sexta-feira, janeiro 02, 2009

O outro todo poderoso


Hancock mostra Will Smith como um super-homem decadente


 

Will Smith é Hancock uma versão negra do super-homem que parece querer dar razão a todos os preconceitos e estereótipos reinantes contra negros que vinha desaparecendo do cinema e da TV nos últimos anos: é um bêbado, mal humorado, mal educado e desajeitado. Seu jeito desleixado de fazer seus heroísmos e salvar os outros acaba às vezes criando mais problemas do que os que ele inicialmente tenta resolver.

Um dia ele salva Ray Embrey, um homem excessivamente idealista que resolve levar o herói para casa, afinal, tudo o que ele precisa é de carinho e um pouco de gratidão. Mas Hancock não tem jeito e fica terrivelmente atraído por Mary, a esposa do cara. Ainda assim, é através deste homem que o super-herói vai conseguiu reencontrar a autoconfiança e a alegria de salvar os outros sem esperar muito em troca.

Dirigido pelo quase desconhecido Peter Berg, Hancock parte da excelente idéia de mostrar um super-herói amargurado com o peso da própria responsabilidade. A realização, entretanto, é instável. Por um lado, temos mais uma boa interpretação de Will Smith que, apesar de fazer as mesmas caras e bocas de sempre, consegue dar credibilidade a um personagem difícil e ainda enriquecê-lo com sutilezas. Por outro lado, a direção parece sempre indecisa entre fazer um filme de ação até certo ponto realista e fazer uma comédia exagerada. O resultado é um filme que poderia ser melhor, mas que ganha força em DVD quando podemos parar, pegar pipoca e coca-cola na geladeira, e escutar o barulho da chuva que não para de cair.

O filme ainda tem a sempre belíssima Charlize Theron no papel de Mary Embrey deixando claro desde sua primeira aparição que vai haver reviravolta na trama. Afinal, o que uma mulher do calibre dela está fazendo casada com um cara tão irritantemente bonzinho? Tem caroço nesse angu...

O final é bastante forçado, como se houvesse uma discussão entre os realizadores sobre como terminar o filme e tudo ficasse em um impasse. Aliás, a graça do filme está justamente na insegurança e na falta de confiança na projeção. Nunca sabemos se o filme vai descambar para a comédia ou virar um dramalhão. Com isso, ficamos preocupados realmente com o destino dos personagens, o que o diretor e o roteiristas resolveram?

O resultado final é um pouco decepcionante, juntando-se a alguns furos do roteiro. Afinal, ninguém nunca se perguntou de onde veio um homem com super-poderes? Nem ele mesmo? Durante 80 anos?

Ainda assim, algumas piadas já valem o preço da locação. A melhor delas envolve mais a reação das pessoas a volta do que a imagem propriamente dita. E a cena da baleia, mostrada no trailer, continua divertidíssima no filme. Se não foi um clássico no cinema, Hancock não faz feio em DVD e se trata de um filme obrigatório para quem gosta de super-heróis.