domingo, agosto 18, 2019

Diário de um peladeiro XXII – 5 jogos e 5 gols





Estava ficando repetitivo demais. Sempre falando da preocupação com a minha 6ª vértebra lombar. Sempre falando da pubalgia que não sara nunca. E finalmente, da falta de fôlego e de como fazia falta a bendita academia.
Mas na verdade, eu só parei mesmo com essas crônicas porque desanimei, mesmo. Desanimei de escrever, não de jogar.
Mas enfim, agora estou jogando duas vezes por semana. Uma vez no Aerosoccer (antigo Botafogo), nas quintas-feiras, e uma vez na Faefid da UFJF nos sábados. Se a grana desse, continuaria jogando com o pessoal do ICH no Granbery na segunda. A galera parece legal e como um jornalista e escritor pode deixar passar impune a oportunidade de jogar bola com a galera do Instituto de Ciências Humanas? Me aguardem!
Acho que só não desisti porque havia até uma cobrança dos amigos boleiros pela que os textos continuassem.
 Passados cinco jogos. Foram cinco gols. Teve gol de perna esquerda, de perna direita, gol dentro da área, fora da área. Só faltou o de cabeça, que continua sendo só um este ano. Mas os dois que mais gostei foram chutes de longe. Ambos foram da mesma posição a direita do meio campo. Um foi na quinta-feira, chutei forte, meio de peito de pé, meio de chapa, de direita e a bola não foi tão forte mas pegou um efeito interessante. Foi exatamente no ângulo batendo na trave a minha direita e depois no chão. O goleiro nem esboçou reação. Foi certamente o gol mais bonito deste ano. O outro foi o último. Chutei do mesmo lugar, no campo da Faefid que é maior. Só que a bola não foi pelo alto, ela foi forte, rasteira e, digamos assim, cheia de veneno. O goleiro tentou parar ela com o pé, mas ela passou por debaixo do pé dele. Foi um frango legítimo. Mas quem liga? Gol é gol...
Nesse meio tempo também teve momentos engraçados. Levei um chapéu também bonito, aliás, lindo, no Aerosoccer. Tanto que esqueci que estava como adversário e torci para que se transformasse em gol. Deu “serto”. Foi gol. Depois fiquei fazendo aquilo que mais provoca risos na minha terapeuta. Fiquei filosofando sobre futebol. Porque a capacidade de apreciar um lance bonito pode transcender o fato de estar jogando e que minha função ali era evitar o bendito gol. Acho que fiz errado, claro. Porque se tentasse evitar e ele conseguisse fazer o gol mesmo assim, valorizaria a jogada. Ficar assistindo, é falta de respeito com o seu time e com o adversário. Em se tratando de uma pelada, isso é perdoável, claro. Mas agora que o fôlego voltou, acredito que não se repetirá, mais.
Como sempre reparo, o futebol, assim como vários esportes, são metáforas da vida. Às vezes, somos tentados a ser meros expectadores da nossa vida e ficar assistindo outras pessoas fazerem jogadas bonitas. E por que não? Nada impede de você tirar um tempo, admirar e até incentivar as conquistas dos outros. Mas por mais que isso seja verdade, não pode ser regra. A vida da gente só funciona quando assumimos o nosso protagonismo. Não é errado aplaudir um drible que levamos. Trata-se até de uma virtude. Mas não podemos parar por aí. Temos que fazer também nossos dribles, nossos gols, nossas jogadas de craque. Lembrei disso na última pelada na Faefid. Teve um jogador que ainda não aprendi o nome. É um baixinho e gordinho. Ele tem uma vontade contagiante que acaba incentivando o time a correr mais e a lutar mais. Mas estava no time adversário. Ele deu três belos chutes para gol, mas por acaso, o goleiro naquele momento era eu. Defendi tudo e meu time venceu. Juro que pelo menos dois chutes mereciam entrar. Mas a minha função era não deixar entrar. Cumpri com honras. Minha maneira de honrar o futebol e a vontade daquele jogador foi defender seus chutes. Assim é o futebol. Assim é a vida.
Também dei meus dribles, dei muitos passes para gols. Como já disse, fiz umas ótimas defesas no gol, com direito a ponte, braço trocado e defesas de reflexo. Mas o que mais gostei foi poder voltar a correr o campo todo. Ter fôlego. Um segredo foi uma solução simples do meu querido otorrino, ex-vereador e ex-secretário de saúde de Macaé, Pedro Reis, que aconselhou a usar soro fisiológico regularmente. Isso deu uma diminuída de 80% na minha alergia e agora quando respiro, o tal do oxigênio entra nos meus pulmões. Enfim, não era só a idade. Graças aos deuses e a ciência.

Saldo de 2019:
28 jogos
20 gols
Clinton Davisson é jornalista, mestre em comunicação, pesquisador, roteirista e escritor. Autor de quatro livros, sendo um deles “Fáfia – A Copa do Mundo de 2022”, que será relançado este ano.

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