo. Não senti nenhum cansaço, nada formigando, nada errado. Quando acabou a pelada, eu ainda queria mais.
Com o fôlego de volta, as coisas ficam mais fáceis. Começo a me preocupar com coisas mais produtivas que apenas em conseguir correr e dominar a bola. Fiz um gol que demandou a frieza de fazer o básico: recebi, levantei a cabeça e escolhi o canto. Aquele canto longe do goleiro. Gol. 
Infelizmente, eu preciso levantar a cabeça mais durante o jogo. Taí, uma das coisas que eu fazia direito antes da coluna quebrar e andava esquecendo. Poderia ter dado umas cinco assistências para o gol se fizesse isso, mas fiz duas. Já achei legal. Um passo de cada vez. 
Agora, volta o que eu falo sempre. Falta arrumar tempo e disposição para ao menos caminhar durante a semana. Como faz falta uma bendita academia.
Saldo de 2019:
14 jogos
9 gols

Diário de um Peladeiro – Parte XIII – Bola na trave não altera o placar


Acho que a jogada mais bonita da minha vida terminou com uma bola na trave. Foi no final da década de 80. Foi lindo, foi maravilhoso, porque foi com meu pai. Ao contrário de mim, meu pai sempre foi um craque reconhecido. Seus dribles e jogadas espetaculares lhe valeram o apelido de Jacozinho, em homenagem ao mítico craque alagoano que fez sucesso entre 1985 e 1986.
Em 1989 eu dei um passe perfeito para meu pai na entrada da área. A bola veio por cima e toquei pelo alto, como se fosse Futevôlei. Foram todos os marcadores para meu pai, que só precisava cabecear para o gol. Mas ele me devolveu o passe de cabeça, de primeira. Isso já tinha matado e enterrado o goleiro e a defesa do time. Que descansem em paz. E quanto a mim, eu só precisava chutar a bola para o gol. Peguei de primeira, no ar, sem deixar cair. Com força. A bola explodiu no travessão.
Foi uma jogada tão bonita que todos aplaudiram. Eu só não achei perfeito no dia, porque não foi gol. Hoje, penso que foi uma tabela perfeita. Porque foi com meu pai. 
Como diria um amigo, a maturidade faz com que mudemos o passado. Aquela bola na trave é hoje minha segunda melhor recordação do futebol. A primeira, para você não ficar curioso, foi um jogo do Moinho de Vento contra o Flamenguinho de Barra Mansa, quando peguei a bola do meio de campo e driblei o time todo, goleiro inclusive, e fiz o gol. Era um jogo “oficial”. Eu tinha 14 anos e um torcedor invadiu o campo para me abraçar. Era meu pai...
Chega de lembrar do passado...
Na 13ª pelada do ano, eu também recebi um passe perfeito. Toquei de primeira para as redes, tirando do goleiro, mas a bola caprichosamente bateu na trave e voltou para as mãos do goleiro.
Acontece. Não achei bonito desta vez. Mas o erro faz parte da essência do futebol e do esporte. No final das contas é um jogo. Fiquei feliz pela jogada. Fiquei feliz por estar ali, ao invés de em casa com a cara enfiada em livros.
Tive mais umas cinco oportunidades de gol. Desta vez acertei uma bendita cabeçada. O goleiro teve que se esforçar para defender. Mas até o final do mês ainda vou fazer o segundo gol de cabeça do ano. Me aguardem!
No geral, estou voltando a ter um ritmo de jogo digno. Desta vez corri mais. Me movimentei mais. Fiz boas jogadas e executei com certa competência a função de pivô que adoro.
A coluna não doeu nem um pouco. Nem depois. Mas o púbis voltou a doer com força. Estou aplicando gelo agora. Parece que está funcionando. Espero recuperar um pouco do ritmo de jogo até o final de maio. Amanhã vou pesar para ver se emagreci.
A luta continua...
Saldo de 2019:
13 jogos
8 gols

