domingo, agosto 31, 2025

Fragmentos da memória nas linhas do meu DNA

 



Não, não tem nenhum truque nas fotos. Ambas sou eu em fases distintas da minha vida. Essa foto, junto com meu exame de DNA, me trouxe muitas reflexões. 

Sempre soube que tinha ancestrais africanos e indígenas, e mesmo no século passado, quando isso era visto como um problema, eu sentia orgulho disso. A surpresa veio quando fiz um exame de DNA: não foram os 20% africanos, mas os apenas 5% indígenas, pois eu jurava que seria muito mais. Descobri também 20% de ascendência italiana, embora “Fialho”, apesar da sonoridade, seja um sobrenome 100% português. No restante, 39% ibérico, como era de se esperar.


No fundo, sou um típico caramelo brasileiro: fruto de misturas, encontros, tragédias e sobrevivências.


A ironia é que, nos séculos passados, a ciência europeia defendia a ideia de uma suposta “superioridade do sangue puro”. Hoje, precisamos ter cuidado ao discutir esse conceito, não para reforçar uma visão depreciativa de nós, “vira-latas”, mas porque existe uma verdade sedutora nisso: indivíduos com genética diversa muitas vezes são mais fortes, mais resistentes. Basta olhar nossos cães Caramelos, que vivem longos anos, necessitam de menos vacinas, menos visitas ao veterinário. Mas esse raciocínio nos leva a um terreno perigoso: a eugenia, que nunca esteve certa no passado e não vai estar agora.


A grande lição que tiro disso tudo é que devemos valorizar o que nos faz únicos. “Superioridade” é um conceito subjetivo e ilusório. O que me fascina é imaginar a vida dos meus ancestrais:

A ansiedade de quem deixou a Itália em busca de um novo mundo.

O terror de quem foi arrancado da África e lançado em um navio negreiro.

As mortes que atravessaram essas linhas do tempo, e os que as causaram.

As dores, as paixões, os pequenos momentos de alegria.


Há séculos de histórias escondidas nos nossos genes. Uma sequência interminável de acasos, escolhas, violências e esperanças que culminaram na pessoa que sou. Gosto de acreditar que todos eles estão vivos em mim, em algum lugar. E que são eles que, silenciosamente, me movem.


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