Deus pode estar morto, mas a depressão ainda insiste em continuar viva
Quem conhece a vida do filósofo Friedrich Nietzsche, aquele que mostrou que o homem criou Deus, e não o contrário, sabe que as constantes dores que ele sentia. Provavelmente era uma sequela de sua participação na Guerra Franco-Prussiana, que ocorreu entre 1870 e 1871, o conflito entre o Império Francês e o Reino da Prússia, que resultou na derrota da França e na unificação da Alemanha. As dores no corpo e principalmente na cabeça ajudaram a criar o conceito de se empoderar da dor. Grande parte da genialidade de seu trabalho vem de sua relação com a dor. Digo isso porque hoje eu sou todo dor. Sem querer me comparar com o Belchior germânico matador de deuses e criador do conceito de “super-homem” que sua irmã Elisabeth distorceu depois de sua morte para ajudar a criar um certo regime que apareceu na Alemanha em meados de 1935... O fato é que em 2024 tem sido o ano da dor. Dor física, dor mental, dor da alma... Solidão, sensação de abandono, fracasso, tristeza... Já tive depressão antes, mas em 2024 ela virou uma constante. Assim, como Nietzsche, estou tentando passar isso para uma obra literária que está praticamente pronta. Meu quarto romance, uma ficção científica sobre uma menina autista em um futuro muito distante...
Semana passada eu
fui para Macaé City, minha cidade adotiva. Lançamento de livro bombando de
gente, fiz palestra, dei entrevistas, muitos livros autografados e, por que
não? Um joguinho de futebol com meus amigos Samuca e Glauco. Preferi não entrar
no jogo em si, porque era um daqueles jogos oficiais. Mas brinquei antes e,
sim, fim um gol. Testei três chutes de esquerda que deram trabalho para o
goleiro. Na quarta oportunidade, dei uma de Inigo Montoya (do clássico A Princesa
Prometida) e surpreendi o goleiro mostrando que não sou canhoto. Soltei um
petardo e a bola bateu nas duas traves antes de entrar. Voltei de Macaé dividido.
Vontade de voltar a morar lá. Mas há coisas para fazer em Juiz de Fora ainda. Há
coisas para resolver na minha cabeça ainda.
Passei a semana
me recuperando da viagem e planejando um curta metragem. Sim, vamos fazer cinema,
por que não? Achei minha atriz principal, a bela Monise Glatzl, que me fez uma proposta
para treinar no estúdio dela. Talvez façamos uma parceria aqui no Blogg. Arrumei
equipamentos de filmagem com meu quase sócio Gilmar David, escrevi o roteiro, arrumei
dois assistentes e falta uma maquiadora.
Fora do mundo
cinematográfico, ainda falta eu terminar de revisar o Vellanda, o próximo livro
e mandar para editora em definitivo. Estou trabalhando na capa com o Matias
Streb, o eu novo capista oficial ninja! Falta pegar firme nos estudos do
doutorado e, principalmente, falta bater de frente com essa depressão. Para
isso, minha maior arma é o futebol.
Hoje teve jogo
de uma hora e meia no Mustela. Lembrando que o nome do meu time é Mustela
Putórius Furo, o Furão, em homenagem a qualidade de seus jogadores. Lugar perfeito
para mim.
Não é que meu
time venceu os quatro primeiros jogos logo de cara? E ainda por cima com dois
gols meus. O primeiro foi aquele de artilheiro oportunista em que a bola vem
chorando na cara do gol e eu estava no lugar certo, na hora certa. No segundo
eu estou reaprendendo a jogar futebol de salão e tasquei um porradão de bico de
fora da área que entrou no cantinho. Indefensável. Ainda dei ao menos uma
assistência estilo Zico: “Faz meu filho!”. Foi lindo, a bola veio e time
adversário veio todo junto para o meu lado. Eu consegui dominar e ir para lado
oposto, pegando o time no contrapé e dando o passe de esquerda para um golaço.
Ainda estou reaprendendo alguns macetes. Tentei chutar de bico de longe, de
tênis, duas vezes e foi horrível. Mas a gente aprende.
Pobre
depressão, ela não tem como concorrer com o Mustela. Mas precisamos fazer uns
ajustes. Estou ainda carregando 100kg no meu corpo a cada jogada. Deve ter uns
20kg só na barriga. Percebi que fortaleci as pernas, os joelhos não estão
doendo tanto. Aliás, quase nada, até porque ganhei um tênis novo do meu irmão, é
top de linha. Agora é aguentar a dor de cabeça (dei um passe lindo de cabeça
hoje também) e o corpo todo. Passei no mercado, comprei uma caixa de um litro
de água de coco e tomei toda de uma vez com gelo. Depois dormi a tarde inteira,
com direito a grandes quantidades de analgésicos.
Se tudo correr
bem, semana que vem, devo chegar mais inteiro ao Mustela no sábado com a ajuda
da Monise. E vamos ver como vão ser as filmagens no domingo.
Acho que esta
semana, a depressão vai levar uma coça, porque, afinal, depois de tudo que ela
fez comigo, eu ainda estou vivo. E com diria Nietzsche, o que não me mata, me
torna mais forte.
Saldo de 2024
Três jogos,
cinco gols, quatro assistências.
Clinton Davisson Fialho é jornalista, com pós em cultura africana e indígena e mestrado em novas tecnologias de comunicação. Como escritor é autor do clássico Fáfia, o jogador do futuro, do sucesso Hegemonia – Herdeiro de Basten, adotado como paradidático nas escolas do estado do Rio de Janeiro e agora do terror premiado Baluartes – Terra Sombria. Para este ano, vai lançar a prequel, Hegemonia – Vellanda, uma ficção científica sobre uma menina autista.