Nova versão live-action de clássico da Disney é burocrática, mas agrada
fãs do original
O sucesso do desenho animado A
Bela e a Fera de 1991 foi tanto que gerou também um musical na Broadway,
avenida de Nova Iorque em que ficam os teatros mais badalados dos EUA. A peça atraiu
multidões e ficou em cartaz de 1994 até 2007. Agora, com o sucesso de outras
versões com atores reais de desenhos da Disney, como Malévola e Cinderela, era
inevitável que A Bela e a Fera também ganhasse sua versão live-action. Porém,
muitos não perceberam é que essa versão é muito mais influenciada pelo musical
da Broadway que propriamente pelo desenho animado. Por isso, quem for ver, se
prepare para uma quantidade bem maior de números musicais e canções que o desenho
animado.
Baseado em um conto francês, escrito
por Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve, em 1740, conta a história de
uma moça que, para salvar o pai, acusado de ladrão, aceita ser prisioneira de
um monstro que na verdade é um príncipe amaldiçoado. No filme de 1991, assim
como nessa nova versão, sobra maldição para os empregados do príncipe também
que acabam se transformando em parte da mobília, da prataria e até da louça do
castelo. Também como na versão em desenho animado, a maldição só será quebrada
se o monstro conseguir amar e ser amado. E isso tem que ocorrer antes que uma
rosa mágica perca totalmente as pétalas.
Protagonizado pela eterna
Hermione de Harry Potter, Emma Watson, o filme ainda tem vários atores famosos
fazendo as vozes dos empregados transformados. Assim, Ewan McGregor, o Obi Wan
de Star Wars, faz o castiçal Lumiere, enquanto Ian McKellen, (Magneto e
Gandalf) faz o relógio Cogsworth. Quem rouba o show é Luke Evans como mal
caráter Gaston que está hilário como o ótimo vilão que toda boa história
merece.
O filme, porém, é irregular, embora
cumpra o papel de divertir especialmente quem é fã do desenho original. Várias partes
do desenho são reproduzidas de forma idêntica, principalmente a icônica cena da
dança, com Emma Thompson substituindo a lendária Angela Lansbury cantando a
música tema que, inclusive, ganhou o Oscar em 1992. Há momentos belíssimos para
arrancar suor dos olhos mais insensíveis. Mas eu confesso que chegou um momento
que eu que pensei comigo: “Ah, não, vou ter que aturar mais uma canção!”. A
maioria das músicas que não estavam no desenho são bem chatinhas. O maior
defeito, entretanto, fica por conta dos efeitos digitais da Fera que, por
problemas da produção, tiveram que ser refeitos às pressas. O plano original era
que o ator Dan Stevens, o Matthew da série Downton Abbey, usasse maquiagem, mas
a ideia não funcionou. Com a bilheteria chegando aos 500 milhões de dólares
pelo mundo, entretanto, é fácil atestar que o filme herdou o charme, a simpatia
e os dólares do agora clássico desenho de 1991.
Burocracia e polêmica
Atender as
demandas do politicamente correto é sempre um desafio para a criatividade dos
roteiristas, bem como a chance de atualizar uma história centenária sem que ela
perca sua essência. No caso, trata-se de “Um conto tão antigo como o tempo”
segundo a letra original da consagrada canção. A história fala de uma mulher
presa por uma fera e que acaba se apaixonando por ela. Algo que há 300 anos, em
um continente em que saber ler e escrever era privilégio de poucos, o casamento
era algo arranjado por interesse e a noção de romantismo tinha mais a ver com a
cultura muçulmana que com a europeia, era fácil de aceitar como uma bela
história de amor.
Mesmo o
desenho de 1991 foi alvo de críticas pesadas, a mais famosa na também animação Shrek
de 2001, quando a princesa Fiona ao ser livrada do feitiço, faz o contrário do
que acontece em A Bela e a Fera e assume definitivamente a forma de ogro, ou
seja, ser feio ou mesmo monstruoso não precisa necessariamente ser uma maldição
e você pode ser aceito e ser amado sem
precisar ser um modelo de beleza. O filme agora tenta contornar isso mostrando
que a maldição foi desencadeada por uma bruxa exatamente porque o príncipe se
recusou a ver a beleza interior.
A inclusão de
negros no filme também causou polêmica. Houve protestos de alguns defensores do
“historicamente correto” que não são necessariamente estudantes de história, ou
saberiam que já havia muitos negros na França na época em que a história se
passa, ou mesmo na época em que o conto foi escrito. Basta lembrar que o
consagrado autor Alexandre Dumas, criador de Os Três Mosqueteiros, é negro e
nasceu em 1802. Então, a inclusão de negros não é nenhuma grande ousadia,
apenas uma correção. Já o personagem gay é tão caricato e paradoxalmente
discreto que chega a decepcionar quem esperava algo mais ousado.
Finalmente,
sobre a síndrome de Estocolmo, em que a prisioneira se apaixona por seu
carcereiro, o filme usa a solução do conto, ou seja, a Bela só se apaixona pela
Fera no momento em que esta lhe concede a liberdade de escolha. Entretanto, a
rapidez com que a personagem de Emma Watson vai se interessando pelo monstro na
medida em que vai passeando pelo castelo e descobrindo que ele tem uma
biblioteca gigantesca, objetos mágicos e belos jardins, deixa a impressão que o
filme não defende exatamente beleza interior, mas que você pode conquistar uma
bela menina mesmo sendo feio, desde que você seja rico.
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