quinta-feira, outubro 24, 2019

Diário de um Peladeiro III


Cheguei a terceira partida do ano.
Estou errando ainda muitos passes. E engordei demais. Quero voltar a correr, mas ainda estou com muita dor no calcanhar. Vou ao ortopedista semana que vem.
3ª pelada
jejum de duas peladas sem marcar
Chutes para o gol 5. Obriguei o goleiro a fazer duas boas defesas.
Assistências: nenhuma
Falha grave: uma péssima ao sair a bola errada quando estava catando.
Desempenho: não foi a pior do ano, mas errei muitos passes.
Saldo até agora:
3 peladas - 1 gol.

Diário de um peladeiro I - O primeiro gol do ano foi de cabeça

Estava tentando resgatar os textos que publicava em todo lugar menos aqui. Finalmente achei o primeiro diário de um peladeiro de 2019. Acho que tem um resumo de 2018. Mas preciso encontrar.


A primeira pelada foi no campo do Tupi no dia 9 de janeiro de 2019.
Demos sorte, porque teve um problema no campo pequeno e acabamos jogando pelo mesmo preço no grande.
A bola veio num escanteio e cabeceei forte e para baixo. O goleiro não pegou. 


Saldo:
1 gol de cabeça
1 assistência
1 bola na trave
9 finalizações - 5 no gol
Desempenho aceitável mas poderia ser melhor
 

Dário de um Peladeiro Parte VI

(essa parte do diário está fora de ordem porque inicialmente eu não publicava aqui no Blogger, está é a parte VI que estava faltando. Ainda não achei a bendita parte I de 2019)

Essa coisa de atleta de final de semana não está dando certo.
Passei a semana toda praticamente deitado com um livro na mão. Li três livros para o doutorado e quando chega sábado vou lá tentar acompanhar gente com menos da metade da minha idade.
Me senti meio exausto, tonto e terrivelmente abatido.
Não sei se foi o pior desempenho em peladas do ano, mas acho que foi.
Fui mal no gol, perdi uns 5 gols feitos, não lembro de ter dado uma assistência.
Duas cabeçadas para fora. Um chute a queima a roupa que o goleiro pegou com uma cara de tédio humilhante.

Mas a luta continua. O bom é que corri e me diverti com os amigos.

O bom foi depois da pelada, sair com os amigos para tomar uma cerveja. Primeira de 2019.
Aí, sim, consegui desestressar da semana de estudo. Cerveja só, como são as coisas, né?

Saldo: 6 jogos 4 gols
 — com Lucas ScafutoRicardo BeghiniLuís Fernando Oliveira e Victor Lamas.

segunda-feira, outubro 21, 2019

Diário de um peladeiro XXIX –Dois jogos, dois gols


Para quem não sabe ou não lembra, esse blog começou com um objetivo claro: me ajudar a fazer do futebol uma arma contra a depressão e ansiedade. Porque a coisa estava brava em 2019. O resultado foi tão positivo que já me deram duas dicas importantes: transformar isso em um livro e em um podcast. Uma coisa que mexeu muito comigo foi uma frase da minha querida amiga, Priscila Lhacer, da editora Presságio e que é uma batalhadora pela diversidade. Ao ler alguns dos textos do blog, ela afirmou que falta exatamente isso no mercado: homens héteros escrevendo para homens héteros sobre fragilidades de homens héteros. Normalmente a mídia e a sociedade nos trata como brutamontes que não podem ter sentimentos, vulnerabilidades e fraquezas. Ironicamente parece que a depressão da mulher é mais socialmente aceita que a do homem. Não sei se isso é verdade, mas sei o que senti na pele e, se venci essa doença, foi com a ajuda desse blog, com a ajuda do futebol e, principalmente, com a ajuda de amigos, dentro e fora do campo.
Dito isso, vamos aos jogos e esta semana foram três dias de futebol. O de terça-feira, já falei na crônica passada. Vamos falar dos jogos de quinta e sábado.
Bom, equilibrar condicionamento, preparo físico, alimentação enquanto faz doutorado, tudo isso depois dos 40 anos, é um troço complicado. Mas acho que está funcionando, ainda que aos trancos e barrancos.
Esta semana não passei bem. Tive mal-estar, indisposição e enjoo. Isso atrapalhou um pouco a academia. Acho que junta nervosismo dos estudos e projetos (estou fazendo um curta metragem e mandando roteiro para editais), estresse, ansiedade e, sobretudo saudade dos filhos (agora estou longe de todos os três). Mas sim, o saldo foi positivo dentro e fora de campo.
A pelada de quinta, que costuma ser a mais puxada fisicamente, foi a mais fácil. Estou aguentando correr e correr muito. Toda hora tenho que me lembrar que posso correr e não mais ficar me poupando. Uma hora de jogo passou a ser pouco. Os novos exercícios da academia estão me dando um equilíbrio corporal que eu não tinha. Mas falta pontaria. Muita pontaria.
Quinta fiz dois gols no coitado do Léo, que estava de goleiro. Teria feito pelo menos mais dois se eu ainda estivesse meio lerdo nas decisões. O primeiro foi em uma disputa de bola em que acabei caindo e tocando para o gol ainda deitado. E o segundo foi novamente o chute de longe de direita funcionando. Agora teve uns 5 chutes que foram para o lado errado. Lembro do goleiro fazendo algumas defesas também. Mas a pontaria, principalmente da perna esquerda, precisa melhorar muito. E tem um lance que o Léo (ele de novo) chamou a atenção: ser mais firme na hora de dar o passe. Estou com uma mania terrível de, quando preciso decidir entre dois companheiros de time para tocar, passo a bola no meio, entre os dois. Ou seja, não decido, finjo que decido. Isso é horrível.
E ainda teve um lance que matei a bola na barriga, de frente para o gol e, ao invés de emendar de primeira, tentar dominar. Mas o fato é que me senti tão confortável, coisa rara nos jogos de quinta-feira, que chutei várias vezes para o gol de posições diferentes. Chutes bons, chutes bonitos. Mas a pontaria...
Depois veio a pelada de sábado, a qual normalmente é mais tranquila porque o campo é maior. Para minha surpresa, foi uma pelada corrida, com poucas chances de gol. Acho que a “fomiagem” de fazer gol, me impediu de ficar mais na defesa e tentar organizar melhor o time. Chutei várias vezes, mas sempre com pouca pontaria.
A melhor chance foi numa sobra depois da defesa do goleiro. Era o caso de ter frieza para matar a bola e tocar para o gol. Decidi tentar pegar de primeira e até que foi uma jogada bonita, quase um voleio estilo Bebeto. Mas foi para fora. Novamente faltou pontaria.
Mas é isso aí. Não senti dores, sobrou fôlego, estou usando mais a “ginga” e acho que se melhorar a pontaria a coisa toda melhora muito. Com 28 gols, estou ainda a quatro gols de alcançar o Gabigol na temporada. Mas estou à frente do Mbappe (PSG – França) – 25 gols, Ibrahimovic (LA Galaxy – EUA) – 27 gols, Cristiano Ronaldo (Juventus – Itália) – 15 gols. Mais dois e eu igualo o Messi, com 30...kkkkk
Mas o objetivo é superar eu mesmo e fazer mais gols do que jogos. Nesse ponto, ainda preciso suar um bocado a camisa.

