É engraçado saber que séries inglesas também precisam ganhar
versões americanizadas para passar nos EUA. Esse inclusive é o tema de série,
no caso Episodes. Mas isso fica bem claro quando assistimos The Fall.
Quem se acostumou as tiros, explosões, correrias das séries americanas, vai ter dificuldade com o ritmo lento de The Fall. Embora isso seja uma qualidade a maior parte do tempo, confesso que às vezes perdi a paciência, principalmente no penúltimo episódio.
Quem se acostumou as tiros, explosões, correrias das séries americanas, vai ter dificuldade com o ritmo lento de The Fall. Embora isso seja uma qualidade a maior parte do tempo, confesso que às vezes perdi a paciência, principalmente no penúltimo episódio.
The Fall é uma série inglesa estrelada pela eterna Agente
Scully de Arquivo X, Gillian Anderson, e pelo desejado Christian Grey na
adaptação cinematográfica de 50 Tons de Cinza, Jamie Dornan. Criada por Allan
Cubitt, a série apresenta os trabalhos da detetive Stella Gibson (Gillian
Anderson), que é chamada pela polícia da Irlanda para investigar os crimes que
vêm sendo cometidos por um assassino em série. O público acompanha
simultaneamente os trabalhos da detetive e a vida do criminoso, Paul Spector
(Jamie Dornan), um homem casado e com uma filha pequena, que não consegue
conter seu desejo de atacar mulheres.
Com um ritmo lento, porém intenso, a série não faz cerimônia
em explorar a sensualidade de seus atores principais e coadjuvantes. Mas é nas
interpretações que os atores exibem o que tem de melhor. Rotulada para sempre
como a agente Dana Scully de Arquivo X, Anderson volta a fazer uma
investigadora, usa roupas bem parecidas, participa de autópsias, mostra o mesmo
andar e as pernas imortalizadas em Arquivo X, mas é nas sutis diferenças entre
as personagens que ela cresce e aparece. Stella Gibson é uma mulher madura,
segura de si e de sua sensualidade. Além de tudo é tão fria que parece
descender do iceberg que afundou o Titanic. Enquanto Scully vivia à sombra do
Agente Mulder, Stella está sempre no controle e exala força em todas as
cenas. Em determinado momento um
personagem chega a perguntar: “Você tem ideia do efeito que causa nos homens?
Eu largaria tudo, família, emprego, tudo por você!” e recebe apenas um olhar
gelado, como se mentalmente ela repetisse a famosa frase de Rick Blaine em
Casablanca: “Se eu ao menos pensasse em você, provavelmente te desprezaria”.
Já Jamie Dornan
também faz um personagem que poderia ser muito bem uma variação de Christian
Grey, ou talvez uma irônica fanfic de 50 Tons de Cinza com o tema: o que
aconteceria se Christian Grey não fosse rico? Pacato psicólogo, pai de dois
filhos, casado com uma enfermeira feiosa, Paul Spector ama sua família, é um
profissional competente e, ao contrário de Christian Grey, nos é apresentado o
tempo todo como um ser humano real. Se
você teve coragem de ir ao cinema ver 50 Tons de Cinza (não foi meu caso), deve
ter rido na famosa cena onde o galã brega diz para Anastasia Steele que não faz
amor, ele “fode... e com força”. Fica difícil imaginar o mesmo ator que protagonizou
essa que talvez entre para a história como uma das piores cenas de todos os
tempos no cinema, fazer uma declaração de amor para uma personagem específica
nos últimos episódios que me fez literalmente desabar em lágrimas. Muito se
comentou da atuação hipnótica de Vincent D’Onofrio como Wilson Fisk na série O
Demolidor e provavelmente haverá prêmios para esse ator no próximo ano se
existe alguma justiça neste mundo. Agora, Jamie Dornan não ficou atrás (sem trocadilhos
maldosos, please) e mergulhou na psique de seu psicopata frio e implacável que
também pode ser um pai de família amoroso e profissional exemplar. A série é tão bem escrita que entendemos
perfeitamente todos os porquês e motivações do personagem sem a necessidade de defende-lo
ou mesmo redimi-lo. Ele é um escravo de seus próprios desejos, um viciado em
morte. Entendemos que a frieza que une
Stella Gibson e Paul Spector os faz quase espelhos. Almas gêmeas que, em certo
ponto, parecem ter consciência do que representam um para o outro.
Fica apenas o reforço do aviso: não espere uma série
movimentada e se prepare para poucos acontecimentos. Mas esse ritmo, ou a falta
dele, é compensado largamente com um
roteiro bem amarrado e atuações soberbas.
De ruim, fica apenas a estranheza diante do anúncio de uma
possível terceira temporada. Não consigo imaginar que Stella e Paul tenham algo
mais a me dizer. Entretanto, se tiverem, estarei lá para escutar, é o mínimo
que posso fazer para agradecer esses atores e seus maravilhosos personagens.
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