Diário de um peladeiro - Parte IX


23 de março. Nona pelada de 2019. Desta vez tentei forçar mais. Valeu a pena. Continuo evitando dar piques, que foi o que destruiu minha coluna. Na verde tenho pavor de dar piques ou arrancadas. Estou errado?
Perdi um gol digno do inacreditável futebol Clube. Sozinho a 30 centímetros do segundo pau, chutei na trave. Coisa de peladeiro. Acontece.
Hoje ficou evidente que, mais que a preparação física, que está péssima, eu preciso controlar a ansiedade. Aliás, mais do que o prazer a catarse de jogar futebol e o dever de praticar um exercício, estou insistindo nessa rotina para entender e aprender a controlar a ansiedade.
Claro que isso também está ligado ao preparo físico. Sem fôlego, sem oxigênio, a gente pensa menos. 
Perdi um gol apenas porque faltou frieza para trocar de pé.
O maior reconhecimento de que você está melhorando é que os adversários passam a te parar com falta. Isso é o reconhecimento que não conseguiram ganhar de você com simples habilidade.
Hoje levei três faltas. Duas fui parar no chão e outra me fez ralar o joelho. Cicatrizes são uma coisa interessante. São como tatuagens para marcar uma batalha. Te deixam orgulhoso. Mas provavelmente não vai ter cicatriz. Só esse joelho ralado.
Dei bons passes, mas nenhuma assistência. Falta coragem, falta ousadia, falta confiança. Falta controlar a ansiedade.
Enfim, seis finalizações. Duas na trave. Um gol.
A luta continua.
Saldo de 2019:
9 jogos
6 gols

Diário de um Peladeiro – Parte XII – O dia em que a prudência foi para o espaço e deu certo

4 de maio de 2019
Para entender o que aconteceu hoje, preciso esclarecer. O que tenho é uma protusão da sexta vértebra lombar. Já parei de jogar bola por 12 anos por causa disso e não melhorou. O médico diz que a cirurgia não é aconselhável. Então, a solução é fazer amizade com a dor. Mas quando a coisa chega a um limite insuportável de dor, melhor é parar.
Assim, desde quarta-feira, minha protusão na voltou a dor com força. Acontece sempre quando começo a engordar.
Voltei para a fisioterapia, mas estava piorando a cada dia. A sensação é de uma navalha sendo enfiada dentro da vértebra. 
A ortopedista deu a brilhante ideia de eu parar tudo de novo e emagrecer. Na teoria é ótimo. Na prática, não dá para emagrecer sem me exercitar. Tentei isso em Abril. Foram 20 dias comendo menos, cortando coca-cola, fugindo o pão. Mas eu trabalho sentado o dia inteiro. Chego em casa e me deito. Resultado: 4 kg a mais em 20 dias.
Enfim, acordei hoje com a coluna doendo tanto que estava difícil até de levantar da cama.
Preparei psicologicamente para avisar a galera do futebol que eu não ia. No código de honra dos peladeiros, você furar um jogo é crime hediondo. Mas a dor estava demais. Mas a vida é uma caixinha de surpresas. Eis que meus pais Interveem. “Você vai jogar bola, SIM!”.
Diante de tal imposição, pedi para minha mãe fazer um misto quente, meu pai trouxe gelo e passei de 9h às 11h fazendo alongamento e aplicando gelo.
Deu certo.
Cheguei no jogo com aquela postura de correr o menos possível, sempre de olho caso a coluna enviasse sinais de perigo.
Não enviou. De fato, foi uma boa pelada. Não me lembro de errar nenhum passe. Embora matar a bola tenha sido um problema por duas vezes.
Comecei a jogada de três gols, chutei a gol umas sete vezes. Mais três cabeçadas razoáveis, mas ainda longe, bem longe do era 30 anos atrás. Obriguei o goleiro a fazer três boas defesas e fiz dois gols. Um de carrinho no qual, tenho sérias dúvidas se aquilo foi o passe para mim ou um chute a gol. Entretanto, a bola ia bater na trave se eu não me atirasse ali.
O segundo foi uma sobra de bola.
Enfim, depois de dois jogos de Jejum. Voltei a fazer gols.
Observações: 
A primeira vez que joguei em Minas Gerais foi em 1988 em São Migual do Anta, próximo a Viçosa. Naquela época, comentei com amigos que a principal diferença entre o “peladeiro mineiro” e o “peladeiro carioca”, era que a mentalidade de fominha era abominada no Rio. O carioca valoriza uma assistência quase com o mesmo peso que um gol. Em Minas ainda sinto a estranheza em relação a aversão do mineiro de dar passes. Você sente que até dói. O bom aqui é abaixar a cabeça e ir driblando até a cara do gol.
Saldo de 2019:
12 jogos
8 gols

