Quando eu era criança, eu tinha medo de fantasmas. Passei o
ensino fundamental todo praticamente sem entrar no banheiro da escola com medo
da loura do banheiro. Até em casa eu obrigava meu irmão mais novo a ir ao
banheiro comigo com medo de alguma coisa terrível que poderia aparecer. Ia ao
banheiro de porta aberta, mas com medo dela se fechar de repente e aquela coisa
me pegar.
Hoje na vida adulta eu tenho saudade daqueles fantasmas. Sinto
falta deles. Porque ao menos com a presença de um adulto, o fantasma não
aparecia. E eles não me atormentavam o dia inteiro, só quando eu ia ao
banheiro. Quando adultos os nossos medos são piores e os pesadelos acontecem
quando estamos acordados. E as inseguranças nunca, nunca vão embora.
Os medos são diferentes e muito mais assustadores. Medo de
não ser bom o suficiente. Medo de não conseguir proteger as pessoas que amamos.
Medo de decepcionar as pessoas que amamos. Mas o maior medo é de decepcionar
aquela criança que nós fomos algum dia e muitos anos atrás tinha medo de fantasmas,
mas acreditava que teria no futuro, uma vida feliz, que seria uma boa pessoa e
que mudaria o mundo.
Reflexões da insônia - Rio das Ostras, 30/08/021
Clinton Davisson é jornalista, professor e mestre em Comunicação. Autor de quatro romances, entre eles o sucesso Hegemonia - O Herdeiro de Basten.
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