quarta-feira, dezembro 23, 2020

Cedo ou tarde, o negacionismo da ciência vai cobrar seu preço

Segunda edição ampliada do sucesso literário, vencedor do prêmio Nautilus e finalista do prêmio Portugal Telecom de Literatura.


Orgulhosos de sua supremacia militar e cultural sobre as outras civilizações da galáxia, os disonianos se autodenominaram A Hegemonia. 


Seu império e sua cultura, entretanto, estão ruindo lentamente e seus cidadãos migram em massa para a realidade virtual em busca de um mundo onde não há frustrações, nem tristeza. Neste cenário, o jovem estudante Ron Schowlen compra um diário neural e começa a gravar seus pensamentos e sua rotina na capital da Hegemonia; até que uma decepção o faz abandonar tudo e voltar, depois de dez anos, para Elôh, seu planeta natal. Lá ele vai ter que reencontrar seus irmãos, Shodan e Dúnia, soberanos do reino de Basten. A tensão entre os três só é quebrada pelo pedido de ajuda de uma tribo distante de marsupiais cuja vila está sendo invadida pelos agressivos dragões vermelhos. Durante a viagem pelo cenário grandioso do planeta Elôh, com seu anel de fogo e suas aberrações gravitacionais, Ron vai conhecer melhor a economia e a cultura de um mundo cheio de contrastes sociais e diversidades religiosas. Enquanto se preparam para a derradeira batalha contra os dragões, Ron e seus irmãos vão descobrir que, nos domínios da Hegemonia, nem tudo é o que parece e a verdade pode ser algo muito mais terrível do que nosso pior pesadelo.


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segunda-feira, dezembro 07, 2020

Diário de um peladeiro 2020 – 3 – Apocalipse now

Reunidos em campo depois de seis anos

Realizando o sonho

Domingo, 6 de dezembro de 2020.

Eu comecei a escrever esta parte três logo em fevereiro, mas só voltei a jogar no final de novembro. Não foi exatamente uma pelada. Ainda estamos respeitando e muito o isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, mas eu e meus gêmeos achamos uma quadra vazia e jogamos nós três sozinhos. Era meio-dia e não tinha ninguém nem na praça para assistir e foi o jogo mais esperado dos últimos anos. Melhor que a final da Libertadores.

Veja bem, este diário tinha o objetivo de levar um pouco dos sentimentos que a gente confronta na vida e a metáfora que eu sempre consigo ver com o que acontece dentro daquelas quatro linhas. Descobri que isso era útil para outras pessoas também. Dizem que o xadrez é o jogo da vida. Bom, o futebol é um xadrez com 11 peças para cada lado ao invés de 16 do xadrez. Claro, o futebol que eu jogo são apenas seis peças de cada lado. E com essas peças podemos simular estratégias de vida, ações, atitudes. Dá para saber mais sobre uma pessoa vendo-a jogar que conversando. O estilo de jogo, as atitudes, dizem muito sobre a pessoa. No meu caso, como já falei muitas vezes neste blog, existe a ansiedade. A mesma ansiedade que não me deixa dormir também costuma me atrapalhar a jogar. Afinal, quando você tem uma bola nos pés e poucos segundos para decidir o que fazer com ela, seu controle sobre a ansiedade é testado ao máximo. Lembrando que, do outro lado, há outras pessoas que querem tomar a sua bola e no seu time há pessoas que têm opiniões distintas sobre o que você deve fazer, como deve agir.

Parte da ansiedade vinha de ficar longe de duas pessoas que sempre foram diretamente afetadas pelas minhas atitudes dentro do campo da vida. Dois meninos gêmeos que agora estão tendo sua despedida da infância e virando adolescentes.

Quando eram mais novos, eu aproveitava a varanda grande do prédio para ensinar eles a jogar futebol. Eles não são exatamente craques. Puxaram o pai. Mas há esperança para eles ainda.

Desde junho eu estou de volta a Macaé, novamente perto deles e, depois de 6 longos anos, conseguimos jogar de futebol de novo. Jogamos em Macaé, na quadra pública do bairro Mirante da Lagoa. Um bairro que eu adoro. E depois de tantos anos sonhando com isso, lá estavam eles, meus filhos em campo, jogando comigo. Desajeitados com a bola, mas felizes como o pai, curtindo cada momento. É como se toda a felicidade do mundo, toda a esperança, tudo o que vale a pena neste mundo estivesse ali, representado naquelas duas pessoas. 

