terça-feira, junho 02, 2009

Outlander – Guerreiro vs predador



Boa história e ótimos atores em um filme com cara de anos 80

Na Noruega no ano 700, uma nave espacial pilotada por Kainan (James Caviezel) cai entre os nórdicos do passado. Pra piorar, o astronauta também descobre que não foi o único sobrevivente. Um segundo passageiro, da raça Moorwen também emerge dos escombros. Um tipo de animal feroz e sanguinário, o Moorwen quer destruir todos os que considera inimigos ou saborosos. Assim, Kainan precisa unir-se aos vikings e unir sua tecnologia às armas dos guerreiros para enfrentar o monstro antes que ele destrua a todos.
Aos poucos, vamos entendendo a história verdadeira dos dois alienígenas. Apesar de ser um sanguinário comedor de gente, o monstro Moorwen não era simplesmente um monstro mal, mas uma criatura sobrevivente de um planeta dizimado pela raça de Kainan sem de maneira ecologicamente incorreta.
Ainda assim, a criatura vai aprender que, por mais que o protagonista esteja errado, jamais se deve devorar a família do herói em um filme de ação norte-americano.
Com uma idéia inusitada e até certo ponto original, Outlander consegue ser uma eficiente mistura de 13º Guerreiro com O Predador. Semelhança forçada ainda mais com o título nacional que o filme recebeu. O elenco traz pesos pesados como James Caviezel (o Jesus de A Paixão de Cristo), Ron Perlman (o Hellboy que fica mais feio ainda quando não está de máscara) e John Hurt (excelente ator que virou o velhinho da vez em Hollywood depois que Sean Connery se aposentou e Ian McKeley ficou muito caro).
Estranhamente o filme não foi levado muito a sério e foi lançado direto em dvd. A crítica não gostou. Realmente fica difícil entender por que Ron Perlman aceitou um papel onde entra mudo e sai calado. Até porque ele não fazia isso antes do sucesso de Hellboy. Mas o resultado final não é ruim, mas um filme, no mínimo, interessante. Quem gosta de ficção científica costuma dizer que até quando o filme é ruim, é bom. Mas Outlander dispensa esse “recurso” e não só cumpre muito bem sua função de entreter, como consegue fazer lembrar um tempo onde produções do gênero não precisavam ser trilogias ou ter três horas de duração para agradar. Há algo incrivelmente anos 80 no filme, principalmente na preocupação de contar apenas uma boa história sem a pretensão de querer fazer daquilo um marco do cinema.
A produção é feita pelo mesmo Barrie Osborne que também assina nada menos do que O Senhor dos Anéis. Mas, graças a Deus, o filme passa longe de tentar imitar os clichês da criação de Peter Jackson. Nada de longos travelings com pessoas andando ou cavalgando com paisagens deslumbrantes ao fundo. Nada de personagens que parecem ter toda uma história por trás, mas que ainda não foi contada. Outlander é um filme que conquista pela simplicidade (tá, a simplicidade irrita também em casos como a já citada falta de aproveitamento de Ron Perlman).
O monstro, apesar de ser feito em computação gráfica, aparece pouco até ser mostrado no final em toda a sua... monstruosidade? E a produção parece ter gasto boa parte do dinheiro no elenco, deixando o resto com um jeitão deliciosamente trash. Tudo isso conspira para que Outlander pareça ter saído de uma máquina do tempo, direto da época onde produções como O Feitiço de Áquila ou Krull podiam se dar ao luxo de fugir do pedantismo se apresentar honestamente como filmes de aventura.
Com o modismo de reviravoltas mirabolantes que vem tomando as produções hollywoodianas nos últimos tempos, é difícil explicar a alegria que tomou conta de mim quando comprovei que o Moorwen não era pai, mãe ou filho de Kainan, nem houve um flashback mostrando como Kainan se transformava no Moorwen quando o público não estava vendo, muito menos que os vinkings viviam em alguma dimensão paralela da Matrix. Só essa honestidade do filme já vale o dinheiro da locação. Coloca aí também a deliciosa ruiva Sophia Myles fazendo papel de guerreira/princesa com muita competência e temos um filme que vale a pena ser visto e até comprado em dvd.