Saldo de 2019:
37 jogos
28 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.



quarta-feira, outubro 16, 2019

Diário de um peladeiro XXVIII – O dilema do carregador de piano


Desde que foi fundado no início dos anos 70 que o Clube Campestre Moinho de Vento de Barra Mansa-RJ realizava jogos contra times de fora. Já veio uma espécie Seleção de Masters – lembro que o Nunes ex-flamengo estava lá – jogar contra o nosso time adulto. Era um dos melhores e mais bem cuidados campos de futebol da região. Praticamente todo jogador que se preze nascido na região sul fluminense e que chegou a ter destaque no futebol nacional naqueles tempos jogou ali: Cláudio Adão, Deley, Darci, Lugão... Além de jogadores, passaram prefeitos, deputados, todo mundo jogou ali. Estranhamente o Clube perdeu força depois que mudei de Volta Redonda. Nunca ouvi falar que Felipe Melo, nascido em Volta Redonda, tenha aparecido por lá. Nem meu primo, Rafael (ex-Flamengo e São Cristóvão) deve ter aparecido por lá.
Mas nos bons tempos, o nosso time “das crianças” também jogava contra vários adversários, uma vez enfrentamos o juvenil do Flamengo, aquele oficial, mesmo, da Gávea.
Naquela época eu era o famoso carregador de piano. Aquele cara que corria por todo o time. Jogava de zagueiro ou lateral direito, dependendo de quem aparecia. Não era de arriscar muito e dificilmente subia para o ataque. Gostava de descobrir quem era o melhor jogador do time, aquele que armava as jogadas e pronto. Ia lá anular o cara. Nunca fui de bater, só por falta de coordenação motora talvez... Às vezes, o armador era um cara que vinha de trás. Como um líbero e só assim eu ia para o ataque, para marcar o armador.
Às vezes, dava umas arrancadas, apenas para dar passes para o gol, roubava bolas no meio de campo para acionar contra-ataques, mas fazer gol que é bom, nada. Não me sentia obrigado, não me cobrava isso.
Eu curtia jogar para o time. Puxar a marcação para dar espaço para o atacante marcar, atrapalhar o time adversário até a bola sobrar, roubar uma bola e armar um contra-ataque. Achava isso uma virtude até pouco tempo atrás. Mas quando a gente faz aquela coisa que eu adoro: usar o futebol como metáfora para a vida, isso tem um Porém muito grave. Às vezes, em um ambiente de trabalho, se você é um carregador de piano, você depende do reconhecimento do time, ou, no caso, as pessoas que trabalham com você.
Quando em um determinado caso em que você é demitido e mais cinco jornalistas pedem demissão como sinal de reconhecimento... A gente se sente muito bem. Mas tem horas que tem muito mal caráter na equipe. E aí, você pode se decepcionar. Principalmente quando seu chefe tem o hábito de ser um completo idiota.
 E sim, os amigos do Moinho de Vento, mesmo sendo os melhores amigos que eu já tive até hoje, eram crianças entre 12 e 16 anos. E eles me zoavam porque o carregador de piano não fazia gol.
Pois bem, em determinado momento, percebi que, apesar de nas peladas eu marcar gols frequentemente, em jogos oficiais, eu tinha nada menos que o saldo de um gol a favor e dois contra. Números são números. E eu não gostava daqueles números. Passei então a jogar só de lateral direito, inspirado em 99% no Jorgindo, mas com boas referências como o Ayupe, Luiz Carlos Wink, Carlos Alberto Torres e Mazinho que era esquerdo, mas jogou uma Copa América inteira de Lateral Direito. Eu ia ao ataque, driblava, voltava correndo na defesa e cortava, depois vinha com a bola armando jogadas. Eu era agora o carregador de piano que fazia gols. Eu era o Mestre do Universo, mais que isso, eu era o Jorginho do Moinho de Vento.
No primeiro jogo  em que tomei essa iniciativa, já virei o placar fazendo dois gols. Um de pênalti e outro de fora da área. Depois foram muitos e muitos, mas confesso que essa ideia de contar gols só me ocorreu agora depois de velho. Não tenho a mínima ideia de quantos eu fiz em jogos “oficiais”. Mas foram muitos.
Hoje não saiu gol, mas tive essa sensação de carregador de piano. Por incrível que pareça, eu gostei. Talvez porque voltei a ter fôlego para fazer esse papel, talvez porque estivesse entre gente que eu sabia não ser mau caráter. Na verdade, encontrei velhos amigos da faculdade hoje e foi muito legal.
Tive uma ideia ótima. Deixei para ir para academia às 19h30 e saí as 21h direto para o futebol. Cheguei lá literalmente superaquecido. Gostei de jogar na defesa e tive oportunidades de gol, só que, para variar, faltou a ginga e desta vez pontaria. Acontece. Mas a ginga vai chegar. Preciso perder mais peso ainda. Estacionei em 88kg. Era para ter perdido mais 1kg ou pelo menos 1/2 esta semana, mas saí da dieta bonito. Não foi de graça: passei muito mal desde sexta-feira e só fui melhorar hoje.
Mas a luta continua. A matemática é simples, menos peso = menos dor = mais gols. Então, continuamos com o projeto tanquinho. Embora ainda tenha que carregar essa máquina de lavar roupa na barriga.

