Novo romance de Clinton Davisson mergulha no lado sombrio das lendas folclóricas do Brasil
Resenha de Jorge Luiz Calife
Nascido em
Volta Redonda, Clinton Davisson é um autor muito versátil. Seu primeiro livro
“Fáfia e a Copa do Mundo de 2022” imaginava o futuro do futebol em 1999. No ano
de 2007 ele produziu a sua obra mais ambiciosa até então, a space opera
“Hegemonia – O herdeiro de Basten”, no cenário de um universo fechado, dentro
de uma esfera de Dyson. Paralelamente o autor exerceu uma intensa atividade
acadêmica, se tornando mestre em Comunicação pela UFJF e se pós-graduando em
cultura africana e indígena pela FeMass de Macaé. Seu novo livro “Baluartes –
Terra Sombria” é um resultado dessa experiencia. Trocando o mundo da ficção
espacial pela fantasia de terror ele nos leva a acompanhar as aventuras de três
jovens, caçadores de fantasmas, que desembarcam no Brasil colonial no distante
ano de 1780.
Nossos heróis são o português Luís Monteiro, o príncipe
africano Akim Shinedu do reino do Daomé
e a índia Jaciara, única sobrevivente da tribo dos Oitacás.
Eles são os baluartes, jovens com poderes especiais convocados pela igreja
católica para livrar o mundo das assombrações. E sua primeira missão, num
vilarejo de Minas Gerais, é enfrentar ninguém menos do que a Cuca. Aquela bruxa
mistura de mulher e jacaré que todos aqueles que já tiveram infância conhecem
dos episódios do Sítio do Pica Pau Amarelo. Na verdade, ficamos sabendo que
esta criatura tem uma origem europeia, como muitos fantasmas brasileiros, e lá
no velho continente é chamada de Coca.
A Cuca é malvada e tem muitos poderes. Uma vez, lá no Sítio,
ela bebeu uma poção mágica e se transformou na loira Angélica. Seu objetivo era
seduzir o inocente Pedrinho, mas o feitiço não deu certo e ela acabou ficando
com o Luciano. No romance do Clinton a Cuca do século dezoito é ainda mais
perversa e consegue sequestrar todas as crianças do vilarejo de Ibitipoca.
Conseguindo a ajuda dos curupiras, aqueles guardiões da floresta da mitologia
indígena. Nosso trio de heróis tenta salvar as crianças e acaba caindo em uma
armadilha mortífera. Sim, como diz a música, “A Cuca te pega, e pega daqui e
pega de lá.
Essa primeira parte do livro é cheia de detalhes sobre os
costumes e a vida no Brasil colônia. Na segunda parte voltamos alguns meses no
tempo e estamos na universidade de Pavia, onde o grupo começa a se formar,
alguns meses antes de viajar para o Brasil. Viajando para Gênova os nossos
heróis salvam a vida do músico Amadeus Mozart e da escritora inglesa Mary
Wollstonecraft, que no futuro se tornará mãe da criadora do Frankenstein. Esses
encontros com personagens históricos, como Tiradentes e Napoleão Bonaparte são
outro detalhe pitoresco do livro. O grupo vai parar no sinistro castelo de
Montaldeo, onde enfrenta um fantasma assassino.
Um dos personagens mais interessantes é a Jaciara, que tem o
poder de ver o futuro. Em certo momento ela fala de “um olho que tudo vê” o que
me fez lembrar daquele clássico do filme B, “O Homem dos olhos de raios X” com
o Ray Milland.
O resultado é uma narrativa que se lê com prazer e quando
termina ficamos querendo mais. Quem sabe um confronto com a Mula Sem Cabeça ou
o Saci Pererê. Mas é só esperar. Afinal as aventuras dos Baluartes estão apenas
começando.
Jorge Luiz Calife é jornalista e autor pertencente à vertente
ficção científica “hard”, ou seja, com maior rigor científico, detalhamento e
pesquisa. Foi Calife quem sugeriu a Arthur C. Clarke uma sequência para 2001:
Uma Odisseia no Espaço, inclusive fora creditado por Clarke em 2010: Uma
Odisseia no Espaço 2. Trabalhou também como tradutor de obras importantes da
ficção científica no Brasil como Duna de Frank Herbert e Eu, robô de Isaac
Asimov.
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