Parecia um sonho. Eles estavam lá de novo, depois de 6 anos, jogando bola comigo. E eu sabia que desta vez eu não acordaria. Não era um sonho, era o fim de um pesadelo.

Comprei a bola um mês antes, ela estava meio vazia. Claro que comprei também uma bomba para encher, claro que ela não funcionou. Mas jogamos assim mesmo. Fizemos cruzamentos, chutes de longe, passes.

Não contei direito, mas na hora que “era para valer” fiz cinco gols. Depois catei, depois cruzei. A bola não estava ideal, mas quem se importa. Eles estavam ali, de verdade. Não era mais um daqueles sonhos em que eu acordava chorando. Em que eu os abraçava durante o sonho para ver se conseguia trazer eles comigo para o mundo real. Não, desta vez, era tudo verdade.

A quadra também tinha cesta de basquete e usamos para treinar uns arremessos. Lembrando que minha última partida de basquete na vida em Volta Redonda no Recreio do Trabalhador e, com certeza, tem mais de 30 anos. Eles levam mais jeito para basquete que para futebol. Ensinei o que eu lembrava. Adoraram ver eu passar a bola pelas costas.

Enfim, talvez não seja o meu melhor texto. Mas foi um dos dias mais felizes da minha vida. E talvez a pelada mais importante do ano. E estes cinco gols, jogados apenas com duas crianças em uma quadra de Macaé valeram mais que os outros 20.

Como o coronavírus ficou mais intenso nos últimos dias, combinamos de não jogar de novo este ano. Então, encerramos aqui o diário de um peladeiro de 2020. Vamos ver o que acontece em 2021...

 

Saldo de 2020

11 jogos

25 gols

15 pontos no basquete

Clinton Davisson é jornalista, pós-graduado em educação e mestre em comunicação. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten.

quarta-feira, junho 17, 2020

O Silva e o "novo normal"

Em tempos de mudar de cidade no meio da pandemia, tento me adaptar ao novo normal. Fui na casa de uma amiga mas não entrei para tomar café, conversamos na esquina tentando manter aquela distância, sempre de máscara.
Mas de repente, não mais que de repente, surge o Silva (vamos chamá-lo assim para não expor a pessoa) vendendo paçocas de máscara às 22h.

Acho que umas 200 pessoas já me contaram a mesma história na rua. Ele pedia ajuda porque estava desempregado e o filho não tinha jantando ainda. Ele não ia voltar para casa enquanto não tivesse jantar. Minha amiga foi em casa pegar dinheiro para o jantar da casa do Silva. Não sei por que exatamente, mas acreditamos nele imediatamente.

Enquanto ela foi em casa, sentei no meio fio para conversar com Silva.
Negro, aparentava ser mais novo que eu, mas não muito. Visivelmente em estado de choque. Era motorista de ônibus e estava desempregado por causa da crise. Não conseguiu o auxílio emergencial. Não conseguiu auxílio do governo municipal. Evangélico, deu com a porta na cara das trocentas igrejas que existem em Macaé. Diz que pediu ajuda no mercado e as pessoas riram dele.

Acho que não fosse a sensibilidade da minha amiga, eu também o teria confundido Silva com aqueles caras que pedem dinheiro para alimentar os filhos mas na verdade... Bom, você sabe do que estou falando.

Silva disse que até os traficantes estão se organizando nas favelas para não deixar o povo passar fome. Mas o fato é que ele não mora na favela.

Falam tanto de um "Novo Normal", mas o fato é que um pai de família desesperado para sustentar os filhos ainda é o mesmo normal.
Olhei o contraste entre hoje ser um dos dias mais felizes de 2020 para mim e provavelmente era um dos dias mais tristes na vida do Silva. Lembrei que já estive ali naquele lugar e me dei conta da quantidade de gente que está exatamente ali agora e estava também antes da pandemia.

Coincidentemente, parte do meu trabalho hoje foi justamente pesquisar como algumas cidades como Maricá-RJ conseguiram lidar com a crise, manter em 1% a taxa de desemprego durante a pandemia, manter os leitos com apenas 30% de ocupação com medidas simples. Com a Prefeitura estabelecendo parcerias com empresas, oferecendo benefícios para não haver demissões, buscando proteger os cidadãos não por caridade, mas porque isso ameniza a crise e as contas públicas.

