Drama juvenil minimalista passeia pelas ansiedades do amor
Um casal adolescente típico da Barra da Tijuca, região nobre
do Rio de Janeiro, vive um namoro tranquilo até que ela anuncia que em seis
meses irá se mudar para a França. Diante do conflito e das inseguranças que
envolvem a situação, eles tentam levar a coisa da maneira mais saudável
possível, mas ninguém é perfeito.
Que pensou em white people problems, está certo. São jovens
brancos héteros, bonitos e com situação financeira confortável. Entretanto, apesar
da saudável e necessária abertura que o cinema mundial e principalmente o
Hollywoodiano vem dando a filmes que abordam problemas de minorias, é sempre
bom saber que há espaço para todos. O Brasil não é só miséria, fome e violência.
O rótulo de “filme de um casalzinho adolescente burguês” pode até se encaixar
perfeitamente no filme de Matheus Benites, mas não o desqualifica como obra e
nem ofusca seus méritos que são muitos.
O jovem diretor realizou a produção juntando R$ 12 mil com
campanhas de Financiamento coletivo e fez um filme sensível, com ótimos diálogos,
boas interpretações e que aborda um tema universal: a natureza dos
relacionamentos humanos.
Embora os protagonistas interpretados por Gabriel Antunes e
Maria Clara Parente sejam adolescentes, a natureza dos temas abordados: ciúmes,
fidelidade, inseguranças, sexualidade, preocupação com o futuro, são inerentes
a pessoas de todas as idades. Quem pensa o contrário deveria furar a bolha e
prestar atenção em relacionamentos de idosos por exemplo. Vai por mim, meus
pais fizeram Bodas de Ouro ano passado...
O filme lembra um pouco a trilogia Before de Richard
Linklater, que mostra o relacionamento de um casal durante fases distintas
separados por nove anos, sendo que cada filme foi produzido nove anos depois do
outro. Fica aí a sugestão para o diretor de juntar o casal de atores daqui a
dois ou três anos, quem sabe?
Com apenas dois atores em cena na sua uma hora e dez minutos
de duração, o filme se sustenta nos diálogos naturalistas e na química do casal
de atores. Sabemos que, ao se mudar para a França, a relação deles fatalmente
irá se alterar e, provavelmente, vai acabar. Cada um deles está lidando com
isso internamente e transmite para o outro o que seria a ponta do iceberg de
seus dilemas, suas angústias e suas resoluções.
Com diálogos aparentemente banais, vamos entendendo a visão
de mundo de cada um. As semelhanças e diferenças vão aparecendo. A química do
jovem casal é impressionante. Gabriel Antunes e Maria Clara Parente fazem uma
interpretação naturalista e provavelmente trouxeram para o texto experiências
pessoais, tanto que estão ambos creditados no roteiro, algo muito semelhante ao
trabalho de Linklater na trilogia Before.
O filme não é livre de problemas. A pobreza da produção pode
ser vista principalmente na fraca captação de som que torna difícil, às vezes,
entender o que os atores estão falando, principalmente na cena de abertura na
praia. Ficamos sentindo uma falta de um desfecho mais consistente no terceiro
ato. A impressão que se tem é que cenas importantes foram perdidas e a edição
teve que se virar nos trinta depois.
Em compensação a fotografia é sempre criativa, tem ideias
sempre inventivas para não deixar um filme de diálogos algo totalmente estativo
e maçante.
O resultado é um filme sobre adolescentes que sai do
lugar comum e nos convida a conhecer quase em tempo real, algumas horas de dois
personagens com os quais nos identificamos e nos envolvemos. “Antes que ela vá” consegue nos passar um
pouco da angústia de quem sabe que seu romance tem data marcada para acabar. Aprendemos
com eles que aquilo não é o fim do mundo e que eles devem aproveitar aquilo de
bom que sua relação tem enquanto podem. Assim, através de dois adolescentes,
entendemos que todos os romances de certa forma também são assim, a vida é
assim. Não posso dizer com certeza se esta era a intenção do diretor, mas fica
a dica de um filme que consegue nos passar uma mensagem profunda sem soberba,
sem pretensões e de maneira leve. Agora é torcer para que o casal aproveite o
tempo que vão ter juntos. É o mesmo que todos nós deveríamos fazer.
Clinton Davisson é
jornalista e escritor, pós-graduado em educação e mestre em comunicação e
doutorando em comunicação. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado
Hegemonia – O Herdeiro de Basten.
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