sexta-feira, maio 22, 2009

Marley e Eu é a resposta ao Clube da Luta?





Ter um cachorro é algo aconselhado por pedagogos para ajudar no amadurecimento de crianças, amenizar a solidão de idosos e até em tratamento de doenças diversas como a depressão. A frase "melhor amigo do homem" tem uma explicação histórica, ou pré-histórica, já que seres humanos e canídeos convivem e se ajudam há mais de 200 mil anos em uma das simbioses de maior sucesso deste planeta. Pensando nisso, é estranho pensar que existam tão poucos filmes que prestam uma homenagem tão apaixonante sobre esse relacionamento.
Adaptado do livro de John Grogan, Marley e Eu não mostra exatamente o ponto de vista de um cachorro, mas uma visão tocante da vida de um ser humano, usando seu "melhor amigo" como fio condutor da narrativa.
Após se casar com a mulher de seus sonhos, o jornalista John Grogan se muda para a Flórida e resolve comprar um cachorro. O motivo é abrandar a ânsia da esposa por um filho e, ao mesmo tempo, já ir "treinando" a responsabilidade de ambos para quando chegar o neném de verdade. O problema é que o cão escolhido, um labrador, é incontrolável, indisciplinado, desastrado e fica ainda pior durantes tempestades com relâmpagos (coisa muito comum na Flórida). Capaz de destruir tudo o que está ao alcance de suas mandíbulas Marley é denominado por seus donos como "o pior cão do mundo".
Mas John segue sua vida. Obrigado a se tornar colunista de seu jornal, fica frustrado, pois pretendia seguir uma carreira mais investigativa, sonhando com grandes reportagens como as de Sebastian, seu melhor amigo. John passa então a narrar suas desventuras com o incorrigível Marley e a coluna passa a ser um sucesso (que deu origem ao livro).
Baseado no best-seller de John Grogan, Marley e Eu, de certa forma, guarda assustadora semelhança na temática de O Clube da Luta, mostrando a reação do homem contemporâneo confrontado com a desilusão das promessas do sonho capitalista. Afinal, o que acontece quando chegamos aos 30 anos e descobrimos que não seremos astros do cinema, jogadores de futebol ou (no caso do Brasil) participantes do Big Brother? Enquanto o Clube da Luta propõe o linismo como forma de guerrilha ideológica (o exagero das situações mostra a natureza parcialmente metafórica da proposta), Marley e Eu pode facilmente ser acusado de conformista. Mas é aí que reside parte do brilhantismo do filme. Notem, por exemplo, como é interessante o relacionamento entre os dois amigos repórteres fugindo dos clichês do gênero, que não hesitariam em mostrar competição e provocações entre os dois, já que ambos declaram ter certa inveja em relação ao sucesso de cada um em suas respectivas escolhas. Mas esta "inveja" recíproca é respeitosa, passando a ser também uma grande admiração. Assim, o filme vai de encontro aos conceitos convencionais na mídia contemporânea, flertando com o americam way dos anos 50, só que um pouco mais amadurecido. "Você se deu realmente bem, John", admite o amigo ao ver uma foto de sua família.
Enfim, Marley e Eu é um filme que discute o verdadeiro sentido do sucesso. Ter uma família e conseguir criá-la direito ou ter uma namorada diferente a cada semana e ser famoso?
Mas para dar o veredito, o espectador precisa assistir. E vale a pena!