sábado, setembro 28, 2019
Diário de um peladeiro XXV - hat-trick na melhor pelada de 2019
sábado, agosto 31, 2019
Diário de um peladeiro XXIV – Despedida temporária dramática
Eu tinha 12 anos e quem me ensinou foi um moleque de 10.
Sim, um garoto que usava uma bermuda muito engraçada, feita pela mãe. Parecia a
roupa do Chaves. Mas ele fazia igual a um treinador de verdade. Me ensinava a
chutar com toda a paciência do mundo. Eu chutava, errava o gol, isolava a bola
e ele mantinha a calma e dizia: “Tudo bem, eu vou buscar a bola, fica calmo e
tenta de novo”. E o cara era meu professor mesmo, me ensinou a matar no peito,
a cabecear... Aprendi muito com ele. Mas tinha um outro, um lourinho encapetado
que jogava muito, mas muito, mesmo.
Este, porém, vivia brigando comigo, me provocando porque eu
era mais velho e era um perna de pau. E quando digo brigando, falo nas vias de
fato. Socos e pontapés. Uma vez peguei ele no colo e arremessei longe de tanta
raiva. Assim, eu ficava lá: o aprendiz de 12 anos de dois moleques de 10. Deu
certo. Aprendi, eu acho.
Entre uma briga e outra, o louro encapetado foi se tornando
meu amigo também. Foi uma coisa estranha porque ele me chamou para sair, fiquei
tão desconfiado que cheguei meia hora atrasado e lá estava ele esperando. Fomos
ao cinema, viramos amigos. Na verdade, até hoje, esses dois são meus dois
melhores amigos neste mundo.
Os anos se passaram e ele fez 14 anos e foi fazer teste em
São Januário no poderoso Vasco da Gama. Era certo que entraria. Ele era muito
bom. Sempre achei que ele acabaria na Seleção. Me chamou para fazer companhia.
Fomos eu, ele e o pai dele de carro para São Januário. Lembro que no carro
tocava uma fita do Engenheiros do Hawaii, acho que escutamos a música “Tribos e
Tribunais” umas dez vezes entre Volta Redonda e o Rio de Janeiro.
Chegando lá, o pai dele cismou que eu também deveria fazer o
teste. Falei que não levei chuteira. Um cara arrumou para mim. Entrei num
ônibus e fomos para um lugar ali próximo. Acho que era o campo do São
Cristóvão. Um campo de terra, sem um tufo sequer de grama. Sem grama e sem
responsabilidade, eu joguei leve, feliz. Corri o campo todo e num escanteio fiz
um gol de cabeça.
No final, saí contente. Fui perguntar para meu amigo como
foi. Ele não tinha passado. Mas conseguiu agendar um outro teste para a próxima
semana. Mesmo assim, mesmo tentando disfarçar, vi que ele estava chorando.
Aquilo era realmente importante para ele.
Quando fui devolver as chuteiras, o técnico me chamou. “Você
aí, grandão. Fica aí. Fala com teu pai que você vai ficar”. Entendi que eu, o
perna de pau, tinha passado na peneira do Vasco da Gama. Logo eu, que no começo
odiava futebol, que comecei a jogar com 12 anos. O cara ainda emendou: “Golaço
de cabeça! Tu tem raça e sabe se posicionar na defesa”.
Eu falei que não fui eu quem fez o gol. Eu não sei quem era
o tal técnico. Nunca mais vi. Mas ele era esperto. Ele entendeu. “Eu vim só
para acompanhar”, falei baixinho para que o meu amigo não percebesse. Ser
jogador de futebol era o sonho dele, não o meu. Ao menos não naquela época.
Naquela época eu tinha a ingênua ilusão que estudar no Brasil me levaria a
algum lugar. “Você é amigo, mesmo”, disse o técnico. “Mas pensa direito. Qualquer
coisa, volta semana que vem”. Nunca mais voltei.
Quando o amigo veio e perguntou o que houve, eu disse que o
cara ficou puto que estraguei a chuteira... Ele não falou nada. Nunca perguntei
depois se ele acreditou na mentira ou não.
Pois é... Deixando para trás a década de 80 e voltamos à
pelada de hoje, sábado, último dia de agosto, de 2019, foi para fazer uma
despedida decente. Vou ficar apenas um mês sem jogar futebol. Ficarei tomando
anti-inflamatório e tentarei não engordar. Mas a última pelada foi tão ruim que
resolvi transformá-la em penúltima. Assim sendo, resolvi fazer um jogo de
despedida que fosse decente. E foi!