Saldo de 2019:
36 jogos
26 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.



quinta-feira, outubro 10, 2019

Diário de um peladeiro XXVII – Gol do Clintogol



Uma das vantagens de ser perna de pau assumido é justamente que as pessoas não esperam muita coisa de você. Isso é ótimo quando você está com o corpo todo dolorido. E hoje doeu tudo. Voltou a doer virilha, coluna não para de doer há uns 5 dias e ainda estou com os dedos doendo, provavelmente isso tudo é resultado da reta final do projeto de doutorado que me obrigou a ficar três dias seguidos no computador parando só para comer, dormir e ir ao banheiro (mijar, cagar e tomar banho).
Esta semana trocou de série na academia, para quem não sabe, eles mudam os exercícios que você se acostumou a fazer para outros que mexem com outros músculos, o que fez tudo doer mais ainda. Aí, você está lá, se perguntando: o que é que estou fazendo aqui?
Mas essa galera das peladas é tão simpática e acolhedora que a gente fica motivado. Faz parte do processo iniciado desde 2018 de me afastar de gente chata que te bota para baixo e me aproximar de pessoas que tem uma vibe positiva. Levei isso tão a sério que parei de cobrar dois maus caráteres que me deviam muito dinheiro só pela compensação de não ter mais o contato com eles. Valeu cada centavo!
Claro, a balança só descendo o peso mostrando que você está emagrecendo também empolga. Hoje fui na Faculdade de comunicação, fazia umas três semanas que eu não ia e quando entrei no elevador e olhei para o espelho fiquei perplexo com a ausência daquele barrigão da grávida. Entraram umas meninas no elevador entre o 1º e 3º andar e eu nem precisei encolher a barriga para não passar vergonha.
Hoje, aliás, foi um dia engraçado. Para um projeto que estou fazendo no canal, consegui um apoio cultural do Barbeiro Moicano, da barbearia Poderoso Chefão no Santa Cruz Shopping, que fez uma mudança radical no meu visual. Vou precisar disso para a gravação do próximo domingo. Pedi uma coisa estilo Diego do Flamengo, mas me sugeriram Gabigol. Para dar um toque mais cinematográfico ainda, o Moicano ainda pintou meu cabelo de verde. Me senti o Coringa do Joaquim Fênix... Então, lá fui eu, jogar futebol de cabelo verde e barba de Gabigol...
Eu já estou podendo correr e acompanhar todo mundo, já tenho fôlego para isso. O problema é que eu esqueço disso toda hora e fico lá me poupando, economizando energias, coisa que não preciso mais. É difícil lembrar que você tem fôlego agora. Mas eu aprendo. Paciência... Preciso ter paciência... Uma hora as coisas vão entrar nos eixos...
Perdi um monte de gol. Um deles foi no estilo inacreditável futebol clube com o gol vazio e eu chutando por cima. Eu contei pelo menos uns cinco gols feitos por pessoas que supostamente eu deveria estar marcando, mas não marquei. Culpa dessa ilusão de que eu ainda não consigo correr junto. Como falei na outra crônica, preciso aprender a mudar a realidade de dentro para fora. Paciência... Paciência... Paciência...
Ainda falta confiança, ainda falta agilidade e sobra ansiedade. Mas tenho que ter paciência. A convergência entre a zona de conforto em que eu me encontrava e lugar aonde eu quero chegar é complicada, é gradual. A academia mexe com seu corpo, a perna inicialmente endurece e só depois a gente consegue unir a resistência com a tal habilidade.
Mas teve gol do Clintogol sim. Consegui receber uma bola na entrada da área, fingir que ia chutar de esquerda para depois driblar o goleiro e fazer um belo gol. Nunca tinha feio um gol de cabelo verde na vida. Minha singela homenagem ao Coringa e ao Joaquim Fênix.


 Saldo de 2019:
35 jogos
26 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.



sábado, outubro 05, 2019

Diário de um peladeiro XXVI – Duas peladas sem marcar. Estava bom demais para ser verdade





Eu confesso. Achei que depois do sucesso da pelada de retorno com quatro gols, tudo seria só alegria: gols em profusão, mulheres se oferecendo na saída do jogo, contratos de patrocínio, Real e Barcelona brigando pelo meu passe. Mas a vida... Esta sim é uma caixinha de surpresas. E foram duas peladas seguidas sem marcar gol. E apesar de me sentir muito, mas muito melhor fisicamente por causa da malhação, não virei nenhum atleta de triátlon por causa de apenas um mês de academia. Que surpresa!

Claro que eu saí da droga da dieta durante a semana, dormi mal, estresse bravo porque tive que entregar o projeto da Funalfa e o do Doutorado. Mas não sei se essas são as desculpas apropriadas. Acho que não necessariamente precisa de uma desculpa. Joguei melhor, corri melhor, um dia é do caçador, mas tem dia que o mamute foge.
Mas analisando profundamente – e minha profissão é analisar coisas profundamente, fazer o que? -, ainda tem o fator do efeito Pigmaleão a ser vencido.
Eu explico: para quem não sabe, a culpa maior do racismo ter sobrevivido forte no mundo “civilizado” nos últimos 300 anos tem mais a ver com um erro da própria ciência, que acreditava realmente que a cor de pele e as etnias influenciavam na capacidade mental e do caráter da pessoa.
Mas a vantagem da ciência é que ela demora, mas acaba se corrigindo. Um dos golpes de misericórdia que baniu o racismo do meio científico foi só em 1963, com um estudo dos psicólogos norte-americanos, Robert Rosenthal e Lenore Jacobson. Eles demonstraram o que resolveram batizar de Efeito Pigmaleão. Inspirada no escultor grego, Pigmaleão que se apaixonou por sua própria escultura, Galatea, e pediu a deusa Vênus para dar vida... Tem a ver com o efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com ela, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela.
Eles fizeram um teste falso de inteligência com um grupo de crianças escolhidas aleatoriamente e MENTIRAM para os professores e para elas apontando um grupo que teria ido muito bem no teste e outro grupo que teria ido mal.
Assim, havia um grupo do qual se esperava muito e outro do qual se esperava pouco. Um ano depois fizeram um teste de verdade e as crianças apontadas aleatoriamente como as mais inteligentes realmente foram melhores nos testes. Isso provou que os professores, achando que aquelas crianças eram “melhores”, dedicaram-se mais a elas, deram mais atenção e incentivo. E as crianças, por sua vez, ganharam confiança porque receberam rótulos de “melhores” na testa. Logicamente quem foi rotulado de pior, acabou indo mal, pois era o que todos esperavam dele.
Isso provou que tratar negros como marginais ou mais propícios ao esporte e trabalhos braçais e brancos como seres mais inteligentes, mais propensos ao serviço intelectual acabava influenciando no comportamento e no destino destes indivíduos.
Enfim, para quem não sabe, ou não lembra, eu parei em 2003 porque machuquei a coluna e só voltei em 2015. Como com os problemas físicos, somados a falta de preparo, é normal que, mesmo melhorando um pouco, os colegas ainda pensem duas, três, quatro, cinco, quarenta e sete vezes, antes de tocarem a bola, mesmo que eu esteja só eu e o gol. Não é culpa deles, eu fiz as contas e a estatística é que eu acertava um a cada 5 chutes ao gol. Então, sim, eu sou do grupo de baixas expectativas no gramado.
Então, agora que o preparo físico está melhor, tenho que arriscar mais e melhorar na parte técnica para fugir do efeito Pigmaleão.
A notícia boa é que não tem nada doendo, estou correndo mais e cansando menos. Eu cansei mais hoje provavelmente porque dormi mal. Mas li três artigos científicos entre meia noite e quatro horas da manhã. Chupa insônia!
Sobre os jogos, até que não fui ruim. Quinta dei até passe de calcanhar cheio de estilo e hoje mandei uma bola na trave e fiz um corta luz bonito em um chute de longe que enganou o goleiro. Não vou reivindicar co-autoria do gol porque, ao contrário do Bahiano semana passada, eu nem encostei na bola. Mas foi uma participação direta.
Então é isso. Futebol continua sendo meu termômetro para ansiedade e sobre como eu me vejo, vejo a minha realidade e minhas expectativas. Talvez esta semana as minhas Galateas tenham sido os projetos para a Funalfa e o Doutorado. Talvez eu tenha gasto tanta energia neles que não sobrou muito para o futebol e este se tornou apenas um ponto de apoio, um ponto para abrandar o estresse e não um objetivo pelo qual eu devesse gastar energia. Sim, na verdade o futebol carrega em seu pacote a alegria de praticar esporte com pessoas legais e neste ponto eu dou muita sorte de estar sempre em boas companhias. Isso é meu combustível, meu agente antiestresse para dar força para outros projetos. Se a deusa Vênus transformar minhas Galateas em realidade já terá valido muito a pena.