Mas aí, vem o Silva para me trazer à realidade. De Macaé, de Petrópolis, de Juiz de Fora, do Brasil.
Nos tempos de jornalista policial, amigos da polícia militar, uma das classes mais desvalorizadas do RJ, me ensinaram um termo respeitoso que usariam para definir Silva: "Trabalhador". Sim, é uma palavra simples, mas carregada de significados dos quais predomina o RESPEITO.
Mas que respeito estamos tendo com o Silva, TRABALHADOR, que se propôs a não voltar para casa sem jantar para seu filho? Que diabos de "Novo Normal" é este?

Que porcaria de mundo é esse em que o Estado e a Sociedade deixa um indivíduo como Silva desamparado, humilhado, desesperado.

Muitos criticam o isolamento justamente por ser "coisa de rico". E quem não pode ficar isolado, como o Silva? Mas aí é que separamos o joio do trigo, ou melhor, a observação superficial do terraplanista do olhar científico. O ser humano é um animal social. Vivemos em sociedade porque somos mais fortes juntos. Pois o conceito de mais forte e o mais fraco em termos de raça humana é variável. Podemos ser fortes em um aspecto e fracos em outro. Vivendo em sociedade porque assim unimos nossas forças e compensamos nossas fraquezas.

Nestes aspecto, sim, estamos falhando como sociedade, estamos falhando como espécie. Silva me fez entender finalmente a carta deixada por Flavio Migliaccio. Realmente a humanidade não deu certo.





Clinton Davisson é jornalista e escritor, pós-graduado em educação e mestre em comunicação e doutorando da UFJF. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten.

domingo, fevereiro 09, 2020

O legado de Andrew Koenig para o Coringa


Agora que o Coringa consagrou dois grandes atores com o Oscar, é bom lembrar que, antes de Heath Ledger e Joaquin Phoenix, o conceito de um Coringa sinistro e sombrio já havia causado um reboliço em 2003 com a magnífica e aterrorizante performance de Andrew Koenig em um curta metragem independente chamado Batman: dead end.
Realizado sem a permissão da DC ou da Warner, o curta viralizou em 2003 e certamente influenciou o tom mais sombrio de Batman Begins que estreou dois anos depois.
Na história Batman persegue o Coringa pelas ruas sombrias de Gothan City. O encontro dos dois gera um diálogo memorável, mas é interrompido por um plot twist que, na época, causou sensação da Comic Con de San Diego e provavelmente não deu origem apenas a Batman Begins, pois, o lançamento de Alien X Predador um ano e meio depois não pode ser só coincidência.
Um dos destaques do curta era a hipnótica atuação de Andrew Koenig como o Coringa em uma versão assustadora e com uma risada tenebrosa. Antes dele, o Coringa, ao menos no cinema e na TV, era nas versões mais leves de Jack Nicolson e Cézar Romero.
Ativista de direitos humanos e com algumas participações em filmes e séries de tevê, a carreira de Andrew não decolou. Ele era filho do ator Walter Koenig, o Pavel Checov da série clássica Star Trek. Andrew Koenig foi encontrado morto em sua casa em 2010, aos 41 anos. Em uma entrevista coletiva, o pai anunciou que seu filho cometera suicídio. Os motivos nunca foram esclarecidos pela família que pediu privacidade.
A consagração do Coringa como o segundo personagem (junto com Vito Corleone da saga O Poderoso Chefão) a dar Oscar para dois atores diferentes, tem uma contribuição significativa de Andrew Koenig. Uma pena ele não estar aqui para saborear um pouco do seu legado.
O curta Batman: dead end está disponível no Youtube no link: 


domingo, janeiro 26, 2020

Diário de um peladeiro 2020 – Parte 2 - E que a ginga esteja com você!