Continuo correndo bem. Fiz boas jogadas. Teve um momento que
entendi que não dava para ficar indo e voltando na defesa e para o ataque,
então revezava. Hora ficava na frente, hora defendia. O gol foi o famoso gol de
videogame com uma boa troca de passes iniciada pelo meu eterno garçon, Bruno
Kaehler. Só tive o trabalho de tocar para a rede. Ainda chutei duas vezes, mas
o goleiro defendeu. Numa delas, dei um corte seco para dentro, limpei e chutei.
Se tivesse mais um segundo para mirar, teria sido gol.
Claro que nunca mais vou ter 16 anos. Mas me pergunto o
quanto posso melhorar, me aproximar do sol e sair da sombra daquele meu eu do
passado, que jogava com a camisa 14 do Moinho de Vento?
Porque às vezes, fica claro que há um abismo entre o Tato
que parou de jogar em 2003 com o Clinton que voltou aos “gramados” em 2015. Não
que eu chegasse a ser um grande craque, mas tinha meus dias... Ninguém aliás, me
chama mais de Tato, agora é só Clinton.
A pergunta se responde quando a gente joga novamente com a
metáfora: futebol x vida. Às vezes, penso que tudo que aconteceu nos últimos
anos, tantas cosias ruins que não valem a pena serem postadas. Na verdade, o segredo
é justamente esquecer as coisas ruins. Esquecer as bolas na trave da vida e
lembrar dos golaços. Mesmo aqueles que a gente teve que dizer que não fez
porque era a atitude mais correta naquele dia. Em outras situações, enfrentamos
pessoas que que insistem em dizer que não fizemos gol algum, ou que o gol não
valeu. E tem uma situação ainda mais crítica: quando as pessoas que não querem
nos dar crédito somos nós mesmos. Assim, quando paramos de dar crédito às
nossas próprias vitórias, de certa forma, paramos também de viver.
Na metáfora futebol x vida, entendo que o meu gol mais
bonito não foi um que não esquecerei nunca, com 14 anos, no campo do lago,
driblando todo o time do Flamengo, inclusive o goleiro. Era o “Flamenguinho de
Barra Mansa”, mas não interessa. Driblei o time inteiro, foi tão bonito que meu
pai invadiu o campo para me abraçar. Nem aquela bola no ângulo no treino do
Voltaço. Muito menos aquele gol afirmei não ter feito em São Januário. O gol
mais bonito foram três. Uma menininha de olhos muito claros que me olhou pela
primeira vez nos braços da enfermeira em 1992. Parecia um sorvetinho e que hoje
é uma bela psicóloga trabalhando em São Paulo. E dois meninos que nasceram
juntos em 2007. Nasceram lindos como a mãe, mas muito doentes, a enfermeira os
chamava de “bebês graves” e que tive que esperar um mês para poder abraçá-los.
Hoje sinto os três longe de mim tanto fisicamente quanto fraternalmente. E isso
acontece há tanto tempo que sinto que estou perdendo a autoria deles. Sinto que
estou perdendo o direito de me dizer pai destas três pessoas. Com eles, percebo
que também perco a mim, mesmo. Deixo de ser o Tato, deixo de ser o Clinton e me
transformo em alguém que não é nada.
Às vezes, os gols
mais bonitos são aqueles que comemoramos sozinhos, sem alarde, em silêncio e de
longe. Costuma-se dizer que, quando criança, choramos bem alto para chamar a
atenção. Na vida adulta aprendemos a chorar em silêncio, à noite, no escuro,
não por gols perdidos, mas com saudade dos golaços que já fizemos e mantemos a
esperança de que voltem a fazer parte da nossa vida.
Talvez essa seja a grande motivação em relação ao futebol:
uma necessidade intrínseca de novamente encontrar a mim mesmo dentro do
gramado. Foi lá que me encontrei da primeira vez. Talvez eu ainda esteja ali.
Quem sabe?