 Saldo de 2019:
34 jogos
25 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.


sábado, setembro 28, 2019

Diário de um peladeiro XXV - hat-trick na melhor pelada de 2019

Polêmica! Eu fiz 3 ou 4 gols hoje? Eu explico. O quarto gol saiu de uma sobra de dentro da área. O goleiro rebateu e a bola veio lindinha para meu pé direito. Bati de primeira em direção ao gol e o meu comparsa de ataque, o Bahiano (Vitor), ainda tocou nela praticamente em cima da linha e de letra para ficar ainda mais bonito. A torcida – Sim, hoje teve até torcida – falou que o gol era mais meu do que dele. Brincamos então que iríamos esperar a súmula do juiz para ver para quem ele daria o gol. Como quem escreve a bendita crônica aqui sou eu, isso me torna tecnicamente o responsável pela súmula. Então, no melhor estilo Sérgio Moro, vou mandar a imparcialidade para o saco e apitar descaradamente a meu favor. Se o Sérgio Moro pode, eu também posso. Então, sim, foram quatro gols. E vamos combinar, pelas minhas contas o Bahiano deve ter feitos uns 437 gols hoje, além de me dar um belíssimo passe para meu segundo gol. Então, a gente divide. Quatro para mim e 438 para ele. De qualquer forma, pela primeira vez em 2019 que fiz um hat-trick. A primeira vez que me deparei com o termo hat-trick foi em um jogo do Super-nintendo, o International Super star Soccer. Quando um jogador fazia três gols numa partida, aparecia esse hat-trick na tela. Etimologicamente falando, o termo Hat-Trick, ou truque do chapéu, vem dos mágicos que faziam o famoso truque de tirar um coelho da cartola. Na era vitoriana, era comum o mágico tirar três coelhos da cartola e em 1858, o termo foi usado por um jornal num jogo de cricket para descrever a atuação de um jogador que tinha feito muitos pontos. O resto é história. Eu não tinha feito mais de dois gols na mesma pelada este ano ainda. Ano passado foram três peladas em que fiz três gols. Todas no Tupi. Mas quatro acho que não faço desde setembro de 2013. Naquele dia eu fiz cinco e era futebol de salão. Neste período de setembro no qual fiquei sem jogar por conta do departamento médico, entrei para uma academia e tomei um monte de remédio para resolver a questão da dor no púbis, doravante batizada de lesão da virilha. Verifiquei e o termo correto é lesão no púbis, mas toda vez que falo em inflamação no púbis parece que eu sou o feliz proprietário de uma vagina inchada. Então púbis fica sendo virilha. Depois das primeiras duas semanas de adaptação na academia, eu resolvi dar um passo adiante e fiquei a terceira semana sem comer pão e tomar refrigerante. No total, perdi 4 kg em um mês. Na prática, eu perdi o que havia ganho entre junho e agosto. Votei para 89 kg. Eu preciso chegar a 84, mas vou fazer isso com calma. Ainda sem refrigerante e sem pão, mas sem exageros na esteira. Sobre o jogo, foi a minha melhor partida de 2019. Posso citar dois ou três passes errados, mas, tirando isso, foi só alegria. O primeiro gol foi um chute forte cruzado de fora da área, peguei bem na bola e ela fez uma curva linda, voando e pousando no chão, bem longe do goleiro. Depois foi o passe perfeito do Bahiano. O passei veio tão açucarado que fiquei com medo de pegar diabetes, mas peguei foi a bola na corrida no meio de três que chegaram atrasados. O goleiro ainda tocou nela, mas foi em vão. O terceiro foi outra bola que recebi na intermediária, ameacei tocar, mas chutei cruzado. O goleiro nem reagiu. E o quarto foi o polêmico que já mencionei e que vou dividir com o Bahiano. Deu para dar uns dribles, coisa que eu já havia até esquecido como era. Disputar e ganhar algumas bolas no meio de campo, dar passes para pelo menos dois gols e iniciar a jogada de mais uns três. Ganhei até aplausos da torcida que, vamos deixar bem claro, era composta pelo Victor Lamas e mais quase seis pessoas. Consegui correr bem, mas por vários momentos o cansaço pegou e agora com a academia as pernas doem de um jeito diferente. Futebol é uma coisa, esteira é outra. Vai demorar para pegar um bom ritmo de jogo. Mas não tem comparação, não tem coisa melhor que terminar o jogo sem aquela sensação que fui atropelado por um caminhão e depois estuprado por um mastodonte. Ainda mandei uma bola na trave quase do meio de campo. Em determinado momento do jogo veio uma bola pelo alto, lenta e precisa, na entrada da área. Eu estava sozinho, eu com a camisa 14 do Arrascaeta (comprei no Camelô) na entrada da área, de costas para o gol. Logicamente, me veio a vontade de tentar uma bela bicicleta. Estava tudo lá, a posição certa, o vento a favor, a conjunção dos astros alinhada, mas eu tive tempo de pensar e lembrei que mesmo se acertasse a bicicleta e fizesse o gol mais bonito da minha vida, eu teria que saltar, me atirar no ar com as pernas para cima e quando minha bunda aterrissasse novamente em solo brasileiro, haveria 90% de chances de todo o peso do meu corpo cair exatamente no local da minha lesão da coluna. Achei melhor não. Mas dei um belo passe que resultou em quatro ou cinco chutes consecutivos que não acabaram em gol. Melhor assim. Se eu chegar aos 84 kg talvez eu esteja mais disposto a inventar moda. Talvez a melhor lição disso tudo é que valeu a pena o sacrifício de largar pão e refrigerante. Valeu as horas na academia. Quer dizer que sacrifícios valem a pena? Essa é a pergunta que mais me fiz nos últimos anos. É como se rezasse ou orasse para o universo, para controlador da Matrix, talvez até para um deus, seja ele o Jeová dos cristãos, o Olódùmarè dos Yorubás, Brahma dos hindus, Odin dos meus antepassados nórdicos, ou Zeus dos gregos. Perguntei isso em voz alta semana passada imaginando se alguém, alguns deles, me responderia. Não sei quem respondeu, mas não há dúvidas que houve uma resposta clara: um grande “Sim”. E para não haver dúvidas, responderam quatro vezes, sim! Obrigado então, a todos os deuses pela resposta, estejam vocês onde estiverem. Saldo de 2019: 31 jogos 25 gols Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