O site Omelete, que acompanho desde que surgiu há 10 anos, elegeu Pelé – O Nascimento de uma lenda como o pior filme da década que acabou (entre 2010 e 2019). Eu sou suspeito, mas adoro filmes de futebol. Eu gostei do filme. Apesar de realmente não ter como ignorar os defeitos tanto na parte narrativa, quanto na parte de fidelidade histórica. Mas pior da década?
Meu filme de futebol preferido ainda é o clássico Fuga para Vitória (Victory, 1981), dirigido pelo lendário John Huston, que coloca um time com Pelé, Bobby Moore e Osvaldo Ardiles, enfrentando um time de nazistas em plena Segunda Guerra Mundial. O time ainda contava com ninguém menos que Silvester Stallone como goleiro e o oscarizado Michael Caine (o Alfred do Batman do Nolan) como capitão e centroavante. Para quem não conhece, o filme conta a história de um capitão inglês (Caine), detido em um campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial e que usa o futebol para distrair os outros companheiros prisioneiros. O diretor do presídio, um nazista interpretado pelo também premiadíssimo, Max von Sydow (o padre de O Exorcísta), desafia os prisioneiros para um jogo contra os guardas alemães. Com Pelé em Campo e Silvester Stallone no gol, vocês já imaginam que não houve 7x1, ao menos naquela vez. O filme é uma verdadeira declaração de amor ao futebol.

Mas voltando ao “filme do Pelé” de 2016, sim, o filme é ruim, não resta dúvida. Mas a maior crítica que se faz é como a história coloca a “ginga” como algo parecido com a “força” de Star Wars. Como é um filme escrito e dirigido por norte-americanos, dá para imaginar que a ideia veio dos professores de capoeira que nos EUA e Europa realmente gostam de se referir à ginga como algo místico. Para brasileiros é apenas não ter cintura dura, é o remelexo, a desenvoltura, é algo natural, mas para gente com cintura dura como... Eu, é sim, algo sobrenatural muito parecido com a força de Star Wars.
Bom, na quarta e na quinta peladas do ano eu fiz um gol em cada uma. Ambas foram na Faefid – Faculdade de Educação Física da UFJF.
Semana passada eu ainda estava com um bom fôlego. Corri, driblei. Tive boas chances e alguma eu mesmo criei. O gol veio em uma jogada que teve que ser repetida três vezes para dar certo. Passe da direita para eu pegar de primeira na entrada da área. Eu tentei parar a bola outras vezes e não deu certo. A marcação chega muito rápido. Quando peguei de primeira, fiz o gol.
Fiz novamente meu duelo pessoal com meu amigo (e ator recrutado), o Lucas Scafuto. Ele ganhou uma bola na entrada da área e eu, ao tentar cortar, chutei o pé dele e parei a jogada para não fazer falta ou não machucar mais. Ele prosseguiu e fez o gol. Fez o correto. Eu é que optei conscientemente por pegar mais leve com medo de machucar o amigo.
Depois driblei ele no meio de campo e toquei para um atacante que fez o gol. Empatamos, eu acho.
O fato é que emagreci. Estou mais leve. Isso tem ajudado.
Mas aí, veio a pelada de 25 de janeiro. Um mês depois do Natal. Em apenas 25 dias, eu fiz 11 gols em apenas cinco jogos. Ano passado, só alcancei essa marca apenas no dia 25 de maio, depois de 16 jogos e quase 6 meses. Houve uma evolução no meu futebol, na minha ginga, verdade seja dita. A ginga está comigo agora! Mas vamos lembrar que, em Star Wars temos o lado negro e o lado luminoso da força. Será que isso também ocorre com a ginga?
Na pelada passada, antes de começar, fiquei treinando o famoso giro. Receber a bola de costas para o gol, girar e a chutar. Hoje houve duas oportunidades de fazer isso e não consegui. Preferi passar para alguém. Numa delas, eu não consegui dominar a bola, mas acabei dando um passe bonito, ainda que involuntário para o João (Johnny) que fez um golaço. Mas o legal é que dei passes para vários gols e armei pelo menos duas belas jogadas.
Dei muitos chutes. Dois de esquerda muito bonitos. Um o goleiro defendeu após a bola ter pego na mão do André e outro foi para fora, passando bem pertinho da trave.
Mas finalmente consegui fazer o bendito giro. Recebi a bola do Bruno Kaehler, meu eterno garçom e ameacei devolver. Tive calma para ir girando devagar em busca de uma jogada. Quando não apareceu, chutei forte para o gol de direita. Foi o gol mais bonito até agora, o que me deixou mais feliz. Mais até que o de letra. Porque foi um gol finalmente construído por mim ao invés de esperar por passes na entrada da área.
O lado negro da ginga
Em determinado momento, estava fazendo a marcação da saída de bola do time adversário. E fui disputar a bola com o Fernando Junior. Um cara que é forte no lado luminoso da ginga. Tem uma habilidade impressionante, do tipo que é legal assistir jogar. Mas como eu não estava ali para assistir, entrei mais duro. Funcionou. A bola bateu em nós dois e foi em direção à linha de fundo. Então, ele usou a ginga, como bom Jedi que é. Fingiu que ia sair com ela pela esquerda, mas deu as costas para mim, protegendo a bola. Só que eu fui atrás e dei um carrinho com a certeza que ele iria para a esquerda, só que ele não foi...
 Eu até acertei a bola, mas também acertei o pé dele que travou. Ele acabou se contundido. Acho que num jogo oficial, eu seria expulso ou pelo menos um cartão amarelo pelo carrinho por trás. Uma jogada perigosa.
Resultado: tirei o Fernando do jogo. No começo, eu e muita gente achamos que ele estava enfeitando o lance. Escutei até a voz do meme: “Foi nada, foi nada, se jogou. Esperou o contato, o contato veio. Viu que o juiz estava marcando tudo e pulou”. Mas infelizmente foi sério.
Dá o que pensar. Foi uma jogada perigosa. Assim, como parei depois de chutar o pé do Lucas Scafuto semana passada, deveria ter parado. Tenho conceitos sobre o esporte bem definidos. Na minha idade então, o jogar está muito mais priorizado que o vencer. Se quisesse vencer sempre. Continuaria confortavelmente na defesa. Enfim, ele e todos os outros levaram na esportiva. Mas é sempre algo triste. Fiquei com a impressão que, no duelo de gingas, ele usou o lado luminoso e eu cai na tentação do lado negro. Machucar uma pessoa, ainda mais um amigo, nunca é bom.
Para alívio da minha pesada consciência, Fernando aceitou minhas desculpas. A ginga é forte nele. E isso aí, amigo! Que a ginga esteja com você!

