domingo, agosto 29, 2021

Reflexões da insônia

 


Quando eu era criança, eu tinha medo de fantasmas. Passei o ensino fundamental todo praticamente sem entrar no banheiro da escola com medo da loura do banheiro. Até em casa eu obrigava meu irmão mais novo a ir ao banheiro comigo com medo de alguma coisa terrível que poderia aparecer. Ia ao banheiro de porta aberta, mas com medo dela se fechar de repente e aquela coisa me pegar.

Hoje na vida adulta eu tenho saudade daqueles fantasmas. Sinto falta deles. Porque ao menos com a presença de um adulto, o fantasma não aparecia. E eles não me atormentavam o dia inteiro, só quando eu ia ao banheiro. Quando adultos os nossos medos são piores e os pesadelos acontecem quando estamos acordados. E as inseguranças nunca, nunca vão embora.

Os medos são diferentes e muito mais assustadores. Medo de não ser bom o suficiente. Medo de não conseguir proteger as pessoas que amamos. Medo de decepcionar as pessoas que amamos. Mas o maior medo é de decepcionar aquela criança que nós fomos algum dia e muitos anos atrás tinha medo de fantasmas, mas acreditava que teria no futuro, uma vida feliz, que seria uma boa pessoa e que mudaria o mundo.

Reflexões da insônia - Rio das Ostras, 30/08/021


Clinton Davisson é jornalista, professor e mestre em Comunicação. Autor de quatro romances, entre eles o sucesso Hegemonia - O Herdeiro de Basten.