Existem similaridades irônicas entre o meio acadêmico e alguns princípios religiosos. Os evangélicos costumam usam a expressão “do mundo”, tipo, eu sou músico e já toquei música “do mundo” e agora só toco coisas da igreja.
No meio acadêmico também existe isso, só que, nas igrejas gostam
de pensar que tem grandes respostas, além da salvação para a humanidade e devem
compartilhar isso com o maior número de pessoas possível, incluindo muita
cantoria nos ouvidos dos vizinhos, pregações na rua e por aí vai.
Na academia é o contrário, os eventos são para poucos, as
respostas sempre questionadas, a divulgação é mínima e a interação e retenção
de conhecimento só são rompidas em troca de muito dinheiro.
Os EUA encontraram uma solução bizarra e cômoda: mantém uma
população com um nível educacional baixo e ainda difundem culturalmente que
educação demais é exagerado, não é de bom tom. Aí, dão bolsas especiais para os
gênios de diversos países para que levem suas pesquisas para a terra do Tio
Sam. Assim, mantém uma população com um nível cultural que o governo considera
mais dócil.
No Brasil é um pouco diferente. Quem se propõe a ser
acadêmico tem alguns mimos e ainda tem a possibilidade de flertar com o grande
pote de ouro da nossa sociedade há 300 anos que é os benefícios dos concursos
públicos. Mas é importante frisar que uma coisa não é exatamente igual a outra.
Quem realmente pode passar no concurso público são os concurseiros, um grupo
oriundo da classe média alta que pode dedicar de dois a cinco anos de suas
vidas para passar em um concurso e continuar fazendo parte da classe média
alta.
A sociedade criou uma dependência dos avanços acadêmicos de forma
mais efetiva do que um viciado depende de drogas fortes como a cocaína, o crack
ou o Rivotril. E a academia ganha suas migalhas da indústria para produzir mais
inovações como computadores mais rápidos, celulares melhores, drones, carros
elétricos, etc. Mas eu confesso que preferia que essa relação fosse mais
parecida com a das igrejas. Queria ver gente pobre lotando auditórios e pagando
dízimo por aulas de biologia, física, ainda que aplicadas ao dia a dia. Já que
falam tanto em matérias que sejam mais práticas nas rotinas diárias, que tal
filosofia com ênfase na ética? Nada mais útil e transformador para a rotina do
brasileiro.
Enfim, parafraseamos Carl Sagan que alertava 40 anos atrás
que vivemos numa sociedade que é absolutamente dependente de tecnologia onde
90% das pessoas não entende nada de tecnologia.
Nunca um astronauta vai bater na sua porta perguntando se
quer conhecer a palavra de Sir Isaac Newton, mas é bom avisar que já é de
conhecimento público que os carros elétricos já vêm com aviso de que, quando
apresentam defeitos, são jogados fora por falta de mecânicos que entendam aquela
tecnologia.
Do outro lado as igrejas fazem parte dessa intrincada
conspiração silenciosa, tentando transformar Darwin em uma espécie de demônio e
apelidaram a ética de “ideologia”, um novo palavrão o qual não sabem explicar.
Nem cogitam que a religião seja uma ideologia. Nos últimos anos flertaram
abertamente e promiscuamente com o fascismo se negando a aceitar que o que
faziam era fascismo, “apenas somos contra essas ideologias”, afirmam até hoje.
O fato é que o meio acadêmico gosta do isolamento, rejeita
os divulgadores científicos porque compactua com a exclusão. E assim caminhamos
para uma distopia de um apocalipse zumbi como a série The Walking Dead, onde
temos que fugir de zumbis que estão mortos, sem capacidade cognitiva, mas ao
mesmo tempo temer os vivos, ávidos por neutralizar ou cancelar quem se atreve a
expor questionamentos que fujam aos dogmas preestabelecidos. Enquanto isso, a
grama está sempre cortada, as casas estão limpas, a gasolina, a comida e a munição
nunca acabam, estamos sempre com roupas boas, os cabelos cortados, a barba
aparada. E assim a vida segue, sem saber em qual notícia podemos confiar, mas
sem perder a pose porque o Instagram tem que estar sempre com um conteúdo
atrativo, não necessariamente verdadeiro.
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