Depois de dois meses, a festa acabou. Os meninos voltaram a morar com a mãe que já está recuperada, graças aos deuses. Durante dois meses eu pude ser pai deles em tempo integral de novo depois de 7 anos. É bem diferente de ver apenas nos finais de semana. É diferente quando você é o responsável por alimentar eles todo dia. Quando você pode ensinar valores como a importância de eles lavarem a louça e passarem um pano no chão todo dia sem precisar pedir.
É diferente quando você propositalmente os enche de comida porque
estão em fase de crescimento e você não consegue falar não quando pedem mais um
bife, mais dois sanduíches, mais um prato de macarronada. Você faz o possível
para deixá-los felizes porque passaram por um incêndio e quase perderam a mãe. Você
gasta tudo que tem para que eles esqueçam o trauma. Compra sorvete, compra
açaí, compra churros, leva para praia, leva para passear de carro para que não
lembrem do incêndio. Compra roupas novas porque perderam muita coisa. Mas eles
não reclamam, apenas agradecem. Pedem permissão para poder pegar o chocolate
que você comprou para eles, mesmo depois de você dizer que comprou para eles.
O medo pelo excesso de Coca-Cola e aí você compra
garrafinhas d’água bonitinhas para incentivar a tomar mais água e fica feliz
porque gasta um galão de água mineral por semana, já que Rio das Ostras em
geral não tem água encanada, mesmo depois de 20 anos, então você tem sempre que
comprar água mineral.
Não tem mais conversas sobre o universo, a vida, política,
sobre meninas e como eles vão fazer quando se apaixonarem por alguém. A
paciência de ensiná-los a dirigir. Enxugar as lágrimas deles quando estão
preocupados com a mãe. Ensinar que não pode gritar com a mãe. Ensinar que,
quando acontecer algo errado, que falem comigo. Não precisam resolver sozinhos
agora, que vai chegar um dia em que eles terão que resolver tudo sozinhos, mas
não agora.
Agora a casa está silenciosa. Eu parto para outro desafio
que pode me ajudar a ser um pai melhor para eles. A chance de estar ainda mais
presente. Mas para isso, vou ter que me afastar um pouco. E por mais que tenha
a confiança na competência da mãe em cuidar deles, sei que a função dela não é
ser pai. Eu tenho que fazer a minha parte, custe o que custar.
Agora a casa está silenciosa, mas não completamente. Eu ouço
um choro infantil, bem baixinho em alguns momentos. Dá para imaginar uma
criança que machucou o joelho e tá fazendo beicinho. Dá para imaginar uma
criança que teve arrancado tudo o que era importante. Aí, percebo que o choro é
meu. Porque nunca na vida me senti tão sozinho.
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