sábado, agosto 31, 2019

Diário de um peladeiro XXIV – Despedida temporária dramática

Era uma vez um garoto que não gostava de futebol, mas foi obrigado a aprender a jogar para se socializar. Naturalmente, o garoto se apaixonou pela bola ainda que tardiamente. Talvez por essa paixão ter sido tardia, às vezes, tenho a impressão de que nem sempre ela é correspondida. Mas o fato é que foi jogando bola que descobri coisas como amizade, companheirismo, trabalho em equipe... Acho que descobri quem eu realmente era. Descobri a mim mesmo.

Eu tinha 12 anos e quem me ensinou foi um moleque de 10. Sim, um garoto que usava uma bermuda muito engraçada, feita pela mãe. Parecia a roupa do Chaves. Mas ele fazia igual a um treinador de verdade. Me ensinava a chutar com toda a paciência do mundo. Eu chutava, errava o gol, isolava a bola e ele mantinha a calma e dizia: “Tudo bem, eu vou buscar a bola, fica calmo e tenta de novo”. E o cara era meu professor mesmo, me ensinou a matar no peito, a cabecear... Aprendi muito com ele. Mas tinha um outro, um lourinho encapetado que jogava muito, mas muito, mesmo.

Este, porém, vivia brigando comigo, me provocando porque eu era mais velho e era um perna de pau. E quando digo brigando, falo nas vias de fato. Socos e pontapés. Uma vez peguei ele no colo e arremessei longe de tanta raiva. Assim, eu ficava lá: o aprendiz de 12 anos de dois moleques de 10. Deu certo. Aprendi, eu acho.

Entre uma briga e outra, o louro encapetado foi se tornando meu amigo também. Foi uma coisa estranha porque ele me chamou para sair, fiquei tão desconfiado que cheguei meia hora atrasado e lá estava ele esperando. Fomos ao cinema, viramos amigos. Na verdade, até hoje, esses dois são meus dois melhores amigos neste mundo.

Os anos se passaram e ele fez 14 anos e foi fazer teste em São Januário no poderoso Vasco da Gama. Era certo que entraria. Ele era muito bom. Sempre achei que ele acabaria na Seleção. Me chamou para fazer companhia. Fomos eu, ele e o pai dele de carro para São Januário. Lembro que no carro tocava uma fita do Engenheiros do Hawaii, acho que escutamos a música “Tribos e Tribunais” umas dez vezes entre Volta Redonda e o Rio de Janeiro.

Chegando lá, o pai dele cismou que eu também deveria fazer o teste. Falei que não levei chuteira. Um cara arrumou para mim. Entrei num ônibus e fomos para um lugar ali próximo. Acho que era o campo do São Cristóvão. Um campo de terra, sem um tufo sequer de grama. Sem grama e sem responsabilidade, eu joguei leve, feliz. Corri o campo todo e num escanteio fiz um gol de cabeça.

No final, saí contente. Fui perguntar para meu amigo como foi. Ele não tinha passado. Mas conseguiu agendar um outro teste para a próxima semana. Mesmo assim, mesmo tentando disfarçar, vi que ele estava chorando. Aquilo era realmente importante para ele.

Quando fui devolver as chuteiras, o técnico me chamou. “Você aí, grandão. Fica aí. Fala com teu pai que você vai ficar”. Entendi que eu, o perna de pau, tinha passado na peneira do Vasco da Gama. Logo eu, que no começo odiava futebol, que comecei a jogar com 12 anos. O cara ainda emendou: “Golaço de cabeça! Tu tem raça e sabe se posicionar na defesa”.

Eu falei que não fui eu quem fez o gol. Eu não sei quem era o tal técnico. Nunca mais vi. Mas ele era esperto. Ele entendeu. “Eu vim só para acompanhar”, falei baixinho para que o meu amigo não percebesse. Ser jogador de futebol era o sonho dele, não o meu. Ao menos não naquela época. Naquela época eu tinha a ingênua ilusão que estudar no Brasil me levaria a algum lugar. “Você é amigo, mesmo”, disse o técnico. “Mas pensa direito. Qualquer coisa, volta semana que vem”. Nunca mais voltei.

Quando o amigo veio e perguntou o que houve, eu disse que o cara ficou puto que estraguei a chuteira... Ele não falou nada. Nunca perguntei depois se ele acreditou na mentira ou não.

Pois é... Deixando para trás a década de 80 e voltamos à pelada de hoje, sábado, último dia de agosto, de 2019, foi para fazer uma despedida decente. Vou ficar apenas um mês sem jogar futebol. Ficarei tomando anti-inflamatório e tentarei não engordar. Mas a última pelada foi tão ruim que resolvi transformá-la em penúltima. Assim sendo, resolvi fazer um jogo de despedida que fosse decente. E foi!

Continuo correndo bem. Fiz boas jogadas. Teve um momento que entendi que não dava para ficar indo e voltando na defesa e para o ataque, então revezava. Hora ficava na frente, hora defendia. O gol foi o famoso gol de videogame com uma boa troca de passes iniciada pelo meu eterno garçon, Bruno Kaehler. Só tive o trabalho de tocar para a rede. Ainda chutei duas vezes, mas o goleiro defendeu. Numa delas, dei um corte seco para dentro, limpei e chutei. Se tivesse mais um segundo para mirar, teria sido gol.

Claro que nunca mais vou ter 16 anos. Mas me pergunto o quanto posso melhorar, me aproximar do sol e sair da sombra daquele meu eu do passado, que jogava com a camisa 14 do Moinho de Vento?

Porque às vezes, fica claro que há um abismo entre o Tato que parou de jogar em 2003 com o Clinton que voltou aos “gramados” em 2015. Não que eu chegasse a ser um grande craque, mas tinha meus dias... Ninguém aliás, me chama mais de Tato, agora é só Clinton.

