domingo, janeiro 26, 2020

Diário de um peladeiro 2020 – Parte 2 - E que a ginga esteja com você!


O site Omelete, que acompanho desde que surgiu há 10 anos, elegeu Pelé – O Nascimento de uma lenda como o pior filme da década que acabou (entre 2010 e 2019). Eu sou suspeito, mas adoro filmes de futebol. Eu gostei do filme. Apesar de realmente não ter como ignorar os defeitos tanto na parte narrativa, quanto na parte de fidelidade histórica. Mas pior da década?
Meu filme de futebol preferido ainda é o clássico Fuga para Vitória (Victory, 1981), dirigido pelo lendário John Huston, que coloca um time com Pelé, Bobby Moore e Osvaldo Ardiles, enfrentando um time de nazistas em plena Segunda Guerra Mundial. O time ainda contava com ninguém menos que Silvester Stallone como goleiro e o oscarizado Michael Caine (o Alfred do Batman do Nolan) como capitão e centroavante. Para quem não conhece, o filme conta a história de um capitão inglês (Caine), detido em um campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial e que usa o futebol para distrair os outros companheiros prisioneiros. O diretor do presídio, um nazista interpretado pelo também premiadíssimo, Max von Sydow (o padre de O Exorcísta), desafia os prisioneiros para um jogo contra os guardas alemães. Com Pelé em Campo e Silvester Stallone no gol, vocês já imaginam que não houve 7x1, ao menos naquela vez. O filme é uma verdadeira declaração de amor ao futebol.

Mas voltando ao “filme do Pelé” de 2016, sim, o filme é ruim, não resta dúvida. Mas a maior crítica que se faz é como a história coloca a “ginga” como algo parecido com a “força” de Star Wars. Como é um filme escrito e dirigido por norte-americanos, dá para imaginar que a ideia veio dos professores de capoeira que nos EUA e Europa realmente gostam de se referir à ginga como algo místico. Para brasileiros é apenas não ter cintura dura, é o remelexo, a desenvoltura, é algo natural, mas para gente com cintura dura como... Eu, é sim, algo sobrenatural muito parecido com a força de Star Wars.
Bom, na quarta e na quinta peladas do ano eu fiz um gol em cada uma. Ambas foram na Faefid – Faculdade de Educação Física da UFJF.
Semana passada eu ainda estava com um bom fôlego. Corri, driblei. Tive boas chances e alguma eu mesmo criei. O gol veio em uma jogada que teve que ser repetida três vezes para dar certo. Passe da direita para eu pegar de primeira na entrada da área. Eu tentei parar a bola outras vezes e não deu certo. A marcação chega muito rápido. Quando peguei de primeira, fiz o gol.
Fiz novamente meu duelo pessoal com meu amigo (e ator recrutado), o Lucas Scafuto. Ele ganhou uma bola na entrada da área e eu, ao tentar cortar, chutei o pé dele e parei a jogada para não fazer falta ou não machucar mais. Ele prosseguiu e fez o gol. Fez o correto. Eu é que optei conscientemente por pegar mais leve com medo de machucar o amigo.
Depois driblei ele no meio de campo e toquei para um atacante que fez o gol. Empatamos, eu acho.
O fato é que emagreci. Estou mais leve. Isso tem ajudado.
Mas aí, veio a pelada de 25 de janeiro. Um mês depois do Natal. Em apenas 25 dias, eu fiz 11 gols em apenas cinco jogos. Ano passado, só alcancei essa marca apenas no dia 25 de maio, depois de 16 jogos e quase 6 meses. Houve uma evolução no meu futebol, na minha ginga, verdade seja dita. A ginga está comigo agora! Mas vamos lembrar que, em Star Wars temos o lado negro e o lado luminoso da força. Será que isso também ocorre com a ginga?
Na pelada passada, antes de começar, fiquei treinando o famoso giro. Receber a bola de costas para o gol, girar e a chutar. Hoje houve duas oportunidades de fazer isso e não consegui. Preferi passar para alguém. Numa delas, eu não consegui dominar a bola, mas acabei dando um passe bonito, ainda que involuntário para o João (Johnny) que fez um golaço. Mas o legal é que dei passes para vários gols e armei pelo menos duas belas jogadas.
Dei muitos chutes. Dois de esquerda muito bonitos. Um o goleiro defendeu após a bola ter pego na mão do André e outro foi para fora, passando bem pertinho da trave.
Mas finalmente consegui fazer o bendito giro. Recebi a bola do Bruno Kaehler, meu eterno garçom e ameacei devolver. Tive calma para ir girando devagar em busca de uma jogada. Quando não apareceu, chutei forte para o gol de direita. Foi o gol mais bonito até agora, o que me deixou mais feliz. Mais até que o de letra. Porque foi um gol finalmente construído por mim ao invés de esperar por passes na entrada da área.
O lado negro da ginga
Em determinado momento, estava fazendo a marcação da saída de bola do time adversário. E fui disputar a bola com o Fernando Junior. Um cara que é forte no lado luminoso da ginga. Tem uma habilidade impressionante, do tipo que é legal assistir jogar. Mas como eu não estava ali para assistir, entrei mais duro. Funcionou. A bola bateu em nós dois e foi em direção à linha de fundo. Então, ele usou a ginga, como bom Jedi que é. Fingiu que ia sair com ela pela esquerda, mas deu as costas para mim, protegendo a bola. Só que eu fui atrás e dei um carrinho com a certeza que ele iria para a esquerda, só que ele não foi...
 Eu até acertei a bola, mas também acertei o pé dele que travou. Ele acabou se contundido. Acho que num jogo oficial, eu seria expulso ou pelo menos um cartão amarelo pelo carrinho por trás. Uma jogada perigosa.
Resultado: tirei o Fernando do jogo. No começo, eu e muita gente achamos que ele estava enfeitando o lance. Escutei até a voz do meme: “Foi nada, foi nada, se jogou. Esperou o contato, o contato veio. Viu que o juiz estava marcando tudo e pulou”. Mas infelizmente foi sério.
Dá o que pensar. Foi uma jogada perigosa. Assim, como parei depois de chutar o pé do Lucas Scafuto semana passada, deveria ter parado. Tenho conceitos sobre o esporte bem definidos. Na minha idade então, o jogar está muito mais priorizado que o vencer. Se quisesse vencer sempre. Continuaria confortavelmente na defesa. Enfim, ele e todos os outros levaram na esportiva. Mas é sempre algo triste. Fiquei com a impressão que, no duelo de gingas, ele usou o lado luminoso e eu cai na tentação do lado negro. Machucar uma pessoa, ainda mais um amigo, nunca é bom.
Para alívio da minha pesada consciência, Fernando aceitou minhas desculpas. A ginga é forte nele. E isso aí, amigo! Que a ginga esteja com você!

Saldo de 2020
5 jogos
11 gols
Clinton Davisson é jornalista, pós-graduado em educação e mestre em comunicação. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten. Foi roteirista da série Malhação e consultor na elaboração da série Ilha de Ferro da Globoplay. Atualmente trabalhando no piloto da série Baluartes.

2 comentários:

Guilherme Soldati disse...

Stallone jogando soccer deve ser filme de comédia. Não? Hehehehe

Clinton Davisson disse...

Nada, é baseado em uma história real. O Stallone é o goleiro e isso é bem trabalhado no filme