Saldo de 2020
5 jogos
11 gols
Clinton Davisson é jornalista, pós-graduado em educação e mestre em comunicação. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten. Foi roteirista da série Malhação e consultor na elaboração da série Ilha de Ferro da Globoplay. Atualmente trabalhando no piloto da série Baluartes.

quarta-feira, janeiro 15, 2020

Diário de um peladeiro 2020 – Parte I


 

Aviso, o texto abaixo toma diversas liberdades poéticas ao elogiar o medicamento cloridrato de metilfenidato, popularmente conhecido como Ritalina. Entretanto, é sempre bom lembrar que este medicamente só deve ser usado com indicação e acompanhamento médico. 


Voltando com o Diário do Peladeiro após quase desistir de escrever. Foi uma coisa curiosa. Eu tinha melhorado 99% da depressão em novembro, graças a academia, o futebol e os amigos. Crédito também para minha companheira de aventuras, a Gabriela Moreira.
Enfim, resolvi que, para tentar enterrar a depressão de uma vez, por todas, deveria ir além de só fazer terapia com psicóloga. Aí, fui numa psiquiatra e resolvemos que deveria tomar um remédio para ansiedade. O escolhido foi o succinato de desvenlafaxina monoidratado. Esse troço dos diabos simplesmente me apagou dezembro todo. Um dos efeitos mais malucos do remédio foi a confusão mental, desaconselhando na bula, por exemplo, a dirigir. O ápice desse efeito foi num jogo em dezembro em que comecei jogando com a camisa vermelha e depois troquei para azul. O resultado é que dei três passes de cabeça para o time errado. Mas o “melhor” foi quando desarmei o meu amigo, Bruno Kaehler, que era do meu time e entreguei a bola para o adversário. Teve momentos em que simplesmente esquecia o que estava fazendo ali no campo. Numa dessas, o Osmir, da pelada de Quinta, teve um acesso de raiva e quase me matou. Eu parecia o gif do John Tavolta, perdido em campo. Mesmo assim, foi nessa última pelada do ano, com passe justamente do Osmir, que fiz meu último gol de 2019. O de número 40.

Sim, o saldo final de 2019 foram 40 gols em 48 jogos. Contra 21 gols em 27 jogos em 2018. Como será 2020?