Saldo de 2019:
30 jogos
21 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação,
pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles
“Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.
segunda-feira, agosto 26, 2019
Diário de um peladeiro XXII – Duas peladas nenhum gol e hora de tirar 30 dias de férias do futebol
29 jogos
20 gols
domingo, agosto 18, 2019
Diário de um peladeiro XXII – 5 jogos e 5 gols
28 jogos
20 gols
terça-feira, julho 30, 2019
Diário de um peladeiro XXI
21 jogos
15 gols
quarta-feira, julho 24, 2019
Morre Rutger Hauer
sábado, julho 13, 2019
Diário de um peladeiro XX – O mico veio receber, mas não paguei
20 jogos
14 gols
terça-feira, julho 02, 2019
Diário de um peladeiro – Parte XIX – Sobre foco, motivação e os cadáveres do Everest
Esse “espírito de coach” me acompanha desde meu primeiro emprego em Juiz de Fora, como vendedor de cursos de inglês. Estavam na moda alguns gurus do entusiasmo como Lair Ribeiro, Paulo Coelho, James Redfield e Richard Bach outros “trocentos” autores que se especializaram em criar maneiras mais coloridas de nos dizer que há esperança. Pessoalmente, nunca levei muito a sério estes autores, mas gosto de como abordam a questão da esperança. De quando afirmam que vivemos em um mundo onde ter esperança e ser otimista pode fazer a diferença para alcançar um resultado. Na prática, claro, a coisa não é bem assim. Nos acostumamos a ver casos de sucesso de um Neymar, Usain Bolt, Pelé, Mohammed Ali, como se fossem a regra quando, na verdade, são raras, muito raras exceções. Para cada Romário na Vila da Penha, tem mil moleques que morreram e não é figura de linguagem. Mas é justamente aí é que está a beleza dos livros de autoajuda. Quando nos fazem perceber que temos sempre uma escolha. Um dia, certamente, todos nós vamos morrer. Mas podemos ser aquele cadáver no Everest ou aquela pessoa que morreu com bala perdida dentro de casa. Se for para cair, escolho cair atirando. Simples assim.
O grande erro destes entusiastas da autoajuda para mim está na simplificação. O mundo não é feito de vencedores e perdedores. Este conceito é subjetivo, pois a vitória pode estar apenas na persistência e grandes vitoriosos como Elvis Presley ou Michael Jackson me dão a impressão de uma vida terrivelmente infeliz, talvez eu trocasse minha conta bancária com a do Rei do Pop, mas não trocaria de vida com ele. Mas até nisso, os livros de autoajuda são úteis, pois foi o próprio Lair Ribeiro que definiu que há uma diferença grande entre sucesso e felicidade. Sucesso é conseguir o que você quer. Já a felicidade é um estado interno. Para ser feliz, basta gostar do que você tem. Quantos pobres miseráveis conhecemos e temos a impressão que são pessoas felizes? Enquanto há pessoas bem sucedidas que estão em estado contínuo de infelicidade. O contrário certamente também acontece. Mas este é o ponto. A felicidade não depende do sucesso, muito menos dos Coachs.
Enfim, a ideia deste blog não é contar uma história de sucesso normal, mas simplesmente de uma luta para não ficar parado. Dificilmente alguém no Fantástico vai querer entrevistar um blogleiro que sai feliz apenas por ter estado em mais uma pelada. Mesmo que não faça gols. Digo isso porque, eu também não saio feliz quando não faço gol. Acho que o gol carrega uma simbologia maravilhosa. Gol vem do inglês “goal”, ou seja “Objetivo”.
Dito isso, na 19ª pelada do ano, eu não fiz gol. Havia uns cinco jogos que isso não acontecia. Foi a chamada incompetência, sim, mas houve muitas chances. Apesar de estar bem mais gordo a cada semana, parece que meu corpo se acostumou. Chutei ao gol umas quatro vezes. Em duas o goleiro defendeu.
Também catei no gol. O povo elogiou e fiz boas defesas. Teria feito mais se não fosse o medo de saltar na bola e separar o tronco do resto do corpo. Fora isso, foi uma pelada legal. Com a galera nova que veio da pelada de segunda. Povo bom de bola e simpático. Deu um pouco de confusão por ter muita gente e fiquei com medo deles terem uma impressão ruim da pelada. Mas é um troço esquisito. Na última vez deu gente de menos. Agora, deu gente de mais. Para quem cresceu em times certos e escolinhas, acho que nunca vou acostumar com falta de gente para jogar futebol. Coisas de Minas Gerais que nós do Rio não entendemos.
Dei passes para uns 5 gols, coisa que não costuma acontecer. Pelé dizia que dar o passe, às vezes, é tão importante quanto fazer o gol em si. “Às vezes, só tem o trabalho de tocar na bola, entende?”.