A pergunta se responde quando a gente joga novamente com a metáfora: futebol x vida. Às vezes, penso que tudo que aconteceu nos últimos anos, tantas cosias ruins que não valem a pena serem postadas. Na verdade, o segredo é justamente esquecer as coisas ruins. Esquecer as bolas na trave da vida e lembrar dos golaços. Mesmo aqueles que a gente teve que dizer que não fez porque era a atitude mais correta naquele dia. Em outras situações, enfrentamos pessoas que que insistem em dizer que não fizemos gol algum, ou que o gol não valeu. E tem uma situação ainda mais crítica: quando as pessoas que não querem nos dar crédito somos nós mesmos. Assim, quando paramos de dar crédito às nossas próprias vitórias, de certa forma, paramos também de viver.

Na metáfora futebol x vida, entendo que o meu gol mais bonito não foi um que não esquecerei nunca, com 14 anos, no campo do lago, driblando todo o time do Flamengo, inclusive o goleiro. Era o “Flamenguinho de Barra Mansa”, mas não interessa. Driblei o time inteiro, foi tão bonito que meu pai invadiu o campo para me abraçar. Nem aquela bola no ângulo no treino do Voltaço. Muito menos aquele gol afirmei não ter feito em São Januário. O gol mais bonito foram três. Uma menininha de olhos muito claros que me olhou pela primeira vez nos braços da enfermeira em 1992. Parecia um sorvetinho e que hoje é uma bela psicóloga trabalhando em São Paulo. E dois meninos que nasceram juntos em 2007. Nasceram lindos como a mãe, mas muito doentes, a enfermeira os chamava de “bebês graves” e que tive que esperar um mês para poder abraçá-los. Hoje sinto os três longe de mim tanto fisicamente quanto fraternalmente. E isso acontece há tanto tempo que sinto que estou perdendo a autoria deles. Sinto que estou perdendo o direito de me dizer pai destas três pessoas. Com eles, percebo que também perco a mim, mesmo. Deixo de ser o Tato, deixo de ser o Clinton e me transformo em alguém que não é nada.

 Às vezes, os gols mais bonitos são aqueles que comemoramos sozinhos, sem alarde, em silêncio e de longe. Costuma-se dizer que, quando criança, choramos bem alto para chamar a atenção. Na vida adulta aprendemos a chorar em silêncio, à noite, no escuro, não por gols perdidos, mas com saudade dos golaços que já fizemos e mantemos a esperança de que voltem a fazer parte da nossa vida.

Talvez essa seja a grande motivação em relação ao futebol: uma necessidade intrínseca de novamente encontrar a mim mesmo dentro do gramado. Foi lá que me encontrei da primeira vez. Talvez eu ainda esteja ali. Quem sabe?

 

Saldo de 2019:

30 jogos

21 gols

Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

segunda-feira, agosto 26, 2019

Diário de um peladeiro XXII – Duas peladas nenhum gol e hora de tirar 30 dias de férias do futebol



Acho que 2019 é um daqueles anos de superação. Digo isso porque 2018 o pior ano da minha vida. Sem sombra de dúvidas. Estas crônicas de peladeiro representam muito o meu lema para 2019, roubado descaradamente de “Procurando Nemo”, ou seja, “Continue a nadar”, no meu caso, continue também a jogar. Entretanto, tem horas que a gente tem que dar um passo para trás para poder seguir mais firme para frente. A dor no púbis finge que melhora e depois piora. Confesso que não fui ao médico (de novo) especificamente para tratar sobre isso porque não me acostumo com os serviços do SUS. É muito constrangedor ir ao médico e ele te olhar com uma cara como se eu estivesse cometendo um pecado terrível ao tomar o tempo dele com meu púbis inflamado por futebol enquanto ele poderia estar salvando um bombeiro que caiu da escada ao salvar um gato, um policial que fraturou o fêmur perseguindo um terrorista, ou mesmo um tumor cerebral no secretário da ONU que deverá fazer um discurso que impedirá a terceira guerra mundial (Para quem não sabe, este é parte do plot dos filmes Viagem Fantástica e de Fuga de Nova Iorque).
Durante meus “anos de glória do futebol” havia o Eduardo, um português dono de uma rede de padarias em Barra Mansa. Uma simpatia de pessoa. Me contava com orgulho que foi patrão do Zinho, ex-Flamengo, Palmeiras e Seleção Brasileira.
Apesar de simpático, Dudu era terrível com a bola nos pés. Mas até nisso ele era simpático, porque reconhecia suas limitações. Ficava praticamente debaixo da trave a espera de uma bola para chutar ao gol. Não sentia nenhum constrangimento com isso. Estava de boa com a gente e a gente estava de boa com ele.
Sempre admirei aquela capacidade de aceitar os próprios limites, de estar ali pelo prazer de estar. Hoje, muitas lesões depois, cá estou eu, renegado a função do Dudu nas peladas de quinta. É engrado pensar em aceitar os limites. É exatamente o que preciso fazer, mas, já diria o sábio Jedi, Obi Wan Kenobi, tudo é uma questão de ponto de vista. Afinal, eu acho que minha limitação ainda não é ter que ficar embaixo da trave, esperando uma bola sobrar. Minha limitação talvez seja não ter ainda humildade suficiente para me relegar a posição do nobre português. Assim, depois de um tempo, parei de fazer a bendita posição. Saí debaixo da trave e fui buscar jogo. Deu certo.
Não posso dizer que foi exatamente um dia bom. Meus chutes teimaram em ir sempre para o lado errado. Sempre pegando errado na bola. Inclusive, houve o momento em que a bola sobrou para mim debaixo da trave e caprichei no chute, peguei errado. Eu estava a um metro e meio do gol, que estava vazio, e a bola foi para fora. Acertei alguns passes e dei assistências. Principalmente depois que vim buscar a bola. Corri muito, o que foi o mais importante.
Bom, isso foi na quinta. Aí, veio o sábado. Outra pelada. Essa deu quase tudo errado. Um amigo esqueceu de levar a bola e os coletes. Fui buscar uma bola e uma bomba de encher na secretaria da Faefid. A bola não enchia, a bomba estava com defeito. Sem coletes, em um dos dias mais frios do ano, dividimos corajosamente os times em “com camisa” x “sem camisa”.
Com todos os problemas, a Pelada começou com 20 minutos de atraso. Ainda tivemos duas paradas longas por contusão. Ao menos não fui eu quem se machucou, se é que isso serve de consolo. Duas pessoas se machucaram em choques. Na segunda vez, um rapaz se contundiu numa disputa de bola e ficou deitado uns 5 minutos no gramado sintético. Em um daqueles eventos surreais que teimam em acontecer na minha vida, enquanto observava de longe o contundido, escutei gritos atrás de mim. Ouvi: “Massagem! Ele precisa de massagem! Quem quer massagem?”.  Me virei e vejo dois homens negros de aproximadamente 1,80 de altura entrando com camisas de vôlei no gramado sintético e correndo em direção ao rapaz contundido. Percebi que eram carecas e lembravam o Sebastian Soul, garoto propaganda da C&A. Se não eram gays, faziam uma perfeita imitação. Eu ri alto. Fiquei perplexo, pois não sabia se estavam apenas se divertindo com a situação, se estavam tirando onda com a nossa cara, se eram realmente entendidos em massagem, talvez estudantes de ortopedia querendo ajudar, se eram atores. Ficamos realmente sem saber. Até porque eles deram meia volta e saíram rindo.
Provavelmente estavam apenas se divertindo com nossa cara.
Passado o momento surreal, voltamos ao futebol e no curto período de tempo que se seguiu, eu continuei chutando para fora. Fui no meio buscar jogadas e acertei a maioria dos passes. Mas os chutes foram sempre para fora. Percebi que minha chuteira está rasgada, mas não posso culpá-la pelas bolas mal direcionadas. Fui para o gol e até que fui bem, apesar de fazer uma jogada esquisita na qual eu abaixei para pegar a bola e ela passou debaixo da minha perna, isso acabou tirando completamente o jogador adversário da jogada. Um drible perfeito. Totalmente involuntário, mas perfeito.
Vale o registro do chute do Pedro, que acredito eu, ser estudante de medicina. Ele estava com a sagrada camisa do Flamengo e talvez já antecipando as bençãos de São Arrascaeta, chutou uma bola que foi exatamente no ângulo. Em outros tempos eu saltaria para trás e tentaria fazer a defesa de mão trocada. Acho que não adiantaria, mesmo assim. A bola entrou lindamente na “gaveta”. Foi o gol mais bonito que já tomei...
E assim, resolvi que é hora de parar um pouco para tratar a lesão no púbis. Não apenas porque em menos de dois meses levei um lençol mais lindo que já tomei e agora o gol mais bonito, mas porque a lesão não para de doer e pelo que me informei a respeito, a tendência, caso eu não trate isso, é piorar. Vou ficar pelo menos um mês em repouso, tomando anti-inflamatório e depois academia. Só depois eu volto ao meu querido mundo do futebol. Só espero não engordar de novo. Vou ficar muito pau da vida se isso acontecer. Só de escrever isso, já bate saudade do futebol.


