terça-feira, novembro 03, 2009

Os Substitutos



Direção: Jonathan Mostow

Roteiro: Michael Ferris e John Brancanato

Elenco: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, Boris Kodjoe, James Francis Ginty, Michael Cudlitz, James Cromwell e Ving Rhames.

Em um futuro não muito distante, 98% da população trocou o corpo de carne e osso por bonecos bonitos e indestrutíveis que vão trabalhar enquanto o “saco de carne” fica em casa deitado em uma cadeira de dentista, ou algo parecido. Este mundo perfeito não é tão perfeito para o detetive Tom Greer (Bruce Willis) que perdeu o filho em um acidente de carro e não consegue lidar com isso. Sua esposa Maggie (a bela Rosamund Pike) não morreu, mas ficou toda arrebentada. Ela usa então os robôs substitutos para fugir da realidade, adotando uma postura de comportamento igual a de personagens das novelas do Carlos Lombardi. O drama dos Greer vai de encontro a uma trama terrorista quando um cidadão parece ter descoberto uma maneira de usar o substituto para matar quem estiver conectado a ele através de um vírus de computador.

O policial começa a investigar os crimes com sua parceira igualmente embonecada (Radha Mitchell que não diz a que veio), mas só vai conseguir resolvê-lo depois que for suspenso, caso contrário, não seria um filme norte-americano, certo?

A trama também esbarra na existência de tribos de humanos que se recusam a usar a tecnologia dos robôs e, por isso, cria verdadeiras comunidades hippies. Será que são eles quem estão por trás dessa ameaça?

Baseada em uma Grafic Novel homônima lançada em 2005, com roteiro de Robert Venditti e desenhos de Brett Weldele, os Substitutos parece realmente seguir aquela lógica absurda de alguns quadrinhos onde vestir a cueca por cima da calça e sair para combater o crime pode parecer uma idéia inteligente e funcional. Quando adaptados para o cinema, normalmente os quadrinhos precisam fazer algumas adaptações para não cair no ridículo, é só lembrar a piada do colant amarelo de Wolverine no primeiro X-Men. Mas no caso de Os Substitutos, os roteiristas não se preocuparam em pensar o que os médicos do planeta Terra teriam a dizer sobre ficar em casa deitado o dia inteiro enquanto um robô faz tudo por você.

Estranhamente, o único cidadão que vai trabalhar todo dia sem o seu robô é também é obeso, enquanto outros parecem somente mais velhos e com menos maquiagem. Parece aquela propaganda da Coca-Cola onde um cara leva uma bronca do Charlie Brown JF por ser o único que não usa determinado assessório (nem lembro o que é). E ainda escuta: “Tem que ter atitude!”. Ou seja, do mesmo modo que neste comercial “ter atitude” vira “não discordar da maioria”, em Substitutos para ser magro bastar ficar dentro de casa deitado. Se você for trabalhar, sair do sedentarismo, vai acabar engordando.

Ainda no campo lógica de Quadrinhos, o filme diz que 98% da população mundial aderiu aos substitutos. Será que em 2054 a fome e a miséria tenha acabado no mundo e todo mundo tem dinheiro para comprar esse boneco? Ou novamente o planeta Terra se resume a cidade de Nova Iorque?

E por que a comunidade dos caras que não usam robôs tem que viver numa situação de absoluta pobreza? Tipo, eles não querem contato com os robôs, mas não vi nada impedindo os caras de irem trabalhar ou de tomar banho, ou ir a uma loja de roupas...

Finalmente, as motivações do vilão não fazem sentido algum e parece ser mais uma tentativa de fazer uma das famosas “reviravoltas” no roteiro. Afinal, quem ia esperar que o vilão fosse justamente... quem fosse (não vamos dar spoilers)

Mas nem tudo é idiota no filme. A grande estrela é a maquiagem digital que transforma o bom e velho Bruce Willis em um ator 30 anos mais jovem.

O filme também consegue levantar questões interessantes, como o paralelismo entre o que já acontece no nosso mundo virtual onde podemos usar o MSN, o Orkut, o Second Life e uma infinidade de programas para mudar a identidade. Assim, vemos no filme uma bela e jovem loura, de corpo escultural, revelar ser, na verdade um homem gordo e barbado.

A fuga para a realidade virtual chega a ter uma abordagem política, mas jamais se aprofunda; dando a impressão de que os produtores chegaram a temer que um filme um pouco mais inteligente pudesse afastar a platéia (vamos lembrar que os venerados Gataca e Blade Runner são fracassos estrondosos de bilheteria).

Ainda assim, as cenas de ação são competentes, mas com gostinho de Sessão da Tarde. Nada que lembre os malabarismos de Eu, Robô.

Uma pena, porque são idéias incrivelmente atuais em um filme que mostra que a tecnologia dos efeitos visuais pode dar conta do recado.

Enfim, Os Substitutos está longe de ser um filme chato e gera um entretenimento razoável a quem não for muito exigente com a trama, mas poderia ser bem melhor se os roteiristas demandassem um pouco mais de tempo construindo um pano de fundo mais verossímil. Em tempos onde se investe pesado em obras de Tolkien, J.K. Rowling, Stephanie Meyer e Neil Gailman, que prezam pela complexidade de seus mundos imaginários, era de se esperar um pouco mais de coragem das produções de ficção científica também.

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