Não é só no Brasil. Para mostrar que amamos uma coisa sentimos necessidade de mostrar hostilidade com outra. A noção de identidade às vezes tem mais a ver com quem não somos.
Mesmo assim, fico impressionado com o recalque dos Trekkers em relação a proximidade do Despertar da Força.
Vários amigos que são fanáticos assumidos de Star Wars confessam que, assim como eu, são trekkers, as vezes gostam mais de Star Trek que Star Wars. Então é estranho para mim quando alguém se vê obrigado a escolher um lado.
Embora as duas séries sejam basicamente Space Opera, Star Trek tem muito mais a ver com ciência e tecnologia, enquanto Star Wars tem mais a ver com aventura. Daí a grande discussão se Star Wars era realmente ficção científica e não fantasia. A dúvida pega carona numa briga antiga quando o contador ligado a exatas Jules Verne não aceitava que as discussões sociais do biólogo H.G. Wells fossem consideradas ficção científica.
Então, numa discussão de boteco é fácil provar que Star Trek é melhor, ou pior, que Star Wars. Depende só de quem tiver a melhor memória. Há momentos trash em que Kirk lutou contra uma cenoura gigante e há momentos fantásticos como em que Picard vive em poucas horas a vida inteira de um alienígena de uma raça que já se extinguiu (inner light). Mesmo na subestimada série Enterprise, última aparição da série na TV, há episódios absurdamente bons.
A rivalidade deu uma acirrada depois que o diretor J.J. Abrams foi chamado para dirigir O Despertar da Força. O diretor foi levado ao cobiçado trono para dirigir Star Wars justamente por ter salvo Star Trek da morte horrível nos cinemas. Feitos não para agradar os trekkers, mas para ressuscitar uma série morta e deixá-la atraente para uma nova geração, os filmes do Abrams deixaram a ciência de lado mas abraçaram um tom de absoluta reverência aos personagens. Claro, pegar Star Trek e deixar a ciência de lado é um troço perigoso.
No segundo filme, Into the Darkness, há uma cena em que a Enterprise está com os motoros estourados ao lado da Lua e, 3 minutos depois, está caindo na atmosfera da Terra atraída pela gravidade. Isso é abusar da paciência e boa vontade até de fãs de Transformers. Fazer isso com Trekker confesso que irritou até a mim (trekker também com muito orgulho).
Pelo que vejo, às vezes Trekkers se comportam como tias velhas com inveja do primo bonito que tem um bom emprego e vários troféus em casa. Mas o "primo pobre" tem entre seus muitos feitos o fato de ter inspirado 99% dos autores de ficção científica, astronautas, engenheiros espaciais do mundo. Enfim, Star Trek merece mais que ser comparado a Star Wars o tempo todo.
terça-feira, dezembro 01, 2015
sábado, outubro 17, 2015
CLFC lança prêmio Argos de Literatura Fantástica 2015
No ano em que comemora seus
30 anos de fundação o Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil – CLFC lança
a sétima edição do prêmio Argos de Literatura Fantástica, um dos mais
importantes do cenário nacional. O objetivo é incentivar e prestigiar a leitura
de obras do gênero de autores nacionais.
Esse ano o prêmio traz além
das tradicionais categorias de Melhor Romance e Melhor Conto, estreia de melhor
Antologia ou Livro de Contos. Ou seja, três categorias de premiações.
A festa de entrega do
prêmio vai ser durante o Jedicon Rio de Janeiro 2015 nos dias 28 e 29 de novembro
no Planetário da Gávea e vai ter como homenageado o escritor Jorge Calife que
receberá o prêmio Argos pelo conjunto da obra. Jorge Calife autor da saga
Padrões de Contato ficou famoso na década de 80 por ter escrito a novela 2002
que foi enviada a Arthur C. Clarke que inspirou o livro 2010 – A Segunda
Odisseia. O livro se transformou em nada menos que a continuação de 2001 – Uma Odisseia
no Espaço, considerado por muitos como o melhor filme de ficção científica de
todos os tempos.
De acordo com o presidente
do Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil, Clinton Davisson, para
concorrer ao prêmio não é necessário se inscrever. “Qualquer história de ficção
científica, fantasia ou terror publicada originalmente em língua portuguesa, em
meio impresso ou digital, durante o ano de 2014 está apta a receber votos e a
votação é realizada somente pelos sócios do Clube que conta hoje com 1040 associados
oficiais”, explica o presidente.
As votações se iniciam no
dia 19 de outubro, segunda-feira e vão até 1º de novembro.
Os finalistas serão
divulgados dia 8 de novembro e os vencedores serão revelados durante o Jedicon
2015.O prêmio surgiu no início da década passada e durou quatro edições em 2000, 2001, 2002 e 2003. O nome do prêmio foi uma homenagem à Coleção Argonauta, uma série de livros de bolso de ficção científica, publicada pela Editora Livros do Brasil, pioneira na divulgação do gênero em língua portuguesa.
De acordo com o escritor Gerson Lodi-Ribeiro, um dos criadores do prêmio e agora consultor da nova edição do Argos, o nome foi um consenso porque o próprio Clube nasceu de uma convocação impressa no livro do Roberto Cezar Nascimento, Quem é Quem na Ficção Científica – Volume 1: A Coleção Argonauta. “A Coleção Argonauta sempre foi importante para a maioria dos sócios da velha-guarda. Daí, quando se pensou em criar um prêmio do CLFC, ‘Argos’ foi o nome de consenso”, lembra.