Saldo de 2019:
29 jogos
20 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.


domingo, agosto 18, 2019

Diário de um peladeiro XXII – 5 jogos e 5 gols





Estava ficando repetitivo demais. Sempre falando da preocupação com a minha 6ª vértebra lombar. Sempre falando da pubalgia que não sara nunca. E finalmente, da falta de fôlego e de como fazia falta a bendita academia.
Mas na verdade, eu só parei mesmo com essas crônicas porque desanimei, mesmo. Desanimei de escrever, não de jogar.
Mas enfim, agora estou jogando duas vezes por semana. Uma vez no Aerosoccer (antigo Botafogo), nas quintas-feiras, e uma vez na Faefid da UFJF nos sábados. Se a grana desse, continuaria jogando com o pessoal do ICH no Granbery na segunda. A galera parece legal e como um jornalista e escritor pode deixar passar impune a oportunidade de jogar bola com a galera do Instituto de Ciências Humanas? Me aguardem!
Acho que só não desisti porque havia até uma cobrança dos amigos boleiros pela que os textos continuassem.
 Passados cinco jogos. Foram cinco gols. Teve gol de perna esquerda, de perna direita, gol dentro da área, fora da área. Só faltou o de cabeça, que continua sendo só um este ano. Mas os dois que mais gostei foram chutes de longe. Ambos foram da mesma posição a direita do meio campo. Um foi na quinta-feira, chutei forte, meio de peito de pé, meio de chapa, de direita e a bola não foi tão forte mas pegou um efeito interessante. Foi exatamente no ângulo batendo na trave a minha direita e depois no chão. O goleiro nem esboçou reação. Foi certamente o gol mais bonito deste ano. O outro foi o último. Chutei do mesmo lugar, no campo da Faefid que é maior. Só que a bola não foi pelo alto, ela foi forte, rasteira e, digamos assim, cheia de veneno. O goleiro tentou parar ela com o pé, mas ela passou por debaixo do pé dele. Foi um frango legítimo. Mas quem liga? Gol é gol...
Nesse meio tempo também teve momentos engraçados. Levei um chapéu também bonito, aliás, lindo, no Aerosoccer. Tanto que esqueci que estava como adversário e torci para que se transformasse em gol. Deu “serto”. Foi gol. Depois fiquei fazendo aquilo que mais provoca risos na minha terapeuta. Fiquei filosofando sobre futebol. Porque a capacidade de apreciar um lance bonito pode transcender o fato de estar jogando e que minha função ali era evitar o bendito gol. Acho que fiz errado, claro. Porque se tentasse evitar e ele conseguisse fazer o gol mesmo assim, valorizaria a jogada. Ficar assistindo, é falta de respeito com o seu time e com o adversário. Em se tratando de uma pelada, isso é perdoável, claro. Mas agora que o fôlego voltou, acredito que não se repetirá, mais.
Como sempre reparo, o futebol, assim como vários esportes, são metáforas da vida. Às vezes, somos tentados a ser meros expectadores da nossa vida e ficar assistindo outras pessoas fazerem jogadas bonitas. E por que não? Nada impede de você tirar um tempo, admirar e até incentivar as conquistas dos outros. Mas por mais que isso seja verdade, não pode ser regra. A vida da gente só funciona quando assumimos o nosso protagonismo. Não é errado aplaudir um drible que levamos. Trata-se até de uma virtude. Mas não podemos parar por aí. Temos que fazer também nossos dribles, nossos gols, nossas jogadas de craque. Lembrei disso na última pelada na Faefid. Teve um jogador que ainda não aprendi o nome. É um baixinho e gordinho. Ele tem uma vontade contagiante que acaba incentivando o time a correr mais e a lutar mais. Mas estava no time adversário. Ele deu três belos chutes para gol, mas por acaso, o goleiro naquele momento era eu. Defendi tudo e meu time venceu. Juro que pelo menos dois chutes mereciam entrar. Mas a minha função era não deixar entrar. Cumpri com honras. Minha maneira de honrar o futebol e a vontade daquele jogador foi defender seus chutes. Assim é o futebol. Assim é a vida.
Também dei meus dribles, dei muitos passes para gols. Como já disse, fiz umas ótimas defesas no gol, com direito a ponte, braço trocado e defesas de reflexo. Mas o que mais gostei foi poder voltar a correr o campo todo. Ter fôlego. Um segredo foi uma solução simples do meu querido otorrino, ex-vereador e ex-secretário de saúde de Macaé, Pedro Reis, que aconselhou a usar soro fisiológico regularmente. Isso deu uma diminuída de 80% na minha alergia e agora quando respiro, o tal do oxigênio entra nos meus pulmões. Enfim, não era só a idade. Graças aos deuses e a ciência.

