Desde que foi fundado no início dos anos 70 que o Clube Campestre Moinho
de Vento de Barra Mansa-RJ realizava jogos contra times de fora. Já veio uma espécie
Seleção de Masters – lembro que o Nunes ex-flamengo estava lá – jogar contra o
nosso time adulto. Era um dos melhores e mais bem cuidados campos de futebol da
região. Praticamente todo jogador que se preze nascido na região sul fluminense
e que chegou a ter destaque no futebol nacional naqueles tempos jogou ali: Cláudio
Adão, Deley, Darci, Lugão... Além de jogadores, passaram prefeitos, deputados,
todo mundo jogou ali. Estranhamente o Clube perdeu força depois que mudei de
Volta Redonda. Nunca ouvi falar que Felipe Melo, nascido em Volta Redonda, tenha
aparecido por lá. Nem meu primo, Rafael (ex-Flamengo e São Cristóvão) deve ter
aparecido por lá.
Mas nos bons tempos, o nosso time “das crianças” também jogava contra
vários adversários, uma vez enfrentamos o juvenil do Flamengo, aquele oficial,
mesmo, da Gávea.
Naquela época eu era o famoso carregador de piano. Aquele cara que
corria por todo o time. Jogava de zagueiro ou lateral direito, dependendo de
quem aparecia. Não era de arriscar muito e dificilmente subia para o ataque. Gostava
de descobrir quem era o melhor jogador do time, aquele que armava as jogadas e
pronto. Ia lá anular o cara. Nunca fui de bater, só por falta de coordenação motora
talvez... Às vezes, o armador era um cara que vinha de trás. Como um líbero e só
assim eu ia para o ataque, para marcar o armador.
Às vezes, dava umas arrancadas, apenas para dar passes para o gol, roubava
bolas no meio de campo para acionar contra-ataques, mas fazer gol que é bom,
nada. Não me sentia obrigado, não me cobrava isso.
Eu curtia jogar para o time. Puxar a marcação para dar espaço para o
atacante marcar, atrapalhar o time adversário até a bola sobrar, roubar uma
bola e armar um contra-ataque. Achava isso uma virtude até pouco tempo atrás. Mas
quando a gente faz aquela coisa que eu adoro: usar o futebol como metáfora para
a vida, isso tem um Porém muito grave. Às vezes, em um ambiente de trabalho, se
você é um carregador de piano, você depende do reconhecimento do time, ou, no
caso, as pessoas que trabalham com você.
Quando em um determinado caso em que você é demitido e mais cinco
jornalistas pedem demissão como sinal de reconhecimento... A gente se sente
muito bem. Mas tem horas que tem muito mal caráter na equipe. E aí, você pode
se decepcionar. Principalmente quando seu chefe tem o hábito de ser um completo
idiota.
E sim, os amigos do Moinho de
Vento, mesmo sendo os melhores amigos que eu já tive até hoje, eram crianças entre
12 e 16 anos. E eles me zoavam porque o carregador de piano não fazia gol.
Pois bem, em determinado momento, percebi que, apesar de nas peladas eu
marcar gols frequentemente, em jogos oficiais, eu tinha nada menos que o saldo
de um gol a favor e dois contra. Números são números. E eu não gostava daqueles
números. Passei então a jogar só de lateral direito, inspirado em 99% no Jorgindo,
mas com boas referências como o Ayupe, Luiz Carlos Wink, Carlos Alberto Torres
e Mazinho que era esquerdo, mas jogou uma Copa América inteira de Lateral
Direito. Eu ia ao ataque, driblava, voltava correndo na defesa e cortava,
depois vinha com a bola armando jogadas. Eu era agora o carregador de piano que
fazia gols. Eu era o Mestre do Universo, mais que isso, eu era o Jorginho do
Moinho de Vento.
No primeiro jogo em que tomei
essa iniciativa, já virei o placar fazendo dois gols. Um de pênalti e outro de
fora da área. Depois foram muitos e muitos, mas confesso que essa ideia de
contar gols só me ocorreu agora depois de velho. Não tenho a mínima ideia de
quantos eu fiz em jogos “oficiais”. Mas foram muitos.
Hoje não saiu gol, mas tive essa sensação de carregador de piano. Por
incrível que pareça, eu gostei. Talvez porque voltei a ter fôlego para fazer
esse papel, talvez porque estivesse entre gente que eu sabia não ser mau
caráter. Na verdade, encontrei velhos amigos da faculdade hoje e foi muito
legal.
Tive uma ideia ótima. Deixei para ir para academia às 19h30 e saí as 21h
direto para o futebol. Cheguei lá literalmente superaquecido. Gostei de jogar
na defesa e tive oportunidades de gol, só que, para variar, faltou a ginga e desta
vez pontaria. Acontece. Mas a ginga vai chegar. Preciso perder mais peso ainda.
Estacionei em 88kg. Era para ter perdido mais 1kg ou pelo menos 1/2 esta semana,
mas saí da dieta bonito. Não foi de graça: passei muito mal desde sexta-feira e
só fui melhorar hoje.
Mas a luta continua. A matemática é simples, menos peso = menos dor =
mais gols. Então, continuamos com o projeto tanquinho. Embora ainda tenha que carregar
essa máquina de lavar roupa na barriga.
Saldo de 2019:
36 jogos
26 gols
36 jogos
26 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre
em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor da série de livros
Hegemonia e Fáfia – A Copa do Mundo de 2022.
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