Os
interessados em se associar ao CLFC podem encontrar instruções no site www.clfc.com.br onde também consta o regulamento da premiação.
quarta-feira, setembro 16, 2015
domingo, agosto 23, 2015
Lá vamos nós para mais uma Bienal do Livro
O escritor Clinton Davisson, presidente do Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil, vencedor do Prêmio Nautilus da Revista Scifi News contos e autor da saga Hegemonia - O Herdeiro de Basten estará no estande da Editora Draco promovendo o Brasil Fantástico, segundo livro do CLFC que promove uma releitura do folclore nacional.
segunda-feira, maio 11, 2015
50 tons de Arquivo X
Com Gillian Anderson e Jamie Dornan, série The Fall nos
deixa a impressão de ver a Agente Scully tentando prender Christian Grey
É engraçado saber que séries inglesas também precisam ganhar
versões americanizadas para passar nos EUA. Esse inclusive é o tema de série,
no caso Episodes. Mas isso fica bem claro quando assistimos The Fall.
Quem se acostumou as tiros, explosões, correrias das séries americanas, vai ter dificuldade com o ritmo lento de The Fall. Embora isso seja uma qualidade a maior parte do tempo, confesso que às vezes perdi a paciência, principalmente no penúltimo episódio.
Quem se acostumou as tiros, explosões, correrias das séries americanas, vai ter dificuldade com o ritmo lento de The Fall. Embora isso seja uma qualidade a maior parte do tempo, confesso que às vezes perdi a paciência, principalmente no penúltimo episódio.
The Fall é uma série inglesa estrelada pela eterna Agente
Scully de Arquivo X, Gillian Anderson, e pelo desejado Christian Grey na
adaptação cinematográfica de 50 Tons de Cinza, Jamie Dornan. Criada por Allan
Cubitt, a série apresenta os trabalhos da detetive Stella Gibson (Gillian
Anderson), que é chamada pela polícia da Irlanda para investigar os crimes que
vêm sendo cometidos por um assassino em série. O público acompanha
simultaneamente os trabalhos da detetive e a vida do criminoso, Paul Spector
(Jamie Dornan), um homem casado e com uma filha pequena, que não consegue
conter seu desejo de atacar mulheres.
Com um ritmo lento, porém intenso, a série não faz cerimônia
em explorar a sensualidade de seus atores principais e coadjuvantes. Mas é nas
interpretações que os atores exibem o que tem de melhor. Rotulada para sempre
como a agente Dana Scully de Arquivo X, Anderson volta a fazer uma
investigadora, usa roupas bem parecidas, participa de autópsias, mostra o mesmo
andar e as pernas imortalizadas em Arquivo X, mas é nas sutis diferenças entre
as personagens que ela cresce e aparece. Stella Gibson é uma mulher madura,
segura de si e de sua sensualidade. Além de tudo é tão fria que parece
descender do iceberg que afundou o Titanic. Enquanto Scully vivia à sombra do
Agente Mulder, Stella está sempre no controle e exala força em todas as
cenas. Em determinado momento um
personagem chega a perguntar: “Você tem ideia do efeito que causa nos homens?
Eu largaria tudo, família, emprego, tudo por você!” e recebe apenas um olhar
gelado, como se mentalmente ela repetisse a famosa frase de Rick Blaine em
Casablanca: “Se eu ao menos pensasse em você, provavelmente te desprezaria”.
Já Jamie Dornan
também faz um personagem que poderia ser muito bem uma variação de Christian
Grey, ou talvez uma irônica fanfic de 50 Tons de Cinza com o tema: o que
aconteceria se Christian Grey não fosse rico? Pacato psicólogo, pai de dois
filhos, casado com uma enfermeira feiosa, Paul Spector ama sua família, é um
profissional competente e, ao contrário de Christian Grey, nos é apresentado o
tempo todo como um ser humano real. Se
você teve coragem de ir ao cinema ver 50 Tons de Cinza (não foi meu caso), deve
ter rido na famosa cena onde o galã brega diz para Anastasia Steele que não faz
amor, ele “fode... e com força”. Fica difícil imaginar o mesmo ator que protagonizou
essa que talvez entre para a história como uma das piores cenas de todos os
tempos no cinema, fazer uma declaração de amor para uma personagem específica
nos últimos episódios que me fez literalmente desabar em lágrimas. Muito se
comentou da atuação hipnótica de Vincent D’Onofrio como Wilson Fisk na série O
Demolidor e provavelmente haverá prêmios para esse ator no próximo ano se
existe alguma justiça neste mundo. Agora, Jamie Dornan não ficou atrás (sem trocadilhos
maldosos, please) e mergulhou na psique de seu psicopata frio e implacável que
também pode ser um pai de família amoroso e profissional exemplar. A série é tão bem escrita que entendemos
perfeitamente todos os porquês e motivações do personagem sem a necessidade de defende-lo
ou mesmo redimi-lo. Ele é um escravo de seus próprios desejos, um viciado em
morte. Entendemos que a frieza que une
Stella Gibson e Paul Spector os faz quase espelhos. Almas gêmeas que, em certo
ponto, parecem ter consciência do que representam um para o outro.
Fica apenas o reforço do aviso: não espere uma série
movimentada e se prepare para poucos acontecimentos. Mas esse ritmo, ou a falta
dele, é compensado largamente com um
roteiro bem amarrado e atuações soberbas.
De ruim, fica apenas a estranheza diante do anúncio de uma
possível terceira temporada. Não consigo imaginar que Stella e Paul tenham algo
mais a me dizer. Entretanto, se tiverem, estarei lá para escutar, é o mínimo
que posso fazer para agradecer esses atores e seus maravilhosos personagens.