Saldo de 2019:
28 jogos
20 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

terça-feira, julho 30, 2019

Diário de um peladeiro XXI


Pelada foi boa. Com muito dificuldade estou conseguindo segurar mais a bola para poder criar jogadas ao invés de ficar parado embaixo da trave esperando passes perfeitos. Algo me diz que, por causa da dor no púbis, eu não deveria estar jogando. Mas se eu parar, é pior.
Fiz um gol exatamente debaixo da trave depois de um passe perfeito. Achei engraçado que até gente do time adversário comemorou. Fiquei com a impressão que eles leem o meu diário e torcem por mim.

Saldo de 2019:
21 jogos
15 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

quarta-feira, julho 24, 2019

Morre Rutger Hauer


Um dos ícones dos anos 80, ator holandês morreu no dia 19 de julho


Morre um dos ícones dos anos 80. O ator Rutger Hauer estava com 75 anos e morreu em sua casa na Holanda. Sua morte foi comunicada pela família e pelo empresário como causada por uma “breve doença” não especificada.
Rutger Hauer era holandês e fez vários filmes marcantes, embora nenhum verdadeiro campeão de bilheteria. Foi o vilão de Falcões da Noite (1981), excelente triller policial com Silvester Stallone e Billy De Willians. O Casal Osterman (1983), baseado no livro de Robert Ludlum. Conquista Sangrenta (1985), A Morte Pede Carona (1986) e os mais conhecidos no Brasil: Blade Runner (1982) e O Feitiço de Aquila (1985). Uma curiosidade é que o belo filme de Richard Donner, o mesmo feliz criador de Máquina Mortífera, Goonies e do primeiro Superman, foi um fracasso de bilheteria mundial. Entretanto, no Brasil, o filme é cultuado, graças a Sessão da Tarde. Não é difícil encontrar no Brasil mulheres chamadas Ethienne em função do personagem interpretado por Hauer.
Seu talento foi reconhecido com o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante em filme para a tevê em 1987 pelo filme Fuga de Subibor.
Já na década de 90, Hauer continuou na ativa, mas sem papéis de destaque em filmes do primeiro escalão de Hollywood. Ainda assim, Hauer protagonizou um episódio marcante em 1993 quando se deu início à produção de Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan. Recheada de grandes astros da época como Tom Cruise, Brad Pitt e Antônio Banderas, a produção foi abalada por declarações de Anne Rice, autora do livro, que berrava aos quatro ventos que não concordava em ter Tom Cruise como o endiabrado vampiro Lestat.  Rice afirmava, para quem quisesse ouvir, que se inspirava na figura de Rutger Hauer para criar Lestat e ele é quem deveria viver o vampiro no cinema. Os produtores, infelizmente, não atenderam ao pedido da autora alegando que Hauer, na época com 49 anos, estaria velho demais para o papel.
No século XXI, o ator era figura presente como coadjuvante de luxo em filmes como Batman Begins e Sin City. Um sinal claro do reconhecimento do talento inegável deste ator.
Em 2007, o ator lançou sua autobiografia " All Those Moments: Stories of Heroes, Villains, Replicants, and Blade Runners". Em 2013 foi nomeado Cavaleiro da Ordem do Leão Neerlandês por serviços prestados à dramaturgia.
Ator e diretor, Rutger Hauer também era ambientalista, sendo um dos patrocinadores do Greenpeace e criador de uma ONG chamada Rutger Hauer Starfish Association, dedicada a esclarecer dúvidas e quebrar tabus sobre doenças sexualmente transmissíveis.
No clássico Blade Runner, ele interpreta Roy Batty, seu personagem mais emblemático. Um replicante, um androide que foge para procurar seu criador em busca da cura para uma doença chamada morte. Ele queria mais tempo de vida que os quatro anos padrão para os androides do filme.
Roy, assim como Rutger Hauer morreu em 2019. Suas últimas palavras foram improvisadas num monologo do ator e se tornou uma das cenas icônicas do cinema:

“Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.

sábado, julho 13, 2019

Diário de um peladeiro XX – O mico veio receber, mas não paguei




13 de julho de 2019. Veio a pelada de sábado e eu me excluí desde quinta porque estava gripado. Deixei de ir ao cinema porque estava até com dor nas costas, imagina jogar futebol com o pulmão virtualmente quebrado. Nada mais racional e coerente que esperar mais uma semana até estar recuperado, correto? Eu posso ser racional, mas coerente... Como diria meu amigo escritor, o Carlos Cardoso, o negócio é ser contraditório.
Como havia pouca gente e a opção era ficar em casa jogando “Alien – Isolation” no computador, resolvi, então, me aventurar apenas como goleiro; para ver se aguentava. Cheguei lá, arrisquei a ir na linha e, para surpresa geral, eu estava com um fôlego melhor que quando não estava doente. Não entendi nada. Parece que o mundo é assim, sem lógica, sem coerência, sem racionalidade. Quem sou eu para reclamar? Fui jogar e enquanto aguentava correr, corri. O fato é que acabou a pelada e eu ainda não estava cansado. Nem parece a pessoa que não aguentava falar na terça-feira.
Lógico que não forcei, não corri tanto. Na verdade não corri quase nada. Arrisquei poucos dribles. Errei um monte de passe. Mas se não tive a melhor atuação do ano foi mais por conta da coluna que pela gripe. Por falar em coluna, hoje ela me irritou. É como jogar futebol fantasiado com aquelas roupas de mascote. Medo absurdo de fazer qualquer movimento que lembrasse a famosa “ginga” do filme do Pelé. Medo de gingar e a coluna se partir. Acho que no fundo eu sei que isso vai acontecer cedo ou tarde e adeus futebol. Então, permaneço o verdadeiro homem de lata com a bola nos pés.
Arrisquei 4 chutes. Um foi gol, outro bateu na trave, outro foi uma bela jogada de troca de passes que o zagueiro bloqueou em cima e finalmente um o goleiro defendeu.
Saí feliz. O gol foi uma jogada linda do amigo Vitão que só tive o trabalho de chutar no canto longe do goleiro.
No final, fui recebido por dois macaquinhos da UFJF, os miquinhos, conhecidos por Callithrix penicillata, sagui-de-tufos-pretos, mico-estrela ou simplesmente sagui. Espécie que habita as matas que cercam Juiz de Fora e principalmente o Campus da UFJF. Os miquinhos estranhamente vieram para meu lado, como se cobrassem alguma coisa. Foi aí que percebi. Ao contrário do esperado, mesmo sem estar totalmente recuperado da gripe, eu não paguei nenhum mico. Melhor assim.

Saldo de 2019:
20 jogos
14 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.