Diário de um Peladeiro – Parte XI – De volta ao local da tragédia

28 de abril de 2019

Pois é, parei alguns dias. 23 dias mais precisamente. Fiz fisioterapia e voltei hoje. 
Como a UFJF programou um evento para o horário, tivemos que encontrar outro campo para realizar nossa sagrada pelada. 
Havia uma vaga no Rio Branco Soccer, antigo Cruzeiro. Mesclei a pelada nossa com o time que já jogava lá. Uma estratégia que acabou valendo muito a pena.
Voltei 6 kg mais gordo e disposto a não correr muito. Morrendo de medo de machucar e ter que parar mais 20 dias.
Mas foi um tanto quanto dramático reencontrar o lugar onde 17 anos atrás, quando fazíamos o saudoso Clube da Bola, time também conhecido como “Os Valorosos”, que tive a contusão mais séria da minha vida. E não precisou ninguém me atingir, fiz a cagada sozinho. Eu estava dando uma arrancada “romariana” quando escutei um barulho de algo se quebrando na minha coluna. Um “clerk”. Veio uma dor esquisita. Só vim saber o resultado real daquilo quatro anos depois, quando a Petrobras me deu um plano de saúde decente e pude fazer ressonância magnética. Foi uma protusão, um início de uma hérnia na sexta vértebra lombar. Depois daquilo, meu - já não tão maravilhoso - futebol nunca mais foi o mesmo. Fiquei com medo de fazer arrancadas e movimentos bruscos, com gingados. Me tornei um jogador de cintura dura, literalmente.
Depois daquilo eu parei de jogar futebol por 13 anos... Só voltei em 2015.
O regresso ao antigo Cruzeiro foi bom. A coluna não doeu, o púbis também não, o pé com tendinite também não. 
O pessoal da pelada era mais organizado e corria menos do que o grupo que estou acostumado. Chutei novamente 8 vezes ao gol. Obriguei o goleiro a fazer boas defesas, inclusive em chutes de longe. Deu apenas um passe para gol.
Deu raiva, muita raiva do gol mais claro que perdi. Porque comecei uma bela jogada do meio de campo. Fizemos uma troca de passes que terminou numa bola açucarada para mim na entrada da área, à esquerda do gol adversário. A bola merecia ser chutada de primeira e foi o que eu fiz. Mas aí apareceu em cena o Mustela Plutórius Furo e furei uma bola impossível. Acho que o “chute” mandou a bola pela lateral. Lamentável, mas acontece. 
Final, ainda deu para ficar no gol e fazer duas boas defesas para tirar onda.
Foi uma partida bem melhor do que eu esperava. Praticamente não errei passes e acho que teria feito pelo menos um gol se me arriscasse mais nos movimentos bruscos.
No final ainda tomei cerveja com a galera para matar o calor.
Saldo de 2019:
11 jogos
6 gols
Curiosidade: 
Já estamos em maio e só fiz 6 gols em 11 jogos. Em 2001 quando criei o Clube da Bola, no jogo de estreia, bem antes da coluna quebrar, eu fiz exatamente 6 gols. Num jogo só. Apesar do que dizem uns amigos, o tempo também passa para mim.


Diário de um peladeiro - Parte VIII

17 de março
Oitava partida de 2019 e está cada vez mais claro que preciso ao menos correr diariamente. 
Acho que foi a melhor partida do ano, o que não é grande coisa. Mas eu, digamos, encontrei o equilíbrio de movimentação dentro do campo que permite um cara obeso e sedentário não exagerar na atividade física e, ao mesmo tempo, atrapalhar menos quem está jogando (no seu time).
Não fiz gol, mas chutei bastante. Dei bons passes. Desarmei. perdi um gol igual ao Rodinei contra o Vasco....rs
Detalhe: bebi três litros d'água na sexta e um litro e meio no sábado, antes do jogo.
No esqueci minha carteira nas arquibancadas, mas um amigo recuperou para mim...rs
Saldo: 8 jogos 5 gols