No final, fiquei feliz, mesmo, por estar ali, por ter vindo, por ter participado, por ter feito este movimento de resistir à inércia de ficar em casa. Mas o objetivo... Este não foi cumprido. Talvez tenha jogado até melhor. Mas na vida a gente tem que ter foco. Ano passado, neste mesmo dia, eu já estava com uns 9 gols a mais e uns 10 quilos a menos. Bora correr. Bora caminhar.
Para piorar, peguei uma gripe domingo e estou com ela até hoje, terça-feira. Por isso que o texto não saiu antes. Enfim, quando as coisas dão erradas também faz parte do jogo. Os cadáveres do Everest estão aí para provar. Eu sempre imagino que morreram felizes, porque morreram tentando. Porque caíram atirando.
19 jogos
13 gols
Diário de um peladeiro – Parte XVIII – Roberto Carlos e O Senhor dos Anéis
- Por que não chuta no gol? – perguntou.
Respondi que tentava chutar o mais forte possível e não estava preocupado com para onde a bola ia. Tentava apenas imprimir força e acertar o muro. O gol era um detalhe.
- Mira no gol! – insistiu. – Assim, quando você estiver num jogo, vai ter mais chance de mirar corretamente.
- Mas isso é um mero detalhe – repliquei irritado.
Marcelinho cantou exatamente o trecho da música. “Detalhes tão pequenos de nós dois. São coisas muito grandes para esquecer”.
Eu ri daquilo, mas passei a mirar apenas porque ele estava enchendo o saco. Com o tempo, esse detalhe realmente fez a diferença na minha breve carreira futebolística.
Marcelo estava lá em casa quando eu e meu irmão tivemos nosso primeiro contato com o mundo mágico de J.R.R. Tolkien, vimos o trailer de O Senhor dos Anéis. Mas não era o de Peter Jackson. Isso aconteceu muito antes. Tratava-se da fantástica animação de Ralph Bakshi de 1978. Provavelmente assistimos em 1986. Tratava-se da mesma produção que apresentou Tolkien a Peter Jackson. Vimos o desenho em casa e depois disso eu procurei os livros para comprar. Das milhares de coisas que me saltaram os olhos naquela epopeia fantástica, estava as relações de amizade e lealdade entre os personagens. Nos apêndices da história, hobbit, Peregrin Took, batiza seu filho de Faramir, homenageando um humano, antigo companheiro de batalha.
Na pelada de hoje, 24 de junho, voltei a jogar futebol de salão depois de muitos anos. A última vez foi em setembro de 2013. Quase seis anos. Exatos 13 quilos atrás. Na época, fiz seis gols numa única partida. Até hoje, um dos gols mais bonitos. Uma bomba no ângulo do meio de campo da qual provavelmente voltarei a falar muito nesta coluna pseudofutebolística, pseudofilosófica e verdadeiramente autorreflexiva.
A noite não estava tão fria quanto nos outros dias. Joguei com uma turma do ICHL - Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFJF. O que me leva a automaticamente a simpatizar com todo mundo ali. Eram, afinal, companheiros de balbúrdia.
Fiz a coisa certinha de novo, subindo um morro a pé para aquecer antes. Falar que meu preparo físico melhorou, mas ainda está uma droga, virou lugar comum nesta coluna literária. A novidade é que, desta vez, a região lombar da coluna voltou a doer. Acho que foi a primeira vez no ano. O futebol de salão te cobra mais “ginga” aquela versão da “força” de Star Wars que, segundo o filme do Pelé, todo brasileiro tem. Sim, nós somos os Jedi do futebol. Claro, que, se você quebra sua coluna na sexta vértebra lombar, você perde a ginga. Então, estou há 12 anos tentando aprender o jeito alemão cintura dura de jogar.
Até que não fui mal. O fôlego está voltando. O time estava com um problema sério de posicionamento, mas quem liga? A ideia é correr, chutar a bola, esquecer dos problemas e, no meu caso, entender como anda a minha ansiedade. E é aí que veio a melhor notícia. Só encontrei resquícios dela. Praticamente foi embora. Algo interessante de se perceber num grupo em que eu não sabia o nome de ninguém e vice-versa.
Fiz um gol, chutando de primeira no meio das pernas do goleiro e dei passe para outro. Devo ter dado uns cinco chutes. Me lembro que em um deles, eu estava livre, na meia direita. Deu tempo de escolher como iria chutar. Como era salão, escolhi de bico, forte. Tentei mirar como o Marcelo ensinou. Mas os detalhes, sempre os detalhes... o bico não pegou como deveria na bola e o chute saiu mascado.
