segunda-feira, março 13, 2023

Apesar de cansativo, Tudo em todo lugar ao mesmo Tempo explica o mundo polarizado em que vivemos e propõe soluções

Sobre o fato de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo ter levado a estatueta de melhor filme, eu posso dizer que se trata de um filme sobre a guerra entre as três gerações: os Baby boomers nascidos dos anos 40 aos 60, a Geração X, nascida dos anos 60 ao final dos 70, e os mileniais do final dos anos 80 para cá. Talvez isso explique o sucesso da produção dos “Daniels”.

Classificado naquela lista de filmes “ame ou odeie”, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, não conseguiu nem meu amor e nem meu ódio.
Como pai de mileniais, acho muito útil. Como comédia, dei ótimas risadas. Como fã da série Ricky & Morty, sei que já vi coisa muito mais inteligente e engraçada sobre o mesmo assunto. Mas como fã de boas atuações, aí fiquei feliz, porque o diferencial do filme é que temos bons atores que dão peso e credibilidade à trama. Ke Huy Quan dá um show mudando constantemente de personalidade, de tímido, para confiante e até para um galã, tudo isso num picar de olhos, sem que a gente duvide disso. Não vemos Ke Huy Quan, atuando, vemos várias pessoas dentro de um corpo. Isso bastaria para pagar o ingresso.
Já Jamie Lee Curtis está hilária, em uma hora ela é literalmente um monstro, na outra vira interesse amoroso de outro universo.
As homenagens a Matrix, Ratatouille e, claro, a Ricky & Morty não são nada sutis. E o filme fica se explicando a cada 15 minutos para não correr o risco de não ser entendido pela galera que está acostumada a ir ao Youtube para entender o final de filmes... da Marvel...
Mas é como serviço de utilidade pública que o filme se justifica, mostrando o conflito de três gerações. Trata-se de algo que é totalmente antenado com que acontece nesta realidade polarizada em que vivemos. Afinal, Michelle Yeoh é uma mãe de meia idade que tem que lidar com o marido sem sal, o pai que a considera um fracasso e a filha que é uma milenial que se sente incompreendida (pleonasmo, todo milenial se sente incompreendido e acha o esforço para compreender alguma coisa algo extremamente doloroso). Ela tem que fazer a ponte entre a geração do pai, que representa os conceitos e preconceitos preguiçosos do século XX, que não consegue entender nem de perto coisas óbvias (do tipo racismo e homofobia são coisas erradas), e a filha com toda a intolerância que os nascidos no século XXI tem com a geração anterior (para os mileniais, o mundo começou neste século e tudo que existia antes era errado e indigno de esforço para ser entendido, com isso, eles justificam um sentimento de eterno e contínuo cancelamento).
Michelle Yeoh representa a azarada geração X, que nasceu entre os anos 60 e 70, que consegue entender (não exatamente concordar, apenas entender de leve) tanto a geração anterior, quanto a posterior e, por isso, é odiada por ambos. Afinal, não vai cancelar os velhos como querem os jovens e nem cancelar os jovens como querem os velhos.
Neste ponto, sim, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem muito a dizer, tem muito a ser entendido. Não se deixe intimidar pela trama aparentemente complicada pois, como eu já disse, o filme para e se explica a cada 15 minutos. É basicamente uma mãe recrutada por pessoas que têm acesso a um multiverso para impedir que um ser poderoso e rancoroso destrua todos os universos. Esse ser maligno, é claro, é uma versão de sua filha, ou seja, uma milenial que quer acabar com tudo porque acha que isso é mais fácil do que tentar entender o mundo, entender a mãe, entender o avô.
Do outro lado está uma versão do avô que acha que precisa matar a milenial porque, afinal, não tem capacidade para entende-la. Retrato mais fiel do mundo de hoje não há. Por isso levou o Oscar.
Enfim, se você tem filhos que nasceram da década de 90 para cá, principalmente se nasceram neste século, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é obrigatório, mesmo que você ache chato. É um manual de instruções sobre como lidar com mileniais. E acredite, nunca houve uma geração mais complicada de se lidar. Seja um bom pai, seja uma boa mãe e assista, uma, duas, três, quantas vezes for necessário. Não quer dizer que seja um filme bom, não quer dizer que seja ruim. Você não precisa gostar, eu mesmo acho que não gostei. Mas é um filme necessário.

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