Aviso, o texto abaixo toma diversas liberdades poéticas ao elogiar o medicamento cloridrato de metilfenidato, popularmente conhecido como Ritalina. Entretanto, é sempre bom lembrar que este medicamente só deve ser usado com indicação e acompanhamento médico.
Voltando com o Diário do Peladeiro após quase desistir de escrever. Foi uma coisa curiosa. Eu tinha melhorado 99% da depressão em novembro, graças a academia, o futebol e os amigos. Crédito também para minha companheira de aventuras, a Gabriela Moreira.
Enfim, resolvi que, para tentar enterrar
a depressão de uma vez, por todas, deveria ir além de só fazer terapia com
psicóloga. Aí, fui numa psiquiatra e resolvemos que deveria tomar um remédio
para ansiedade. O escolhido foi o succinato de desvenlafaxina monoidratado. Esse
troço dos diabos simplesmente me apagou dezembro todo. Um dos efeitos mais malucos
do remédio foi a confusão mental, desaconselhando na bula, por exemplo, a
dirigir. O ápice desse efeito foi num jogo em dezembro em que comecei jogando
com a camisa vermelha e depois troquei para azul. O resultado é que dei três
passes de cabeça para o time errado. Mas o “melhor” foi quando desarmei o meu
amigo, Bruno Kaehler, que era do meu time e entreguei a bola para o adversário.
Teve momentos em que simplesmente esquecia o que estava fazendo ali no campo. Numa
dessas, o Osmir, da pelada de Quinta, teve um acesso de raiva e quase me matou.
Eu parecia o gif do John Tavolta, perdido em campo. Mesmo assim, foi nessa
última pelada do ano, com passe justamente do Osmir, que fiz meu último gol de
2019. O de número 40.
Sim, o saldo final de 2019 foram 40 gols em 48 jogos. Contra 21 gols em 27 jogos em 2018. Como será 2020?
Sim, o saldo final de 2019 foram 40 gols em 48 jogos. Contra 21 gols em 27 jogos em 2018. Como será 2020?
Mas ainda falando de 2019.... Dormi e tive muita
diarreia em dezembro todo. Travei em praticamente tudo que estava fazendo e quando foi lá
pelo final do mês, eu resolvi parar. E quando deu exatos 15 dias que parei de
tomar o remédio, me veio ainda uma droga de um surto, no dia sete de janeiro,
que deixou todos os amigos mais próximos (não necessariamente próximos geograficamente)
assustados. Um ataque de pânico tão forte que assustou até minha terapeuta.
Enfim, remédio dos diabos! Caro para burro, me deixou prostrado, perdi um mês da
minha vida e ainda surtei no início de janeiro de uma forma que é melhor nem
escrever aqui. Já passou. Bola pra frente!
Voltei lá na médica e pedi para
trocar o remédio. Sugeri Ritalina. Oh, sagrada Ritalina, dádiva dos deuses
criada para pessoas com TDH tenham foco e potencializa a concentração. Ou seja,
passei a jogar dopado...
O resultado é que joguei três peladas
em 2020 e já fiz nove gols. Fora a disposição para fazer os projetos, estudar,
ler e tudo que tanto preciso. Em comparação ao ano passado, eu só fui chegar a
9 gols depois de 13 jogos e cinco meses. Foi um bom começo. Aliás, foi ótimo!
Viva a Ritalina!
O primeiro gol foi em Barra Mansa
no meu querido e lendário Moinho de Vento, dia 2 de janeiro. O gol veio de um passe
do meu mestre e mentor Ricardo de Mello no campinho em que aprendi a jogar bola
38 anos atrás. Foi simbólico. Não foi exatamente um jogo, mas conta como o
primeiro gol de 2020. A ideia de voltar às origens permeia todo esse blog. Redescobrir
a identidade perdida. Precisava voltar lá no Moinho de Vento. Precisava olhar
com clareza aquele lugar que ajudou a construir minha personalidade até então
perdida. Precisava fazer um gol lá... Precisava me encontrar.
Depois veio uma pelada da
quinta-feira, dia 9 de janeiro. Não fiz nenhum gol. Lembro que corri bastante.
O goleiro fez duas defesas tão difíceis de dois chutes meus, que até se
machucou, fui até cumprimentá-lo.
É a pelada mais organizada que
participo, mas como tem muita gente, dá a impressão de que o tempo passa mais
rápido e quando vejo, já acabou. Lembro que cheguei cedo e fiquei correndo no
campo, treinando dominar a bola sem olhar para ela, com a cabeça levantada,
como eu fazia nos tempos de escolinha de futebol... Bilhões de anos atrás...
Durante o jogo, tentei fazer isso e a bola passou debaixo do meu pé duas vezes.
Acho que o treino não valeu muito...
O que ficou de relevante foi mais
a dor nos dois joelhos que, mesmo depois de 20 dias sem jogar e sem malhar, não
melhoraram. Confesso que fiquei preocupado. Marquei até ortopedista para o mês
que vem.
Depois veio o glorioso retorno da
pelada de Sábado, na Faefid, dia 11 de janeiro. Resolvi subir de ônibus porque
me obriga a andar um pouco e me aquecer no processo. O problema é que tive que
passar no banco primeiro para pegar dinheiro para pagar a pelada. Isso me fez
perder o ônibus e chegar atrasado.
Cheguei lá, um calor sinistro, abafado.
Enfim, fiquei mais ousado desta vez. Tentei dribles, dei bons passes, mas
comprovei uma coisa muito óbvia que já vinha suspeitando desde que voltei a
jogar em 2015: eu não tenho fôlego ou pique para acompanhar a garotada de menos
da metade da minha idade, mas por algum fenômeno biológico desconhecido, eu sou
sempre o último a me cansar. Então, no final da pelada, todo mundo se
arrastando e eu correndo. Aprendi a usar isso a meu favor. No final, com a
defesa do adversário cansada, eu estava sempre indo e voltando e me colocava
bem. Fiz três gols justamente neste final de jogo, quando todo mundo estava
cansado e eu estava “inteiro” ou talvez, menos acabado que os outros.
