quinta-feira, outubro 10, 2019

Diário de um peladeiro XXVII – Gol do Clintogol



Uma das vantagens de ser perna de pau assumido é justamente que as pessoas não esperam muita coisa de você. Isso é ótimo quando você está com o corpo todo dolorido. E hoje doeu tudo. Voltou a doer virilha, coluna não para de doer há uns 5 dias e ainda estou com os dedos doendo, provavelmente isso tudo é resultado da reta final do projeto de doutorado que me obrigou a ficar três dias seguidos no computador parando só para comer, dormir e ir ao banheiro (mijar, cagar e tomar banho).
Esta semana trocou de série na academia, para quem não sabe, eles mudam os exercícios que você se acostumou a fazer para outros que mexem com outros músculos, o que fez tudo doer mais ainda. Aí, você está lá, se perguntando: o que é que estou fazendo aqui?
Mas essa galera das peladas é tão simpática e acolhedora que a gente fica motivado. Faz parte do processo iniciado desde 2018 de me afastar de gente chata que te bota para baixo e me aproximar de pessoas que tem uma vibe positiva. Levei isso tão a sério que parei de cobrar dois maus caráteres que me deviam muito dinheiro só pela compensação de não ter mais o contato com eles. Valeu cada centavo!
Claro, a balança só descendo o peso mostrando que você está emagrecendo também empolga. Hoje fui na Faculdade de comunicação, fazia umas três semanas que eu não ia e quando entrei no elevador e olhei para o espelho fiquei perplexo com a ausência daquele barrigão da grávida. Entraram umas meninas no elevador entre o 1º e 3º andar e eu nem precisei encolher a barriga para não passar vergonha.
Hoje, aliás, foi um dia engraçado. Para um projeto que estou fazendo no canal, consegui um apoio cultural do Barbeiro Moicano, da barbearia Poderoso Chefão no Santa Cruz Shopping, que fez uma mudança radical no meu visual. Vou precisar disso para a gravação do próximo domingo. Pedi uma coisa estilo Diego do Flamengo, mas me sugeriram Gabigol. Para dar um toque mais cinematográfico ainda, o Moicano ainda pintou meu cabelo de verde. Me senti o Coringa do Joaquim Fênix... Então, lá fui eu, jogar futebol de cabelo verde e barba de Gabigol...
Eu já estou podendo correr e acompanhar todo mundo, já tenho fôlego para isso. O problema é que eu esqueço disso toda hora e fico lá me poupando, economizando energias, coisa que não preciso mais. É difícil lembrar que você tem fôlego agora. Mas eu aprendo. Paciência... Preciso ter paciência... Uma hora as coisas vão entrar nos eixos...
Perdi um monte de gol. Um deles foi no estilo inacreditável futebol clube com o gol vazio e eu chutando por cima. Eu contei pelo menos uns cinco gols feitos por pessoas que supostamente eu deveria estar marcando, mas não marquei. Culpa dessa ilusão de que eu ainda não consigo correr junto. Como falei na outra crônica, preciso aprender a mudar a realidade de dentro para fora. Paciência... Paciência... Paciência...
Ainda falta confiança, ainda falta agilidade e sobra ansiedade. Mas tenho que ter paciência. A convergência entre a zona de conforto em que eu me encontrava e lugar aonde eu quero chegar é complicada, é gradual. A academia mexe com seu corpo, a perna inicialmente endurece e só depois a gente consegue unir a resistência com a tal habilidade.
Mas teve gol do Clintogol sim. Consegui receber uma bola na entrada da área, fingir que ia chutar de esquerda para depois driblar o goleiro e fazer um belo gol. Nunca tinha feio um gol de cabelo verde na vida. Minha singela homenagem ao Coringa e ao Joaquim Fênix.


 Saldo de 2019:
35 jogos
26 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.



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