Mas ainda falando de 2019.... Dormi e tive muita diarreia em dezembro todo. Travei em praticamente tudo que estava fazendo e quando foi lá pelo final do mês, eu resolvi parar. E quando deu exatos 15 dias que parei de tomar o remédio, me veio ainda uma droga de um surto, no dia sete de janeiro, que deixou todos os amigos mais próximos (não necessariamente próximos geograficamente) assustados. Um ataque de pânico tão forte que assustou até minha terapeuta. Enfim, remédio dos diabos! Caro para burro, me deixou prostrado, perdi um mês da minha vida e ainda surtei no início de janeiro de uma forma que é melhor nem escrever aqui. Já passou. Bola pra frente!
Voltei lá na médica e pedi para trocar o remédio. Sugeri Ritalina. Oh, sagrada Ritalina, dádiva dos deuses criada para pessoas com TDH tenham foco e potencializa a concentração. Ou seja, passei a jogar dopado...
O resultado é que joguei três peladas em 2020 e já fiz nove gols. Fora a disposição para fazer os projetos, estudar, ler e tudo que tanto preciso. Em comparação ao ano passado, eu só fui chegar a 9 gols depois de 13 jogos e cinco meses. Foi um bom começo. Aliás, foi ótimo! Viva a Ritalina!
O primeiro gol foi em Barra Mansa no meu querido e lendário Moinho de Vento, dia 2 de janeiro. O gol veio de um passe do meu mestre e mentor Ricardo de Mello no campinho em que aprendi a jogar bola 38 anos atrás. Foi simbólico. Não foi exatamente um jogo, mas conta como o primeiro gol de 2020. A ideia de voltar às origens permeia todo esse blog. Redescobrir a identidade perdida. Precisava voltar lá no Moinho de Vento. Precisava olhar com clareza aquele lugar que ajudou a construir minha personalidade até então perdida. Precisava fazer um gol lá... Precisava me encontrar.
Depois veio uma pelada da quinta-feira, dia 9 de janeiro. Não fiz nenhum gol. Lembro que corri bastante. O goleiro fez duas defesas tão difíceis de dois chutes meus, que até se machucou, fui até cumprimentá-lo.
É a pelada mais organizada que participo, mas como tem muita gente, dá a impressão de que o tempo passa mais rápido e quando vejo, já acabou. Lembro que cheguei cedo e fiquei correndo no campo, treinando dominar a bola sem olhar para ela, com a cabeça levantada, como eu fazia nos tempos de escolinha de futebol... Bilhões de anos atrás... Durante o jogo, tentei fazer isso e a bola passou debaixo do meu pé duas vezes. Acho que o treino não valeu muito...
O que ficou de relevante foi mais a dor nos dois joelhos que, mesmo depois de 20 dias sem jogar e sem malhar, não melhoraram. Confesso que fiquei preocupado. Marquei até ortopedista para o mês que vem.
Depois veio o glorioso retorno da pelada de Sábado, na Faefid, dia 11 de janeiro. Resolvi subir de ônibus porque me obriga a andar um pouco e me aquecer no processo. O problema é que tive que passar no banco primeiro para pegar dinheiro para pagar a pelada. Isso me fez perder o ônibus e chegar atrasado.
Cheguei lá, um calor sinistro, abafado. Enfim, fiquei mais ousado desta vez. Tentei dribles, dei bons passes, mas comprovei uma coisa muito óbvia que já vinha suspeitando desde que voltei a jogar em 2015: eu não tenho fôlego ou pique para acompanhar a garotada de menos da metade da minha idade, mas por algum fenômeno biológico desconhecido, eu sou sempre o último a me cansar. Então, no final da pelada, todo mundo se arrastando e eu correndo. Aprendi a usar isso a meu favor. No final, com a defesa do adversário cansada, eu estava sempre indo e voltando e me colocava bem. Fiz três gols justamente neste final de jogo, quando todo mundo estava cansado e eu estava “inteiro” ou talvez, menos acabado que os outros.
O primeiro gol veio num passe açucarado. Eu estava só tive que matar a bola com muito, muito cuidado, morrendo de medo de perder aquele gol feito e chutar. O segundo foi um passe do Furlan e eu estava de costas para o gol. Toquei de letra e calcanhar e a bola entrou. Até agora, meu gol mais bonito do ano. O último foi também um belo passe do Furlan que eu só tive que chutar longe do goleiro. Pensando bem, acho que todos os gols foram passes do Daniel Furlan. Mas sei que dei passe para pelo menos dois gols dele também.