Em outro momento, na prova definitiva que minha ansiedade está de malas prontas para voltar para o inferno, é que me julguei digno de roubar uma bola no meio de campo, driblar dois adversários e o goleiro. O que dá 85% do time. No último drible, porém, veio o detalhe. A bola foi um pouquinho forte demais e eu rápido de menos. Perdi o ângulo e junto com ele o que seria meu gol mais bonito de 2019. Tudo por detalhes tão pequenos de nós dois: eu e a bola.
Sério, me senti como o Gollum perdendo seu precioso anel nas cavernas. Pensei todos os “ses” que poderiam ter me levado a conseguir fazer aquele gol: “Se eu tivesse colocado um pouco menos de força ao driblar o goleiro”, “se eu tivesse um pouco mais de agilidade”, “se eu tivesse uns 20 anos a menos”, “se tivesse voltado para a academia”, “se minha coluna não estivesse se quebrado 16 anos atrás”.
O futebol é como a vida. Os erros e os acertos estão nos detalhes. Marcelo estava certo. Claro que estava. A gente segue nesta jornada tentando resgatar o futebol perdido depois de 12 anos parado. “Você pode encontrar as coisas que perdeu, mas nunca as que abandonou.”, escreveu Tolkien em O Senhor dos Anéis. Eu nunca abandonei o futebol. Apenas achei que havia perdido junto com a coluna em 2003.
Marcelo morreu em decorrência de um enfarte em 2005. Foi um dos grandes amigos e companheiros de batalha que encontrei na vida. Seguindo a tradição de O Senhor dos Anéis, botei o nome do meu filho de Marcelo. E eu sempre miro no gol quando vou chutar. Embora nem sempre a bola vai para onde a gente aponta.
18 jogos
13 gols
Diário de um peladeiro – Parte XVII – Vai Romário
Este sábado eu já estava com um fôlego melhor. Mas faltou gente para a pelada e foi aquela coisa de ficar em campo direto durante uma hora. Para quem jogava sábado de 8h às 22h quando era criança, não é nada. Mas a idade chega, a barriga cresce e o universo vai te avisando o seu tempo está passando.
O plano de subir a pé o morro entre o bairro Teixeiras, até a Faculdade de Educação Física da UFJF é ótimo para aquecer. São apenas três míseros quilômetros. Mas subimos 98 metros de altura. Se fosse da minha casa, seriam quatro quilômetros e 200 metros de altura para “escalar”. Ainda chego lá.
A pelada ocorreu sem maiores problemas. Ainda sem fôlego para pensar. Perdi novamente aquele montão de gol. Algumas oportunidades ótimas perdidas. Mas tentei fazer o “mais certo” possível. Digo entre aspas porque o futebol não tem certo. A gente tenta, faz o melhor que pode e espera que a bola entre no gol.
O meu gol foi bonito, peguei fora da área, na corrida e de esquerda. Sem olhar muito nem para a bola e nem para o goleiro. Peguei “gostoso” na bola e ela fez o resto. Um curva suave para longe do goleiro. Saí comemorando de braços abertos. Como Romário costumava fazer. Aquela sensação de estar voando. Como se estivesse em comunhão com o universo, com o Cosmos. Talvez essa seja a magia do futebol. Fazer um perna de pau ter 10 segundos a sensação de ser o Romário reencarnado. Não tem preço.
Um prêmio de persistência.
Chutei antes e depois de todas as maneiras possíveis e a bola não entrava. Ou ia para fora, ou o goleiro pegava.
Catei também no gol por um tempo, para recuperar o fôlego. Fiz algumas defesas legais, difíceis e tomei os devidos frangos. Enfim, foi um jogo normal, sujeito a altos e baixos. Bons momentos, maus momentos, momentos incríveis e medíocres. Assim é o futebol, assim é o Cosmos.
17 jogos
12 gols
Diário de um peladeiro – Parte XVI – Não é como andar de bicicleta
Uma vez no final da década de 80, mais precisamente novembro de 1988, vi um jogo entre Flamengo e Sport Recife. O jogo entre os Campeões Brasileiros de 1987. Vitória, claro, do Campeão legítimo, o Flamengo, com o time que seria a base - junto com o Vasco daquele ano - da Seleção Brasileira das próximas duas Copas do Mundo, inclusive a Campeã de 94.
O jogo terminou 2x1 para o Flamengo, que, aliás, não sei se já mencionei, foi o único e verdadeiro e legítimo Campeão Brasileiro de 1987. Título doado por caridade e compaixão ao Sport Recife. Quem dá aos pobres empresta a deus...
