segunda-feira, novembro 09, 2009

Bastardos Inglórios - Inglourious Basterds





EUA, 2009 - 153 min

Direção e roteiro: Quentin Tarantino

Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Til Schweiger, Gedeon Burkhard, Jacky Ido, B.J. Novak, Omar Doom, August Diehl, Denis Menochet

Em uma espécie de história alternativa da França ocupada pela Alemanha na 2ª Grande Guerra, um grupo de soldados conhecido como Bastardos prepara um plano para destruir um cinema onde os nazistas exibirão um filme sobre um herói nacional. A idéia é trancar os líderes nazistas todos no recinto e tacar fogo sem perdão. Para isso contarão com a ajuda de uma mulher com sede de vingança e uma espiã.

O diretor Quentin Tarantino e seu colega indiano M. Night Shyamalan tem carreiras muito parecidas. Ambos despontaram nos anos 90 com um estilo de direção bem particular que não escondia o amor ao próprio cinema e, principalmente, buscando recursos próprios do teatro, com tomadas longas, com poucos cortes, deixando que os atores dominassem como fios condutores da cena.

Além disso, ambos adoram aparecer em seus filmes como atores. Algo que também pode ser visto como uma homenagem ao grande mestre Alfred Hitchcock, adepto da mesma prática, embora com muito menos tempo nas telas.

O problema é que Shyamalan vem entrando em decadência de crítica e público desde o polêmico Sinais em 2002, culminando com ridículo Fim dos Tempos. Tarantino por sua vez também andou ganhando umas vaias com seu Grindhouse de 2007, mas nada que realmente abalasse sua carreia.

Agora, enquanto Shyamalan começa a perder o crédito depois do ridículo Fim dos Tempos, Tarantino vai à direção oposta, em mais uma consagração com Bastardos Inglórios no qual volta ao tema principal de Kill Bill, a vingança. Embora se passe durante a 2ª Guerra Mundial, a trilha sonora e diversos enquadramentos e situações no filme remetem aos Westerns Spaguetti ou Bang Bang à Italiana como eram conhecidos no Brasil as produções de baixo orçamento nos anos 60 e 70 dirigidos por italianos e espanhóis normalmente em locais mais baratos da Europa. Tarantino volta então a homenagear seu grande ídolo, Sérgio Leone, responsável pela revolução nos westerns e em todo o cinema e considerado um dos grandes injustiçados de Hollywood (parte por causa do fracasso de seu filme mais caro Era uma vez na América, de 1984).

Este cinema de amor ao cinema torna Tarantino um dos diretores mais importantes da atualidade e o fato de trabalhar com orçamentos considerados baixos em Hollywood, não corre o risco de ser trucidado pelos produtores (exatamente o que aconteceu com Sérgio Leone). Assim, Bastardos Inglórios foi seu filme mais caro, custando U$ 70 milhões, mas já arrecadou mais de U$ 300 milhões no mundo inteiro.

Acostumado a lançar seus próprios astros como Steve Buscemi , Tim Roth, Harvey Keitel ou mesmo recolocar no estrelato nomes famosos como John Travolta e Uma Thurman, Tarantino ganhou uma força extra com o superastro Brad Pitt. Robert DeNiro e Bruce Willis, já haviam trabalhado com o diretor, mas Pitt é “O Cara” do momento. O resultado é uma das atuações mais propositadamente canastronas da história do cinema. Em determinado momento, seu personagem, o sanguinário tenente Aldo Raine precisa se fazer passar por italiano e não sabe falar praticamente nada em italiano. Pit então encarna uma mistura estranha e hilária de Don Corleone e John Wayne.

Mas quem rouba o filme é o austríaco Christoph Waltz no papel do vilão Hans Landa, uma espécie de Sherlock Holmes nazista que se beneficia do único defeito do filme: o excesso de cenas longas, o que dá a impressão de que Tarantino perdeu um pouco a noção de edição de suas cenas.

Sem cortes, em uma espécie de teatro filmado, Waltz ganha os melhores diálogos do filme e dificilmente será esquecido no próximo Oscar, já que seu personagem é tão ou mais odioso que o Coringa de O Cavaleiro das Trevas.

Calcado em um cinema honesto e muitas homenagens ao próprio cinema, Bastardos Inglórios peca também ao estereotipar demais os personagens. Se em Pulp Fiction ficamos temendo pelo destino de vários personagens, sejam eles heróis ou vilões, aqui o tom de farsa trunca a degustação de alguns momentos do filme, como a morte de personagens que acabam com um gosto de “tanto faz”.

O grande mérito do filme, porém, está em trazer ao público de hoje uma boa dose do que havia de melhor no antigo cinema europeu, seja no noir alemão, seja na nouvelle vague, escancarando não apenas a funcionalidade dessas escolas no mundo pop, como também deixa claro que elas já estão presentes ali há muito tempo através de influências que nem sempre foram assumidas. Afinal, essa coisa de copiar como homenagem ganhou força e reconhecimento com Tarantino, mas já houve quem dissesse que era mero plágio – que o digam George Lucas e Steven Spielberg nos anos 70 e 80...

Assim é o cinema de Tarantino, uma homenagem dinâmica ao cinema que consegue instigar cada vez mais os espectadores do acostumados com o pop a procurar saber mais sobre as fontes primárias da 7ª Arte e, quem sabe, entender que a linha que separa - ou talvez costure - estas duas fronteiras é muito mais fina do que tentam fazer crer alguns críticos...

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e