Momento curioso. Teve um jogador que eu não sei o nome. Dei um ótimo passe no meio de campo por baixo das pernas nele. Teve um momento em que eu roubei a bola no meio, cara a cara com o goleiro, chutei por debaixo das pernas dele. Era o mesmo cara. Só que desta vez, ele conseguiu defender com a ponta do calcanhar.
Fiz três, mas perdi uns seis. Acho que pode melhorar. Sempre pode, né?
Depois veio a pelada de ontem, 14 de janeiro, terça-feira. Pelada da imprensa, no mesmo Soccer Aero ball da pelada de Quinta-feira. Desta vez, fiz cinco gols e dei uns passes para, pelo menos mais quatro. Melhor atuação até agora. Embora, claro, no meu universo perfeccionista, ainda tenho muito que melhorar. Mas já é o maior número gols numa única pelada desde que voltei a jogar em 2015 (depois de 12 anos parados por problema na coluna, para quem não sabe). Viva a Ritalina!
Difícil até lembrar de todos os gols. Mas vou tentar. Foram dois gols de um lado do campo e três do outro. Lembro que o primeiro foi o mais bonito porque recebi o passe de fora da área e emendei de direita de primeira para o gol. A bola foi suave, no alto, nem lenta e nem rápida, o goleiro pulou, mas ela passou deixado do braço dele. É ótimo quando a gente faz o gol com um movimento automático, sem pensar muito.
Teve o Anderson, tio do Rodrigo, um baixinho muito bom de bola. Segundo nosso amigo, Lucas Demolinari, era uma mistura de Soteldo (Santos) com Thiago Neves (Cruzeiro). Ele me lembrou incrivelmente o Genésio do Moinho de Vento, que por sua velocidade na marcação, ganhou o apelido carinhoso de Carrapato. Fizemos uma boa dupla, dei uns três ou quatro passes para ele fazer gols. Não contei, mas com certeza ele fez mais que eu, que fiz cinco.
Realmente não lembro de todos os gols que fiz, mas lembro de dois que perdi. Um porque foi debaixo da trave com um passe preciso do meu garçon predileto, o Bruno Kaehler, que, seguindo a linha de raciocínio de comparações, é uma mistura de Modric com Geromel.
Enfim, o Bruno fez uma jogada fantástica, passando por dois na linha de fundo e cruzando para mim praticamente dentro do gol. A bola veio rápida e passou por debaixo das minhas pernas. É o tipo de gol mais triste de se perder. Mas acontece. O que eu gostei é que não desisti e fui atrás da bola e consegui recuperar e iniciar outra jogada.
 Tentei chutar de longe três vezes, uma foi para fora, outra o goleiro defendeu e outra na trave. E o gol que mais lamentei ter perdido foi um que recebi na entrada da área, consegui tirar o goleiro com um drible curto e chutar de esquerda. Mas a bola não pegou corretamente e foi para fora, por muito pouco.
Acho que perdi uns três gols de ótimos passes. Mas fico sempre naquela dúvida: pegar de primeira e seja o que Deus quiser ou dominar e chutar, dando chance para a defesa chegar e cortar? Mas tudo se resume, desde o começo, desde que voltei a jogar, a aceitar os próprios erros. A lidar com a ansiedade, não com remédios que me deixam com sono e diarreia, mas com treino. Enfiando na cabeça que sou humano. Humanos erram. Humanos acertam. Mas só acertam aqueles que tentam. Então, tentei. Chutei de esquerda, a bola entrou, acho que foi passe do Anderson. O Bruno/Geromel/Modric me deu passe para pelo menos mais dois gols. Um eu peguei de primeira e entrou. Outro eu dominei e chutei, entrou. A vida é simples. A minha ansiedade é que complica.
Tenho certeza que fiz um gol com passe do Fernando Junior também e quase certeza que dei passe para ele também fazer gol.
Enfim, foi um dia muito legal e o ano está só começando. Um ano ainda cheio de incertezas, mas também cheio de possibilidades. Talvez de mudança de cidade, mas com certeza de mudança de vida, mudança de atitude, de postura. Saí do modo sobrevivência, que foi muito útil e necessário nos últimos dois anos, porque ninguém sabe o inferno que passei..., mas agora entrei no modo do combate. Viva a Ritalina!

Saldo de 2020
3 jogos
9 gols
Clinton Davisson é jornalista, pós-graduado em educação e mestre em comunicação. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten. Trabalhou nas séries Malhação, Tapas & Beijos, foi consultor na série Ilha de Ferro da Globoplay. Atualmente trabalhando no piloto da série Baluartes.