Mas como eu ia dizendo, um dos gols mais impressionantes que vi na vida, foi naquele ano, neste jogo. Mas não foi do Flamengo. Foi gol de empate de Robertinho, ex-Flamengo, que marcou pelo Sport. Ele, de costas para área, matou no peito e virou, chutando de primeira. Saiu um míssil que foi no ângulo do hoje saudoso Zé Carlos. Sem chances de defesa.
Aquela jogada me impressionou tanto que tratei de treinar aquilo por vários dias. Receber a bola de costas para o gol e chutar de virada. Treinava sozinho ou pedia para um amigo mandar a bola. Treinei matar no peito, matar na coxa, no chão... Mas sempre virando e chutando.
Acertei isso em várias peladas, mas queria fazer em jogo “oficial”. Finalmente, em dezembro de 1988, teve um jogo pelo time do Moinho de Vento. O adversário era o Colégio Volta Redonda.
Criamos uma jogada em que eu saía da minha querida lateral direita e aparecia como homem surpresa, mas sempre de costas para a área.
A primeira jogada já deu certo. A bola veio, mas não pelo alto, não como para Roberto Oliveira Gonçalves do Carmo. Para mim ela veio rápida e baixa. Quicando. Eu matei na mesma posição, na entrada da grande área, e girei. O chute saiu forte e no alto. Entrou no ângulo encobrindo o goleiro. Sim, tive o meu dia de Robertinho.
Lembrei disso na pelada de hoje porque, até pela falta de preparo físico, fico fazendo essa posição de pivô. Por três vezes hoje, eu recebi a bola de uma maneira que era só fazer aquele giro e chutar. Não fiz nenhuma das vezes. Afinal, pensei: “E se a coluna quebrar no meio do processo?”. Pois é, amarelei. Não é como andar de bicicleta.
Mas vocês vão ver. Vou treinar de novo esse movimento e voltarei a ter meu dia de Robertinho.
Perdi um monte de gol. Falta de frieza. Excesso de ansiedade. Todas as vezes que matei a bola, a marcação chegou. Na vez que resolvi chutar com mais agilidade... Bom, era a vez errada.
Enfim, é para isso que o futebol serve para mim. Confesso que não é só para manter a forma. Mas para eu entender melhor minha ansiedade. Entender como ela se processa no meu belíssimo cérebro e, quem sabe, controlar e destruí-la um belo dia. Não existe nada mais perfeito para se testar a ansiedade do que ter uma bola nos pés e saber que tem poucos segundos para resolver o que fazer com ela. Futebol é o jogo da vida, amigos!
Acabei fazendo um gol no final. Um passe cirúrgico dentro da área. Consegui colocar a bola lá no canto, bem longe do goleiro de novo. O passe foi 90% do gol. Mas quem liga? Já são quatro peladas seguidas sem deixar de marcar. Eu agradeci e estou oficialmente autorizado a ficar otimista.
Saldo de 2019:
16 jogos
11 gols
Diário de um peladeiro – Parte XV – Juntos e shallow now
Sobre a pelada, novamente no Aeroporto de Juiz de Fora. Desta vez foi uma pelada inteira. Aqueci antes e até fiz gol.
Dei uns 5 chutes a gol. O goleiro fez três defesas, um foi gol e o último chutei para fora. Tentei fazer estilo Bebeto de voleio, mas a bola subiu demais. Ao menos eu tentei.
O gol foi num rebote do goleiro.
15 jogos
10 gols
Diário de um peladeiro – Parte XIV – Nada de pagar mico
O resultado foi ótimo. Não senti nenhum cansaço, nada formigando, nada errado. Quando acabou a pelada, eu ainda queria mais.
Com o fôlego de volta, as coisas ficam mais fáceis. Começo a me preocupar com coisas mais produtivas que apenas em conseguir correr e dominar a bola. Fiz um gol que demandou a frieza de fazer o básico: recebi, levantei a cabeça e escolhi o canto. Aquele canto longe do goleiro. Gol.
Infelizmente, eu preciso levantar a cabeça mais durante o jogo. Taí, uma das coisas que eu fazia direito antes da coluna quebrar e andava esquecendo. Poderia ter dado umas cinco assistências para o gol se fizesse isso, mas fiz duas. Já achei legal. Um passo de cada vez.
Agora, volta o que eu falo sempre. Falta arrumar tempo e disposição para ao menos caminhar durante a semana. Como faz falta uma bendita academia.
14 jogos
9 gols