O primeiro gol veio num passe açucarado.
Eu estava só tive que matar a bola com muito, muito cuidado, morrendo de medo
de perder aquele gol feito e chutar. O segundo foi um passe do Furlan e eu
estava de costas para o gol. Toquei de letra e calcanhar e a bola entrou. Até agora,
meu gol mais bonito do ano. O último foi também um belo passe do Furlan que eu
só tive que chutar longe do goleiro. Pensando bem, acho que todos os gols foram
passes do Daniel Furlan. Mas sei que dei passe para pelo menos dois gols dele
também.
Momento curioso. Teve um jogador
que eu não sei o nome. Dei um ótimo passe no meio de campo por baixo das pernas
nele. Teve um momento em que eu roubei a bola no meio, cara a cara com o
goleiro, chutei por debaixo das pernas dele. Era o mesmo cara. Só que desta
vez, ele conseguiu defender com a ponta do calcanhar.
Fiz três, mas perdi uns seis.
Acho que pode melhorar. Sempre pode, né?
Depois veio a pelada de ontem, 14
de janeiro, terça-feira. Pelada da imprensa, no mesmo Soccer Aero ball da
pelada de Quinta-feira. Desta vez, fiz cinco gols e dei uns passes para, pelo
menos mais quatro. Melhor atuação até agora. Embora, claro, no meu universo
perfeccionista, ainda tenho muito que melhorar. Mas já é o maior número gols
numa única pelada desde que voltei a jogar em 2015 (depois de 12 anos parados
por problema na coluna, para quem não sabe). Viva a Ritalina!
Difícil até lembrar de todos os
gols. Mas vou tentar. Foram dois gols de um lado do campo e três do outro.
Lembro que o primeiro foi o mais bonito porque recebi o passe de fora da área e
emendei de direita de primeira para o gol. A bola foi suave, no alto, nem lenta
e nem rápida, o goleiro pulou, mas ela passou deixado do braço dele. É ótimo
quando a gente faz o gol com um movimento automático, sem pensar muito.
Teve o Anderson, tio do Rodrigo,
um baixinho muito bom de bola. Segundo nosso amigo, Lucas Demolinari, era uma
mistura de Soteldo (Santos) com Thiago Neves (Cruzeiro). Ele me lembrou
incrivelmente o Genésio do Moinho de Vento, que por sua velocidade na marcação,
ganhou o apelido carinhoso de Carrapato. Fizemos uma boa dupla, dei uns três ou
quatro passes para ele fazer gols. Não contei, mas com certeza ele fez mais que
eu, que fiz cinco.
Realmente não lembro de todos os
gols que fiz, mas lembro de dois que perdi. Um porque foi debaixo da trave com
um passe preciso do meu garçon predileto, o Bruno Kaehler, que, seguindo a
linha de raciocínio de comparações, é uma mistura de Modric com Geromel.
Enfim, o Bruno fez uma jogada
fantástica, passando por dois na linha de fundo e cruzando para mim praticamente
dentro do gol. A bola veio rápida e passou por debaixo das minhas pernas. É o
tipo de gol mais triste de se perder. Mas acontece. O que eu gostei é que não desisti
e fui atrás da bola e consegui recuperar e iniciar outra jogada.
Tentei chutar de longe três vezes, uma foi para
fora, outra o goleiro defendeu e outra na trave. E o gol que mais lamentei ter
perdido foi um que recebi na entrada da área, consegui tirar o goleiro com um
drible curto e chutar de esquerda. Mas a bola não pegou corretamente e foi para
fora, por muito pouco.
Acho que perdi uns três gols de ótimos
passes. Mas fico sempre naquela dúvida: pegar de primeira e seja o que Deus
quiser ou dominar e chutar, dando chance para a defesa chegar e cortar? Mas
tudo se resume, desde o começo, desde que voltei a jogar, a aceitar os próprios
erros. A lidar com a ansiedade, não com remédios que me deixam com sono e
diarreia, mas com treino. Enfiando na cabeça que sou humano. Humanos erram. Humanos
acertam. Mas só acertam aqueles que tentam. Então, tentei. Chutei de esquerda,
a bola entrou, acho que foi passe do Anderson. O Bruno/Geromel/Modric me deu
passe para pelo menos mais dois gols. Um eu peguei de primeira e entrou. Outro
eu dominei e chutei, entrou. A vida é simples. A minha ansiedade é que
complica.
Tenho certeza que fiz um gol com
passe do Fernando Junior também e quase certeza que dei passe para ele também
fazer gol.
Enfim, foi um dia muito legal e o
ano está só começando. Um ano ainda cheio de incertezas, mas também cheio de
possibilidades. Talvez de mudança de cidade, mas com certeza de mudança de vida,
mudança de atitude, de postura. Saí do modo sobrevivência, que foi muito útil e
necessário nos últimos dois anos, porque ninguém sabe o inferno que passei..., mas
agora entrei no modo do combate. Viva a Ritalina!
Saldo de 2020
3 jogos
9 gols
Clinton Davisson é jornalista,
pós-graduado em educação e mestre em comunicação. Autor de quatro livros, entre
eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten. Trabalhou nas séries Malhação, Tapas & Beijos, foi consultor na série Ilha de Ferro da Globoplay. Atualmente
trabalhando no piloto da série Baluartes.
Muito bem. Começando o ano metendo bola na rede! 2020 vai bombar.
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