Devoradores de mortos



Livro mostra a rotina dos vikings pelo ponto de vista de um árabe

Por Clinton Davisson

No século X, quando os árabes eram o povo mais evoluído do planeta, o diplomata Ibn Fadlan levava uma vida boa até se meter com a mulher de um xeique rico que era amigo do califa. Como castigo, ele é mandado em uma missão pelo mundo bárbaro: fazer contato com o rei dos búlgaros. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e em uma bela manhã de sol, Ibn vai parar em um confronto entre vikings e uma misteriosa tribo do que parecem ser os últimos neandertais na Terra.
Tudo isso seria uma boa sinopse para uma história comum, mas estamos falando de um relato real ocorrido em 922 DC. Ao menos é o que tenta nos fazer acreditar o livro. O documento foi guardado e traduzido durante quase mil anos até que em 1976, o escritor Michael Crichton (falecido em novembro de 2008, vítima de câncer), um dos gênios mais oportunistas da cultura pop recente, teve a idéia de juntar os relatos e transforma-los em uma história cheia de ação e aventura. O resultado é um livro curto, detalhado e envolvente, com relatos incríveis sobre a cultura, o modo de vida, organização e até hábitos de higiene dos famosos guerreiros louros das regiões geladas da Europa.

Verdade ou mentira?

Ahmad ibn Fadlān ibn al-Abbās ibn Rašīd ibn Hammād realmente existiu e realmente visitou a Europa no século X. O encontro com o povo Rus (daí vem o nome Rússia) também é verídico. Mas quando o livro e o filme entram na história de Bewulf, vira ficção. Mas tudo em nome do entretenimento e boa parte da divertida narrativa é realmente baseada nos relatos de Fadlan. A cerimônia de funeral vinking é um bom exemplo. Além da famosa fogueira sob a água mostrada em diversos filmes e livros, há detalhes interessantes como escravas que se oferecem para morrer ao lado do corpo do guerreiro.
Os hábitos higiênicos (ou a ausência deles) merecem uma atenção especial do narrador. Acostumado aos banhos regulares e a veneração exagerada às mulheres típica da cultura muçulmana, Ibn inicialmente se surpreende e se revolta com o hábito das mulheres de mostrar seus rostos publicamente, mas depois acaba aderindo aos costumes locais ao desfrutar sexualmente das escravas. Como também os nórdicos não se lavavam mesmo depois de ir ao banheiro, o árabe confessa que teve que prender a respiração para transar com a escrava e suportar o mau cheiro.
Mas Devoradores de Mortos não é apenas um relato documental, o livro também conta com bons personagens como Buliwyf, o chefe dos guerreiros que mostra curiosidade em relação a figura e aos conhecimentos do estrangeiro que sabe “desenhar sons” ou seja, ler e escrever. A trama traz mistérios a serem desvendados: um estranho grupo de monstros, os devoradores de mortos do título, aterroriza um povoado. Eles moram no topo de um vulcão e nunca ninguém os viu de perto.
Para complicar a situação, Wigliff, o próprio filho do rei da tribo se torna uma ameaça, pois o temor em relação a Buliwyf tomar o trono para si é grande. O plano de Buliwyf para intimidar o príncipe é tão genial quanto absurdo: provocar uma briga entre o mais forte e jovem guerreiro local e o experiente Hyglak. O resultado do combate é surpreendente.

O filme

Embalado pelo sucesso de A Máscara do Zorro, o espanhol Antônio Banderas protagonizou em 1999 o filme O 13º Guerreiro, uma adaptação bem fiel ao livro de Crichton. Nem a crítica, nem o público se empolgaram dando um banho de água fria nas carreiras tanto do ator quanto o diretor John McTiernan que estava já em decadência. Ainda assim é uma produção cultuada nos dias de hoje e a renda de quase U$$ 90 milhões não é considerada um fracasso total.
O fato é que, para quem leu o livro “Devoradores de Mortos”, assistir ao “13º Guerreiro” é algo praticamente obrigatório. A recíproca também é verdadeira: se você gostou do filme e gosta de uma boa leitura, vá correndo comprar o livro.